Por Juliane Furno, no jornal Brasil de Fato:
Muito se alardeou por aí que a pandemia do coronavírus seria, relativamente democrática, na medida em que crises sanitárias dessa natureza não destingiriam classe social, raça ou gênero.
De fato, o vírus não escolhe o encubado, todos estão sujeitos à sua contração. No entanto, as consequências de tipo de infecção são diferentes em realidades socioeconômicas distintas.
A pandemia do coronavírus tende a alargar o fosso das desigualdades sociais e econômicas em, pelo menos, duas dimensões. A primeira delas é entre os territórios nacionais. Ainda que inicialmente propagada nos países mais ricos, as consequências do contágio sob a saúde e os impactos econômicos são deveras distintos entre as nações.
Isso não é uma novidade, diga-se de passagem. Na crise pandêmica da gripe espanhola no início do século XX e, mais recentemente, do surto de H1N1, afetaram sobremaneira os países mais pobres em relação aos mais ricos. No que tange a H1N1, a taxa de mortalidade na América Latina foi 20x maior se comprada à Europa.
Isso porque a maior incidência de pobreza, subnutrição, menores gastos per capta em saúde e as condições de saneamento básico e de moradia são bastante inferiores nos países subdesenvolvimentos, o que agrava o quadro infeccioso e aumenta as chances de mortalidade.
Do ponto de vista econômico, a persistência de elevadas taxas de desemprego e de trabalho informal também atestam uma maior vulnerabilidade a crises dessa natureza, além de que – em período de crise econômica se elevam as incertezas – o que ocasiona fuga de capitais, acelerando a desvalorização das moedas nacionais e dificultando, ainda mais, a capacidade para importar, aprofundando desequilíbrios externos no balanço de pagamentos.
No que concerne ao Brasil, por exemplo, a crise do coronavírus e as respostas das autoridades nacionais tendem a elevar ainda mais a nossa já escandalosa desigualdade. Principalmente por dois motivos centrais. O primeiro deles é pelo aspecto sanitário. As pessoas mais pobres têm mais chances de não somente contrair a doença quanto morrer por conta dela.
Isso porque procedimentos básicos como acessar água potável constantemente, realizar isolamento social em locais de moradia precária e precisar sair às ruas para ganhar o ganhar pão – já que em geral as pessoas mais pobres trabalham em bicos e outros empregos informais – são empecilhos aos procedimentos sanitários de cuidado pessoal.
Além de mais sujeitos ao contágio, os mais pobres estão mais sujeitos à falta de equipamentos de saúde necessários nos casos mais graves, como acesso à UTI´s na rede pública. O segundo elemento é o propriamente econômico. Em primeiro lugar porque o Brasil já vinha em uma situação de deterioração das condições sociais.
O índice de Gini, que mede desigualdade de renda já tinha se elevado no ano de 2018. Desde o agravamento da crise, a partir de 2015 até 2018, a renda total da população brasileira caiu 2%, ao passo que a renda dos 5% mais pobres desabou 39%. No outro extremo, 18 brasileiros entraram na lista dos bilionários da Revista Forbes em 2019, atestando que em momento de crise e de ajuste fiscal, “o de cima sobe e o de baixo desce”.
É cristalina a correlação entre crises econômicas e o aumento das desigualdades. Quanto maior a crise maior o desemprego e quanto maior o desemprego menos são as médias salariais. A pandemia do coronavírus exacerba qualquer projeção mais pessimista de queda na atividade econômica.
São estimados, pelos menos, uma queda de 5% no PIB brasileiro em 2020. Em uma análise muito pessimista isso representa 2,5 milhões de novos desempregados.
Os principais atingidos pela crise são aqueles que estão no emprego formal e os desempregos, impedidos de realização da própria natureza da atividade econômica que é a compra e a venda de mercadorias e serviços. Ou seja, a renda dessas pessoas terá uma retração expressiva.
Para os que estão no mercado formal mas trabalham no comércio e nos serviços – em geral de maioria feminina – também terão seus rendimentos dirimidos pela MP 936 que permite redução de jornada de trabalho e redução salarial, sem o que governo se comprometa com a integralização do total restante.
Por fim, há uma tendência de concentração de renda também a nível empresarial. Com a maior ausência de demanda, lojas e empresas tendem a reduzir seus preços para manter um nível de venda, o que é aproveitado apenas pela parcela que não teve seus rendimentos depreciados.
Aqueles estabelecimentos que quebrarem nesse período serão vendidos, a preços baratos, para grandes grupos econômicos, favorecendo a cartelização e diminuindo a concorrência, com efeitos sob a qualidade e os preços.
Dessa forma, urge que o Estado constitua autênticas políticas para dirimir os efeitos deletérios da crise sob o tecido social, ampliando as políticas sociais, especialmente as de transferência de renda; contribuindo para salvar pequenas e médias empresas e avançando na regulamentação da lei de taxação de grandes fortunas.
