Murilo Resende Ferreira |
Uma das fontes de inspiração do novo diretor de Avaliação de Ensino Básico do Inep, Murilo Resende Ferreira, foi também referência intelectual de Anders Breivik, terrorista que, em julho de 2011, foi o autor do maior ataque em solo norueguês desde a Segunda Guerra Mundial.
Breivik planejou a explosão de um carro-bomba, em Oslo, e um atentado contra jovens do Partido Trabalhista norueguês, que participavam de um encontro na ilha de Utoya, matando 77 pessoas e ferindo mais de cinquenta. Um dos mentores intelectuais do terrorista é Michael Minnicino, norte-americano de extrema-direita autor da teoria conspiratória 'Marxismo cultural', o mesmo escritor que o novo coordenador do Enem é acusado de plagiar.
Murilo Ferreira publicou, em 2018, no site Estudos Nacionais, o artigo "A Escola de Frankfurt: Satanismo, Feiúra e Revolução", texto muito semelhante a "The News Dark Ages: The Frankfurt School and 'Political Crrecteness", de Minnicino, publicado na revista Fidelio, do Schiller Institute, em 1992, e com vários trechos utilizados no manifesto de mais de 1.500 páginas escritas pelo terrorista Breivik e enviado para mais de mil contatos da sua caixa de e-mails antes de cometer os atentados.
Quem chama atenção para a relação intelectual é Eduardo Wolf em artigo publicado neste sábado (12), no site da Veja. Para o doutor em Filosofia pela USP e editor do Estado da Arte, porém, "muito mais grave que o problema legal e formal do provável plágio" praticado por Murilo Ferreira, "é a ligação" do coordenador do Enem "com o conteúdo veiculado no texto": as teorias conspiratórias.
"Desautorizado pelo próprio autor após os ataques de Breivik e considerado “falho” por suas digressões por William S. Lind – que, juntamente com Pat Buchanan, é o maior responsável pela propagação da teoria conspiratória do “marxismo cultural” –, é um verdadeiro assombro que o artigo tenha despertado tal interesse no goiano de 32 anos que terá a realização do Enem entre as suas novas responsabilidades", avalia Wolf.
O filósofo destaca que o trabalho de Minnicino contém uma série de problemas conceituais, além de ser "contaminados" por dados falsos, um deles de que o escritor italiano Umberto Eco seria um "terrorista" influenciador e divulgador das teses frankfurtianas. O mais grave, entretanto, é o posicionamento antissemita.
"Judeus, manipulação da opinião pública, manipulação de campanhas, judeus, manipulação da cultura, judeus – e o órgão precursor da CIA, claro", resume a posição de Minnicino nos seus artigos.
"Se alguém tentasse fazer uma caricatura do que é a patologia das paranoias conspiracionistas, teria dificuldades em chegar perto da realidade do artigo de Minnicino plagiado/“traduzido” com entusiasmo aprovação e identificação pelo novo coordenador do Enem. Como se vê, plágio é o menor dos problemas de Murilo Resende Ferreira para manter-se no cargo", completa Wolf.
O filósofo conclui que, antes mesmo do escândalo do plágio de um "conteúdo paranoico e antissemita", circulava na internet "outras pérolas” do novo responsável pela prova do Enem.
Murilo Ferreira, fez declarações incoerentes afirmando que René Descartes, filósofo francês do século XVII, foi o pai da "ideologia de gênero", disse que Raskolnikov, personagem de Crime e Castigo, de Dostoiévski, foi um "típico esquerdista" influenciado por Nietzsche, esquecendo-se do detalhe de que o romance russo foi publicado em 1866, antes da primeira publicação do filósofo e poeta alemão.
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