segunda-feira, 16 de março de 2020

Guedes é tão boçal quanto seu chefe

Por Luis Felipe Miguel

A seu modo, Guedes é tão boçal quanto seu chefe. Enquanto Bolsonaro desdenha a pandemia, o ministro resolve apostar no pânico e (desculpem meu francês) tira do cu a informação de que o contágio é mais rápido no Brasil do que em outros países.

E o que ele faz?

Um mea culpa por seu trabalho incansável em prol da destruição do sistema de saúde e do serviço público no Brasil?

Não.

Guedes quer usar a crise do coronavírus para aprovar a toque de caixa o pacote de redução do Estado.

Não importa que o Congresso não possa se reunir para deliberar. Ele quer por que quer que tudo seja aprovado agora.

Parece um menino birrento.

Recita, no meio da entrevista, a frase que algum marqueteiro deve ter inventado para ele: trata-se de "reforçar o sistema imunológico da economia".

Quem para e pensa por meio segundo percebe que esse discurso não tem lógica nenhuma. É puro contrassenso.

A entrevista é tipo: "Ministro, o que podemos fazer para conter o coronavírus?" "Vender a Eletrobrás."

E aí a repórter não questiona o sentido dessa conexão, assim como não questionou a origem e credibilidade dos dados que Guedes apresentou. Sua única preocupação foi a viabilidade da aprovação no atual contexto.

Não tenho nenhum motivo para acreditar que o contágio no Brasil vá ser mais rápido do que na China.

Mas não há dúvida de que estamos no limiar de uma crise sanitária gravíssima.

Enquanto isso, o governo federal fica praticamente inerte, porque o presidente da República vê apenas uma oportunidade para uma escalada autoritária e o ministro todo-poderoso da Economia, para concluir sua obra de destruição do país.

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