A recessão de 0,2% no primeiro trimestre é a mais recente notícia ruim para o governo Bolsonaro em geral e para Paulo Guedes em particular.
Ao dar continuidade a política econômica de Temer-Meirelles, apenas radicalizando o que se fazia anteriormente, o novo governo colheu o que plantou. Confirma sua incapacidade de apontar qualquer perspectiva crível de melhora nos próximos meses.
Ao insistir na miragem infantil de que o futuro dos empregos e do crescimento da oitava economia do planeta irá depender exclusivamente da reforma da Previdência, o Planalto não apenas confirma a estreiteza de horizontes intelectuais de Paulo Guedes. Faz uma aposta de altíssimo risco.
A hipótese real de acabar abandonado por um Congresso que não para de emitir sinais de que não irá suicidar-se voluntariamente, por puro espírito de equipe, e já toma distância das ideias mais estúpidas em debate, como a capitalização individual, ameaça marcar o fim precoce de um governo que não conseguiu começar.
A solução-relâmpago de um pacto entre os Três Poderes perdeu qualquer charme em menos de 72 horas, transformando-se na versão século XXI dos Três Patetas da Junta Militar denunciados com humor e coragem por Ulysses Guimarães.
Os sinais externos também não ajudam Bolsonaro. Detalhada, corajosa, a mensagem do Papa Francisco a Lula cobre de vergonha todos aqueles que articularam a perseguição ao maior líder político de nosso tempo, e colheram benefícios com sua exclusão do pleito de 2018.
Há outras tragédias diplomáticas. O golpista Guaidó revelou-se um aliado incapaz e comprometedor. Ao jurar amor eterno a Benjamin Netanyahu, provocando de modo arrogante aliados históricos do Brasil, conquistados após décadas de uma diplomacia independente e responsável no Oriente Médio, Bolsonaro e Ernesto Araújo deixaram claro quem são inocentes inúteis em atividade no país.
A previsível indiferença de Washington a qualquer necessidade real dos brasileiros, o desrespeito aberto por nossa soberania, mostram a futilidade de concessões anunciadas e grandes encomendas já entregues por Brasília, como a Embraer agora transformada em Boeing do Brasil.
A grande derrota de Bolsonaro, o fator decisivo de sua condição, no entanto, encontra-se nas ruas do país.
A gigantesca mobilização de 15 de maio, confirmada pelos combativos protestos de ontem - só não sabe quem não viu - confirma o ponto principal da luta política, hoje, amanhã e depois.
Bolsonaro até conseguiu uma vitória eleitoral em dois turnos, nas circunstâncias que nem é preciso comentar aqui.
Mas as ruas mostram que foi incapaz de impor uma derrota duradoura e profunda à juventude e aos trabalhadores do país.
Numa atitude que desmente a visão de que teria ocorrido no Brasil uma espécie de conversão ideológica à direita, a resistência popular aos abusos, desmandos e ameaças de Bolsonaro & Cia já se tornou o elemento principal da cena política.
Passados apenas cinco meses da posse, essa mobilização alimenta a resistência e terá a última palavra no esforço para defender os direitos da maioria - a começar pela greve geral contra a reforma da Previdência, marcada para sexta-feira, 14. A luta popular cresce e ainda não mostrou toda sua força.
Alguma dúvida?
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