Por Guilherme Boulos, na revista CartaCapital:
Os primeiros 80 dias do ano expuseram um manancial de revelações sobre o alcance político das milícias cariocas. Do caso Queiroz às prisões recentes dos acusados de assassinar Marielle Franco revelam-se conexões escandalosas entre milicianos e o poder político.
Essas relações foram denunciadas pelo PSOL há muito tempo, desde a CPI das Milícias. Agora atingem, porém, um novo patamar e se aproximam perigosamente do grupo alojado no Palácio do Planalto. A cada dia que passa, o noticiário mais parece com um daqueles filmes policiais sobre famílias mafiosas e crimes quase perfeitos.
O último capítulo foi a prisão de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, apontados como os executores de Marielle Franco. Conhecido matador de aluguel no Rio de Janeiro, Lessa perdeu uma das pernas em 2008, quando seu carro explodiu em um atentado. Foram encontrados 117 fuzis em seu apartamento. Sua prisão aconteceu a poucos metros da casa do presidente da República: o acusado de ter disparado os 13 tiros que mataram Marielle e seu motorista, Anderson Gomes, era praticamente vizinho de porta de Jair Bolsonaro. O próprio delegado das investigações admitiu que a filha de Lessa chegou a namorar Renan Bolsonaro, filho mais novo do presidente.
Apontado como motorista do crime, Élcio Queiroz foi expulso da Polícia Militar, em 2016, por ligações com as milícias e havia sido preso em uma investigação de contrabando de armas e máfias de caça-níqueis, no Rio de Janeiro. Logo após a prisão, uma foto em que aparece abraçado com Jair Bolsonaro foi rapidamente encontrada nas redes sociais e correu o mundo.
Ou seja, um ano depois do bárbaro assassinato de Marielle e Anderson, o Brasil acordava com a notícia de que um dos acusados do crime morava no mesmo condomínio que o presidente da República e o outro tinha fotos com ele. A imagem e a vizinhança não são, no entanto, os maiores indícios. Como disse Bolsonaro, foto pode-se tirar com muita gente. O mesmo não se pode dizer de defesas públicas, homenagens e empregos no gabinete.
Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro e amigo íntimo de seu pai desde os anos 1980, é investigado por movimentações milionárias e desvio de salários de gabinete. As transações suspeitas incluem até um cheque de 24 mil reais para a primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Assim que a notícia veio à tona, Queiroz escondeu-se da mídia e do Ministério Público em Rio das Pedras, a mais antiga área de domínio das milícias no Rio de Janeiro.
Foragido desde o mandado de prisão, em janeiro, feito pela investigação do caso Marielle, o ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega é acusado há mais de uma década de envolvimento em homicídios e por comandar a milícia de Rio das Pedras. Nóbrega é apontado também como chefe de uma organização de matadores de aluguel conhecida como Escritório do Crime. Segundo o jornal Extra, as investigações apontam que Ronnie Lessa também integra a organização.
Por duas vezes, Flávio Bolsonaro homenageou Nóbrega na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Bolsonaro pai defendeu-o em um discurso público na Câmara dos Deputados. Para completar, Flávio empregou a mãe e a esposa do ex-policial em seu gabinete até novembro do ano passado. Por fim, a mãe de Nóbrega é sócia de um restaurante que fica em frente à agência bancária da maior parte dos depósitos feitos pelo ex-assessor Queiroz. Coincidências?
As investigações não cansam de mostrar conexões entre a família Bolsonaro e o submundo das milícias. Fotografias, homenagens, medalhas, defesas públicas, cargos em gabinete, vizinhanças e relações familiares compõem um quebra-cabeça do qual ainda não temos ideia do tamanho ou do resultado final.
Logo que Marielle foi assassinada, Jair Bolsonaro recusou-se a lamentar sua morte e um assessor explicou que a opinião dele seria “polêmica demais”. Hoje, quase não restam mais dúvidas de que a vereadora foi assassinada por um grupo profissional ligado às milícias fluminenses. Enquanto não soubermos quem mandou matá-la e quais as relações entre Queiroz, as milícias e a família Bolsonaro, o cheiro de que há coincidências e sujeira demais neste conjunto de fatos vai permanecer.