De fato, o vírus não escolhe o encubado, todos estão sujeitos à sua contração. No entanto, as consequências de tipo de infecção são diferentes em realidades socioeconômicas distintas.
A pandemia do coronavírus tende a alargar o fosso das desigualdades sociais e econômicas em, pelo menos, duas dimensões. A primeira delas é entre os territórios nacionais. Ainda que inicialmente propagada nos países mais ricos, as consequências do contágio sob a saúde e os impactos econômicos são deveras distintos entre as nações.
Isso não é uma novidade, diga-se de passagem. Na crise pandêmica da gripe espanhola no início do século XX e, mais recentemente, do surto de H1N1, afetaram sobremaneira os países mais pobres em relação aos mais ricos. No que tange a H1N1, a taxa de mortalidade na América Latina foi 20x maior se comprada à Europa.
Isso porque a maior incidência de pobreza, subnutrição, menores gastos per capta em saúde e as condições de saneamento básico e de moradia são bastante inferiores nos países subdesenvolvimentos, o que agrava o quadro infeccioso e aumenta as chances de mortalidade.
Do ponto de vista econômico, a persistência de elevadas taxas de desemprego e de trabalho informal também atestam uma maior vulnerabilidade a crises dessa natureza, além de que – em período de crise econômica se elevam as incertezas – o que ocasiona fuga de capitais, acelerando a desvalorização das moedas nacionais e dificultando, ainda mais, a capacidade para importar, aprofundando desequilíbrios externos no balanço de pagamentos.
No que concerne ao Brasil, por exemplo, a crise do coronavírus e as respostas das autoridades nacionais tendem a elevar ainda mais a nossa já escandalosa desigualdade. Principalmente por dois motivos centrais. O primeiro deles é pelo aspecto sanitário. As pessoas mais pobres têm mais chances de não somente contrair a doença quanto morrer por conta dela.
Isso porque procedimentos básicos como acessar água potável constantemente, realizar isolamento social em locais de moradia precária e precisar sair às ruas para ganhar o ganhar pão – já que em geral as pessoas mais pobres trabalham em bicos e outros empregos informais – são empecilhos aos procedimentos sanitários de cuidado pessoal.
Além de mais sujeitos ao contágio, os mais pobres estão mais sujeitos à falta de equipamentos de saúde necessários nos casos mais graves, como acesso à UTI´s na rede pública. O segundo elemento é o propriamente econômico. Em primeiro lugar porque o Brasil já vinha em uma situação de deterioração das condições sociais.
O índice de Gini, que mede desigualdade de renda já tinha se elevado no ano de 2018. Desde o agravamento da crise, a partir de 2015 até 2018, a renda total da população brasileira caiu 2%, ao passo que a renda dos 5% mais pobres desabou 39%. No outro extremo, 18 brasileiros entraram na lista dos bilionários da Revista Forbes em 2019, atestando que em momento de crise e de ajuste fiscal, “o de cima sobe e o de baixo desce”.
É cristalina a correlação entre crises econômicas e o aumento das desigualdades. Quanto maior a crise maior o desemprego e quanto maior o desemprego menos são as médias salariais. A pandemia do coronavírus exacerba qualquer projeção mais pessimista de queda na atividade econômica.
São estimados, pelos menos, uma queda de 5% no PIB brasileiro em 2020. Em uma análise muito pessimista isso representa 2,5 milhões de novos desempregados.
Os principais atingidos pela crise são aqueles que estão no emprego formal e os desempregos, impedidos de realização da própria natureza da atividade econômica que é a compra e a venda de mercadorias e serviços. Ou seja, a renda dessas pessoas terá uma retração expressiva.
Para os que estão no mercado formal mas trabalham no comércio e nos serviços – em geral de maioria feminina – também terão seus rendimentos dirimidos pela MP 936 que permite redução de jornada de trabalho e redução salarial, sem o que governo se comprometa com a integralização do total restante.
Por fim, há uma tendência de concentração de renda também a nível empresarial. Com a maior ausência de demanda, lojas e empresas tendem a reduzir seus preços para manter um nível de venda, o que é aproveitado apenas pela parcela que não teve seus rendimentos depreciados.
Aqueles estabelecimentos que quebrarem nesse período serão vendidos, a preços baratos, para grandes grupos econômicos, favorecendo a cartelização e diminuindo a concorrência, com efeitos sob a qualidade e os preços.
Dessa forma, urge que o Estado constitua autênticas políticas para dirimir os efeitos deletérios da crise sob o tecido social, ampliando as políticas sociais, especialmente as de transferência de renda; contribuindo para salvar pequenas e médias empresas e avançando na regulamentação da lei de taxação de grandes fortunas.
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