Por Isaías Dalle, no site da Fundação Perseu Abramo:
Dá para ganhar essa. É possível derrubar a proposta de contrarreforma da Previdência feita pelo governo federal. Essa sensação, a de que o jogo não está perdido, é seguramente um dos efeitos provocados pelo ato que encerrou, na noite de ontem, na Avenida Paulista, o Dia Nacional de Luta em Defesa da Previdência, convocado pelas centrais sindicais e pelos movimentos sociais.
Catorze dias depois das manifestações do 8 de Março, os atos realizados na última sexta-feira, em mais de 120 cidades brasileiras, fazem parecer que o período de ressaca pós-eleição está sendo superado. Talvez em velocidade menor do que a brusca queda de popularidade do governo nas pesquisas, mas o fato é que a insatisfação popular vai se organizando nas ruas.
O início do ato na Paulista estava marcado para as 17 horas. Mais ou menos neste instante, chamava a atenção e balançava pés e quadris o samba-enredo da campeã Mangueira, propagado pelo único carro de som postado diante do Masp: “Brasil, meu nego/Deixa eu te contar/A história que a história não conta/O avesso do mesmo lugar/Na luta é que a gente se encontra/Brasil, meu dengo”.
Não foi o único momento em que o Carnaval 2019 deu as caras ali na avenida. Por volta de oito da noite, enquanto lideranças sindicais e partidárias vociferavam críticas ao presidente da República e aos projetos do atual governo, os 70 mil presentes – segundo estimativas dos organizadores do ato – entoaram uma sonora sequência de “Ei, Bolsonaro, vai tomar no c...”, repetindo o que haviam feito foliões por todo o Brasil durante a festa de Momo.
Em meio à fumaceira exalada das barracas de churrasquinho, à oferta de bebidas em caixas de isopor e sob um céu de chumbo que resolveu não desabar naquele fim de tarde, frustrando os ambulantes que vendiam capas e guarda-chuvas, nesse embalo os dirigentes que se revezavam ao microfone vaticinaram: se o governo insistir em querer aprovar a proposta que muda as regras das aposentadorias e afetam o sistema de Seguridade Social como um todo, vai ter greve geral no Brasil.
“Temos uma grande chance de derrubar essa reforma”, afirmou Vagner Freitas, presidente da CUT, quase ao final do ato. “Se for votar a proposta, vamos fazer a maior greve geral da história deste país”, disse ainda o dirigente, para quem esta será a primeira grande derrota do governo.
É muito provável que se precipite aquele que considerar bravata essa fala do dirigente da CUT. O que se viu na Paulista e em diversas cidades brasileiras ontem foi uma demonstração de energia e capacidade mobilizadora algo surpreendente.
O momento é outro. Os ataques desferidos desde o período Temer contra os movimentos sociais e o sindicalismo puderam ser notados na Paulista, sim, na figura do solitário caminhão de som – em outros tempos, costumavam ser ao menos três – e na ausência da miríade de bonés e camisetas distribuídos pelas centrais, assim como na falta dos ônibus outrora alugados para trazer delegações de outras localidades da região metropolitana. Eles não estavam estacionados nas ruas paralelas e transversais, como antigamente.
Portanto, os críticos dos “mortadelas” devem ter ficado surpresos com a afluência do povo até o tradicional vão do Masp, esparramando-se com o correr dos minutos pelas duas faixas da Paulista, entre as alamedas Casa Branca e Ministro Rocha Azevedo. Esses críticos torceram o nariz ao passar pelo fumacê das barracas de churrasquinho e provavelmente sentiram-se reconfortados ao ver que os jornalões impressos, salvo Folha de S. Paulo, ignoraram solenemente a manifestação. Torceram para que os parcos 21 segundos dedicados ao ato pela segunda edição do telejornal SP TV passassem despercebidos. Mas o espanto deles podia ser visto nos rostos contrariados de engravatados e madames apressados pelas calçadas.
Com entonação de voz e gestos perceptivelmente inspirados na figura do presidente Lula, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos, destacou-se sobre o caminhão de som. Ao chamar o governo federal de “covarde” por não taxar os bancos e não cobrar as dívidas das empresas com a Previdência, foi bastante aplaudido.
(Por falar em Lula, ele esteve quase onipresente em faixas, camisetas, cartazes e nos discursos).
O líder dos sem-teto também acusou o governo de “povofobia” e de sujeição aos Estados Unidos. Ao lembrar que o atual presidente afirmou nas redes sociais que as crianças de famílias que recebem ou receberam o Bolsa Família sofrem de baixo desenvolvimento intelectual e cognitivo, Boulos disparou: "Se tem alguém neste país com baixo desenvolvimento intelectual, está no Palácio do Planalto". A plateia de manifestantes veio abaixo.
