Por Elaine Tavares, no blog Palavras Insurgentes:
Jornal Nacional. Rede Globo. O presidente da Vale fala por um tempo gigante, a considerar o valor do tempo num jornal global. Repete insistentemente que o que houve em Brumadinho foi um acidente. Um acidente? Com todos os laudos técnicos que mostram o risco dessas barragens? Com todos os avisos de gente muito especializada que milita nos movimentos? Com a trágica experiência de Mariana? Acidente? Foi um crime.
Na hora em que vi aquela cena grotesca, sem a interferência de nenhum jornalista, questionando e apontando as contradições, fui tomada pelo ódio, a indignação. Mas, passado o estupor inicial, a cabeça esfria e a gente começa a pensar. Nada poderia ser diferente. A mídia comercial é braço armado do capital. Jamais encontraremos ali a crítica ou o contraditório. Pode escapar, é verdade, nas brechas que naturalmente os fatos apresentam. Mas, é só isso mesmo. Escapadas, rápidas e sem ligação, coisa que pode tornar bem difícil o entendimento da totalidade do fato.
Isso nos leva a um debate que raramente as forças da esquerda fazem: a necessidade de uma imprensa de classe. O máximo que temos visto nos sindicatos de jornalistas, de radialistas, nos movimentos que atuam no âmbito da comunicação é a discussão sobre liberdade de imprensa. Ora, colegas. Por favor.
Não existe liberdade de imprensa, nem aqui, nem na China, nem em lugar nenhum. O que existe é imprensa de classe. E qual é a classe que domina a mídia? No mundo em geral é a classe dos endinheirados, dos artífices e gestores do capital.
Nós, no Brasil, nunca conseguimos avançar para a construção de uma imprensa de classe. Nem mesmo nos 15 anos que tivemos o Partido dos Trabalhadores no poder. Absolutamente nada foi feito nesse sentido. Pelo contrário. Durante o governo de Lula a própria Globo acabou sendo salva e todos devem se lembrar do presidente no velório de Roberto Marinho, consternado. Também não é pouco que a gente lembre sobre a tão sonhada Conferência Nacional de Comunicação, na qual o governo nos impôs uma derrota, colocando junto os empresários e permitindo que eles dessem a direção para o debate. Praticamente nada foi mexido na estrutura das comunicações no Brasil. Nem mesmo o tema das outorgas foi tocado. O estado, na mão do PT, seguiu rezando pela cartilha empresarial. O resultado disso vimos agora, quando a classe trabalhadora estava desguarnecida de veículos de massa para fazer frente a avalanche conservadora.
É mais do que hora de ultrapassarmos esse discurso liberal de “democratização das comunicações”. Isso nunca acontecerá no âmbito do capital. Porque esse sistema não está aí para brincadeiras e só solta alguns anéis se tem uma ameaça muito grande diante dele. Hoje, ao que parece, não existe nada no horizonte. Então, não virá nada. Pelo contrário. Quando o capital corre livre, sem inimigos de peso, ele não concede um centímetro. Ele aplasta! Vejam que já se configura a vinda da CNN para o Brasil. O tentáculo mais manipulador do sistema. Esse povo não brinca em serviço.
E pensar que quando o governo petista teve a chance de colocar como canal aberto a Telesur, rede televisiva de classe, não o fez. Nunca avançou um milímetro no sentido de trazer a América Latina para dentro do Brasil.
No que diz respeito ao campo dos trabalhadores tampouco se conseguiu avançar, mesmo nos anos de maior ascensão das lutas sociais. Jamais se chegou a um jornal de alcance nacional e o mais próximo disso que tivemos - que foi o Brasil de Fato - acabou se esboroando, justamente por falta de uma compreensão mais classista por parte dos inúmeros movimentos sociais e militantes populares. O que restou foram os grupos de mídia alternativa, comunitária, popular e independente, que vão se arrastando conforme podem, com pouco poder de fogo diante da maquinária capitalista. É muito difícil enfrentar com uma rádio comunitária, uns 30 segundos num jornal noturno de uma rede de televisão que abocanha o país inteiro. O poder do capital é avassalador.
Em Santa Catarina vivemos o mesmo dilema. Temos uma imprensa ridícula, cada dia mais vazia de qualidade. Só nos últimos meses foram demitidos dezenas de jornalistas do grupo hegemônico, ex RBS, atual NSC. Precarizam-se as relações de trabalho, aumenta a exploração dos trabalhadores e a comunidade fica cada dia mais refém de uma comunicação pífia e manipuladora. Assistir um jornal televisivo é de chorar. O pensamento crítico passa longe. Não há sequer boas perguntas, matéria prima básica do bom jornalista. É uma vergonha. Mas, ainda assim temos muitos sindicatos, e movimentos, e parlamentares que preferem assinar um jornal da imprensa comercial que investir nas propostas de comunicação populares que teimam em existir, ainda que em difíceis condições.
Creio que é tempo de aprendermos a lição. Façamos a autocrítica e caminhemos no sentido de construir uma imprensa de classe. Da classe trabalhadora. Já basta de querer melhorar o capitalismo, basta de pensar que pode ele ser humanizado. Não pode. Por isso a comunicação não será democratizada. Há que mudar o modo de organizar a vida e enquanto isso não vem, fortaleçamos a imprensa de classe. É isso, ou morte.
