Por Fernando Brito, em seu blog:
Tema central das edições de hoje de O Globo e da Folha, a possibilidade de que Jair Bolsonaro, notoriamente mais fraco em termos políticos entre os mais pobres, possa mudar o perfil do seu potencial eleitorado com o auxílio emergencial dado durante a pandemia.
É claro que algum efeito político terá, e não poderia deixar de ser em um país onde a miséria é imensa e, pior, vinha ainda crescendo. Natural, portanto, a “melhora” da aprovação de Bolsonaro entre as classes D e E registrada pelo Datafolha, até modesta, ao meu ver.
Mas é evidente que, ao contrário do Bolsa-Família, o auxílio emergencial – já o diz o nome – não é sustentável, não é estruturante, tem dificuldades no controle de seu pagamento e, por tudo isso, vai ter uma vida breve, ao menos se, como indicam as declarações de Paulo Guedes, não se modificar uma política econômica baseada na austeridade fiscal.
Mesmo que seja mantido em valores menores, o rombo nas despesas é insustentável – ainda que houvesse uma política econômica expansionista em lugar da contração que, desde Joaquim Levy, passou a ser a lei e a “virtude” da política econômica.
Como está hoje, o auxílio custa, ao mês, cerca de R$ 50 bilhões. Ao ano, portanto, R$ 600 bilhões, o dobro, praticamente, da folha de pessoal do governo federal ou a quase dobrar o déficit da Previdência registrado em 2019, de R$ 318,4 bilhões.
Representaria um pouco mais que 8% do Produto Interno Bruto, isso sem considerar que será mais, com a brutal contração do PIB que, é certo, teremos este ano. Pior ainda, como se refere a despesa pública, a comparação mais adequada é com as receitas públicas, que terão uma queda, numa visão otimista, de cerca de 20% neste ano de pandemia e resultados medíocres no longo pós-coronavírus, venha quando vier.
É curioso como os que vociferavam contra o suposto “populismo” do Bolsa Família não piam diante do delírio que representa a possibilidade – inexequível – de um “auxílio emergencial eterno” ou até 2022.
Não vai ocorrer, entretanto. O que teremos é uma crise pior que a de hoje, porque sem horizonte final esperado (ou sonhado) como temos agora. Num Brasil que se dissolve política e economicamente, não vai acontecer, para além deste 2020 “que não existiu”, um “liberou geral” das despesas, gere o rombo que gerar, que a dramaticidade da crise sanitária exige e legitima.
Exceto pela esperança da vacina salvadora, tudo aponta para um quadro de recolhimento acentuado da sociedade e para a inviabilização, como trunfo eleitoral, do auxílio emergencial como ‘plataforma política’ de Bolsonaro.
Tema central das edições de hoje de O Globo e da Folha, a possibilidade de que Jair Bolsonaro, notoriamente mais fraco em termos políticos entre os mais pobres, possa mudar o perfil do seu potencial eleitorado com o auxílio emergencial dado durante a pandemia.
É claro que algum efeito político terá, e não poderia deixar de ser em um país onde a miséria é imensa e, pior, vinha ainda crescendo. Natural, portanto, a “melhora” da aprovação de Bolsonaro entre as classes D e E registrada pelo Datafolha, até modesta, ao meu ver.
Mas é evidente que, ao contrário do Bolsa-Família, o auxílio emergencial – já o diz o nome – não é sustentável, não é estruturante, tem dificuldades no controle de seu pagamento e, por tudo isso, vai ter uma vida breve, ao menos se, como indicam as declarações de Paulo Guedes, não se modificar uma política econômica baseada na austeridade fiscal.
Mesmo que seja mantido em valores menores, o rombo nas despesas é insustentável – ainda que houvesse uma política econômica expansionista em lugar da contração que, desde Joaquim Levy, passou a ser a lei e a “virtude” da política econômica.
Como está hoje, o auxílio custa, ao mês, cerca de R$ 50 bilhões. Ao ano, portanto, R$ 600 bilhões, o dobro, praticamente, da folha de pessoal do governo federal ou a quase dobrar o déficit da Previdência registrado em 2019, de R$ 318,4 bilhões.
Representaria um pouco mais que 8% do Produto Interno Bruto, isso sem considerar que será mais, com a brutal contração do PIB que, é certo, teremos este ano. Pior ainda, como se refere a despesa pública, a comparação mais adequada é com as receitas públicas, que terão uma queda, numa visão otimista, de cerca de 20% neste ano de pandemia e resultados medíocres no longo pós-coronavírus, venha quando vier.
É curioso como os que vociferavam contra o suposto “populismo” do Bolsa Família não piam diante do delírio que representa a possibilidade – inexequível – de um “auxílio emergencial eterno” ou até 2022.
Não vai ocorrer, entretanto. O que teremos é uma crise pior que a de hoje, porque sem horizonte final esperado (ou sonhado) como temos agora. Num Brasil que se dissolve política e economicamente, não vai acontecer, para além deste 2020 “que não existiu”, um “liberou geral” das despesas, gere o rombo que gerar, que a dramaticidade da crise sanitária exige e legitima.
Exceto pela esperança da vacina salvadora, tudo aponta para um quadro de recolhimento acentuado da sociedade e para a inviabilização, como trunfo eleitoral, do auxílio emergencial como ‘plataforma política’ de Bolsonaro.
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