Dá para ganhar essa. É possível derrubar a proposta de contrarreforma da Previdência feita pelo governo federal. Essa sensação, a de que o jogo não está perdido, é seguramente um dos efeitos provocados pelo ato que encerrou, na noite de ontem, na Avenida Paulista, o Dia Nacional de Luta em Defesa da Previdência, convocado pelas centrais sindicais e pelos movimentos sociais.
Catorze dias depois das manifestações do 8 de Março, os atos realizados na última sexta-feira, em mais de 120 cidades brasileiras, fazem parecer que o período de ressaca pós-eleição está sendo superado. Talvez em velocidade menor do que a brusca queda de popularidade do governo nas pesquisas, mas o fato é que a insatisfação popular vai se organizando nas ruas.
O início do ato na Paulista estava marcado para as 17 horas. Mais ou menos neste instante, chamava a atenção e balançava pés e quadris o samba-enredo da campeã Mangueira, propagado pelo único carro de som postado diante do Masp: “Brasil, meu nego/Deixa eu te contar/A história que a história não conta/O avesso do mesmo lugar/Na luta é que a gente se encontra/Brasil, meu dengo”.
Não foi o único momento em que o Carnaval 2019 deu as caras ali na avenida. Por volta de oito da noite, enquanto lideranças sindicais e partidárias vociferavam críticas ao presidente da República e aos projetos do atual governo, os 70 mil presentes – segundo estimativas dos organizadores do ato – entoaram uma sonora sequência de “Ei, Bolsonaro, vai tomar no c...”, repetindo o que haviam feito foliões por todo o Brasil durante a festa de Momo.
Em meio à fumaceira exalada das barracas de churrasquinho, à oferta de bebidas em caixas de isopor e sob um céu de chumbo que resolveu não desabar naquele fim de tarde, frustrando os ambulantes que vendiam capas e guarda-chuvas, nesse embalo os dirigentes que se revezavam ao microfone vaticinaram: se o governo insistir em querer aprovar a proposta que muda as regras das aposentadorias e afetam o sistema de Seguridade Social como um todo, vai ter greve geral no Brasil.
“Temos uma grande chance de derrubar essa reforma”, afirmou Vagner Freitas, presidente da CUT, quase ao final do ato. “Se for votar a proposta, vamos fazer a maior greve geral da história deste país”, disse ainda o dirigente, para quem esta será a primeira grande derrota do governo.
É muito provável que se precipite aquele que considerar bravata essa fala do dirigente da CUT. O que se viu na Paulista e em diversas cidades brasileiras ontem foi uma demonstração de energia e capacidade mobilizadora algo surpreendente.
O momento é outro. Os ataques desferidos desde o período Temer contra os movimentos sociais e o sindicalismo puderam ser notados na Paulista, sim, na figura do solitário caminhão de som – em outros tempos, costumavam ser ao menos três – e na ausência da miríade de bonés e camisetas distribuídos pelas centrais, assim como na falta dos ônibus outrora alugados para trazer delegações de outras localidades da região metropolitana. Eles não estavam estacionados nas ruas paralelas e transversais, como antigamente.
Portanto, os críticos dos “mortadelas” devem ter ficado surpresos com a afluência do povo até o tradicional vão do Masp, esparramando-se com o correr dos minutos pelas duas faixas da Paulista, entre as alamedas Casa Branca e Ministro Rocha Azevedo. Esses críticos torceram o nariz ao passar pelo fumacê das barracas de churrasquinho e provavelmente sentiram-se reconfortados ao ver que os jornalões impressos, salvo Folha de S. Paulo, ignoraram solenemente a manifestação. Torceram para que os parcos 21 segundos dedicados ao ato pela segunda edição do telejornal SP TV passassem despercebidos. Mas o espanto deles podia ser visto nos rostos contrariados de engravatados e madames apressados pelas calçadas.
Com entonação de voz e gestos perceptivelmente inspirados na figura do presidente Lula, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos, destacou-se sobre o caminhão de som. Ao chamar o governo federal de “covarde” por não taxar os bancos e não cobrar as dívidas das empresas com a Previdência, foi bastante aplaudido.
(Por falar em Lula, ele esteve quase onipresente em faixas, camisetas, cartazes e nos discursos).
O líder dos sem-teto também acusou o governo de “povofobia” e de sujeição aos Estados Unidos. Ao lembrar que o atual presidente afirmou nas redes sociais que as crianças de famílias que recebem ou receberam o Bolsa Família sofrem de baixo desenvolvimento intelectual e cognitivo, Boulos disparou: "Se tem alguém neste país com baixo desenvolvimento intelectual, está no Palácio do Planalto". A plateia de manifestantes veio abaixo.
0 comentários:
Postar um comentário