Protesto contra as medidas de Lenin Moreno Foto: Daniel Tapia |
Os protestos da população do Equador, contra um pacote de medidas neoliberais imposto pelo governo e FMI, assumiram caráter semi-insurrecional nesta segunda-feira (7/10). Em Quito, multidões continuaram desafiando o Estado de Emergência e a prisão de mais de 500 pessoas. A greve geral nos transportes prosseguiu. Além disso, centenas de vias continuam interrompidas, há protesto permanente nas ruas e houve tentativa de tomar a sede do Legislativo. A revolta tomou as ruas das principais cidades do país desde quinta-feira (2/10), quando o Executivo anunciou um vasto leque de ações. O aumento (de 123%) preço dos combustíveis, com a retirada de subsídios, é apenas a mais vistosa delas. O pacote inclui uma contrarreforma trabalhista (bastante semelhante à vivida pelo Brasil em 2018), privatizações generalizadas e cortes dos gastos sociais.
O presidente Lenin Moreno fugiu à tarde, do palácio de Carondelet, que estava cercado, e rumou para a cidade portuária de Guayaquil, onde está. Num pronunciamento em rede de TV – ladeado simbolicamente pelo ministro de Defesa e chefes militares, além de seu vice – acusou os que se manifestam de “vandalismo” e “golpe”.
Mas seu principal pesadelo se concretizou. Cumprindo o que havia anunciado na sexta-feira, a Confederação Nacional Indígena do Equador (Conaie) começou a mobilizar dezenas de milhares de indígenas para a capital – repetindo processo idêntico ao que levou à deposição de quatro presidentes, entre 1997 e 2005. Jaime Vargas, líder da organização, anunciou que 20 mil pessoas estavam rumando para Quito – muitas delas em carrocerias de caminhão.
Na Amazônia equatoriana, manifestantes ocuparam as instalações do campo petrolífero de Sacha, interrompendo sua produção de 70 mil barris por dia – cerca de 15% da extração total do país. Os indígenas também retiveram – para em seguida liberar, pacificamente, 50 soldados, que haviam sido interceptados.
Lenin Moreno foi eleito no rastro da “Revolução Cidadã” de seu antecessor, Rafael Correa. Porém, contrariou seu programa desde o primeiro dia de mandato e aproximou-se, em especial, dos Estados Unidos. Reverteu as políticas de resgate dos direitos sociais – culminando agora com o pacote ultracapitalista. Cancelou o asilo político a Julian Assange, na embaixada do Equador em Londres, e o entregou à polícia britânica. Apoiou as tentativas de desestabilizar a Venezuela. Retirou Quito da União das Nações da América do Sul (Unasul) e até da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). A quase-insurreição dos equatorianos e a fuga do presidente são mais um sinal da fragilidade de tais políticas, quando eficazmente enfrentadas.
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