Jornal Nacional. Rede Globo. O presidente da Vale fala por um tempo gigante, a considerar o valor do tempo num jornal global. Repete insistentemente que o que houve em Brumadinho foi um acidente. Um acidente? Com todos os laudos técnicos que mostram o risco dessas barragens? Com todos os avisos de gente muito especializada que milita nos movimentos? Com a trágica experiência de Mariana? Acidente? Foi um crime.
Na hora em que vi aquela cena grotesca, sem a interferência de nenhum jornalista, questionando e apontando as contradições, fui tomada pelo ódio, a indignação. Mas, passado o estupor inicial, a cabeça esfria e a gente começa a pensar. Nada poderia ser diferente. A mídia comercial é braço armado do capital. Jamais encontraremos ali a crítica ou o contraditório. Pode escapar, é verdade, nas brechas que naturalmente os fatos apresentam. Mas, é só isso mesmo. Escapadas, rápidas e sem ligação, coisa que pode tornar bem difícil o entendimento da totalidade do fato.
Isso nos leva a um debate que raramente as forças da esquerda fazem: a necessidade de uma imprensa de classe. O máximo que temos visto nos sindicatos de jornalistas, de radialistas, nos movimentos que atuam no âmbito da comunicação é a discussão sobre liberdade de imprensa. Ora, colegas. Por favor.
Não existe liberdade de imprensa, nem aqui, nem na China, nem em lugar nenhum. O que existe é imprensa de classe. E qual é a classe que domina a mídia? No mundo em geral é a classe dos endinheirados, dos artífices e gestores do capital.
Nós, no Brasil, nunca conseguimos avançar para a construção de uma imprensa de classe. Nem mesmo nos 15 anos que tivemos o Partido dos Trabalhadores no poder. Absolutamente nada foi feito nesse sentido. Pelo contrário. Durante o governo de Lula a própria Globo acabou sendo salva e todos devem se lembrar do presidente no velório de Roberto Marinho, consternado. Também não é pouco que a gente lembre sobre a tão sonhada Conferência Nacional de Comunicação, na qual o governo nos impôs uma derrota, colocando junto os empresários e permitindo que eles dessem a direção para o debate. Praticamente nada foi mexido na estrutura das comunicações no Brasil. Nem mesmo o tema das outorgas foi tocado. O estado, na mão do PT, seguiu rezando pela cartilha empresarial. O resultado disso vimos agora, quando a classe trabalhadora estava desguarnecida de veículos de massa para fazer frente a avalanche conservadora.
É mais do que hora de ultrapassarmos esse discurso liberal de “democratização das comunicações”. Isso nunca acontecerá no âmbito do capital. Porque esse sistema não está aí para brincadeiras e só solta alguns anéis se tem uma ameaça muito grande diante dele. Hoje, ao que parece, não existe nada no horizonte. Então, não virá nada. Pelo contrário. Quando o capital corre livre, sem inimigos de peso, ele não concede um centímetro. Ele aplasta! Vejam que já se configura a vinda da CNN para o Brasil. O tentáculo mais manipulador do sistema. Esse povo não brinca em serviço.
E pensar que quando o governo petista teve a chance de colocar como canal aberto a Telesur, rede televisiva de classe, não o fez. Nunca avançou um milímetro no sentido de trazer a América Latina para dentro do Brasil.
No que diz respeito ao campo dos trabalhadores tampouco se conseguiu avançar, mesmo nos anos de maior ascensão das lutas sociais. Jamais se chegou a um jornal de alcance nacional e o mais próximo disso que tivemos - que foi o Brasil de Fato - acabou se esboroando, justamente por falta de uma compreensão mais classista por parte dos inúmeros movimentos sociais e militantes populares. O que restou foram os grupos de mídia alternativa, comunitária, popular e independente, que vão se arrastando conforme podem, com pouco poder de fogo diante da maquinária capitalista. É muito difícil enfrentar com uma rádio comunitária, uns 30 segundos num jornal noturno de uma rede de televisão que abocanha o país inteiro. O poder do capital é avassalador.
Em Santa Catarina vivemos o mesmo dilema. Temos uma imprensa ridícula, cada dia mais vazia de qualidade. Só nos últimos meses foram demitidos dezenas de jornalistas do grupo hegemônico, ex RBS, atual NSC. Precarizam-se as relações de trabalho, aumenta a exploração dos trabalhadores e a comunidade fica cada dia mais refém de uma comunicação pífia e manipuladora. Assistir um jornal televisivo é de chorar. O pensamento crítico passa longe. Não há sequer boas perguntas, matéria prima básica do bom jornalista. É uma vergonha. Mas, ainda assim temos muitos sindicatos, e movimentos, e parlamentares que preferem assinar um jornal da imprensa comercial que investir nas propostas de comunicação populares que teimam em existir, ainda que em difíceis condições.
Creio que é tempo de aprendermos a lição. Façamos a autocrítica e caminhemos no sentido de construir uma imprensa de classe. Da classe trabalhadora. Já basta de querer melhorar o capitalismo, basta de pensar que pode ele ser humanizado. Não pode. Por isso a comunicação não será democratizada. Há que mudar o modo de organizar a vida e enquanto isso não vem, fortaleçamos a imprensa de classe. É isso, ou morte.
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