Essas relações foram denunciadas pelo PSOL há muito tempo, desde a CPI das Milícias. Agora atingem, porém, um novo patamar e se aproximam perigosamente do grupo alojado no Palácio do Planalto. A cada dia que passa, o noticiário mais parece com um daqueles filmes policiais sobre famílias mafiosas e crimes quase perfeitos.
O último capítulo foi a prisão de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, apontados como os executores de Marielle Franco. Conhecido matador de aluguel no Rio de Janeiro, Lessa perdeu uma das pernas em 2008, quando seu carro explodiu em um atentado. Foram encontrados 117 fuzis em seu apartamento. Sua prisão aconteceu a poucos metros da casa do presidente da República: o acusado de ter disparado os 13 tiros que mataram Marielle e seu motorista, Anderson Gomes, era praticamente vizinho de porta de Jair Bolsonaro. O próprio delegado das investigações admitiu que a filha de Lessa chegou a namorar Renan Bolsonaro, filho mais novo do presidente.
Apontado como motorista do crime, Élcio Queiroz foi expulso da Polícia Militar, em 2016, por ligações com as milícias e havia sido preso em uma investigação de contrabando de armas e máfias de caça-níqueis, no Rio de Janeiro. Logo após a prisão, uma foto em que aparece abraçado com Jair Bolsonaro foi rapidamente encontrada nas redes sociais e correu o mundo.
Ou seja, um ano depois do bárbaro assassinato de Marielle e Anderson, o Brasil acordava com a notícia de que um dos acusados do crime morava no mesmo condomínio que o presidente da República e o outro tinha fotos com ele. A imagem e a vizinhança não são, no entanto, os maiores indícios. Como disse Bolsonaro, foto pode-se tirar com muita gente. O mesmo não se pode dizer de defesas públicas, homenagens e empregos no gabinete.
Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro e amigo íntimo de seu pai desde os anos 1980, é investigado por movimentações milionárias e desvio de salários de gabinete. As transações suspeitas incluem até um cheque de 24 mil reais para a primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Assim que a notícia veio à tona, Queiroz escondeu-se da mídia e do Ministério Público em Rio das Pedras, a mais antiga área de domínio das milícias no Rio de Janeiro.
Foragido desde o mandado de prisão, em janeiro, feito pela investigação do caso Marielle, o ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega é acusado há mais de uma década de envolvimento em homicídios e por comandar a milícia de Rio das Pedras. Nóbrega é apontado também como chefe de uma organização de matadores de aluguel conhecida como Escritório do Crime. Segundo o jornal Extra, as investigações apontam que Ronnie Lessa também integra a organização.
Por duas vezes, Flávio Bolsonaro homenageou Nóbrega na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Bolsonaro pai defendeu-o em um discurso público na Câmara dos Deputados. Para completar, Flávio empregou a mãe e a esposa do ex-policial em seu gabinete até novembro do ano passado. Por fim, a mãe de Nóbrega é sócia de um restaurante que fica em frente à agência bancária da maior parte dos depósitos feitos pelo ex-assessor Queiroz. Coincidências?
As investigações não cansam de mostrar conexões entre a família Bolsonaro e o submundo das milícias. Fotografias, homenagens, medalhas, defesas públicas, cargos em gabinete, vizinhanças e relações familiares compõem um quebra-cabeça do qual ainda não temos ideia do tamanho ou do resultado final.
Logo que Marielle foi assassinada, Jair Bolsonaro recusou-se a lamentar sua morte e um assessor explicou que a opinião dele seria “polêmica demais”. Hoje, quase não restam mais dúvidas de que a vereadora foi assassinada por um grupo profissional ligado às milícias fluminenses. Enquanto não soubermos quem mandou matá-la e quais as relações entre Queiroz, as milícias e a família Bolsonaro, o cheiro de que há coincidências e sujeira demais neste conjunto de fatos vai permanecer.
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