Por Eduardo Maretti, na Rede Brasil Atual:
A gigantesca repercussão, nas redes sociais, desencadeada pela ameaça do presidente Jair Bolsonaro a um jornalista reverbera insatisfação de amplo espectro social e representa significativa derrota dos “combatentes” bolsonaristas, embora em uma batalha apenas, na guerra da comunicação. “O presidente subiu o tom como forma de tentar manter o discurso de força e enfrentamento que ele sabe que dá retorno. Mas esse retorno, no caso, se deu nos seus canais de redes sociais, administrados por ele, e a questão é que ele não está conseguindo administrar na ‘casa’ dele. Ele não está jogando na casa do adversário, está jogando em casa e está perdendo muito”, diz Fabio Malini, professor e pesquisador da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). A pergunta e sua repercussão chegou a atingir mil reproduções no Twitter a cada 40 segundos.
“Presidente, por que sua esposa, Michelle, recebeu R$ 89 mil do Queiroz?”, perguntou um jornalista de O Globo, neste domingo (23) durante uma visita de Bolsonaro à Catedral de Brasília. “Eu vou encher a boca desse cara na porrada”, respondeu Bolsonaro. Em seguida, o presidente acrescentou: “Minha vontade é encher tua boca na porrada”. A resposta nas redes sociais de internautas chegou a 1.035.521 de mensagens nas redes sociais, terreno onde o grupo que governa o país domina a técnica e a capacidade de disseminação de informações, falsas ou não.
“O governo tem uma característica de comunicação que dá ideia de combate. Eles não têm militantes, têm combatentes. Há uma guerra da informação que precisam ganhar. E a batalha de ontem foi perdida. Mas haverá novas”, diz Malini. “Porém, esse conceito de comunicação de combate tem um limite, dada a própria lógica do governo, que precisa entregar resultado, porque a taxa de desemprego está subindo, a crise fiscal instalada, problemas muito grandes.”
Memes se alastram
Para Malini, essa repercussão inesperada para Bolsonaro decorre de uma agregação de forças que transcende o terreno da oposição. “O que é interessante desse movimento de ontem é que, se não há frente única institucionalmente (contra Bolsonaro), na internet ela já está se consolidando. No mesmo campo, juntou-se a turma do PT com a turma do partido Novo”, avalia.
Na opinião do analista, as diferentes forças sociais e políticas que se agregaram nesse movimento midiático se valeram de um gatilho, “para expressar dores, esperanças, desilusão, desamparo, e também abandono, que é próprio da pandemia: foi a oportunidade para expressar a catarse coletiva de uma parte da população”.
Outro ponto destacado por Malini é que, para ele, a “memetização” (o fato transformado em “memes” na internet), que ocorreu a partir de ontem, é tão forte que fez com que os alvos, sobretudo a primeira dama, “se tornassem objetos de formas e mensagens que saíram do limite do politicamente correto, normalmente muito mais no campo da esquerda”.
Ao começar a ler os comentários que se alastraram pelas redes, observa Malini, Bolsonaro e seu grupo estavam perdendo a capacidade de controlar o espaço de suas próprias redes, em função da quantidade enorme de falas com a mesma pergunta. “Notei um número muito grande de pessoas desesperadas, solicitando, por exemplo, mais tempo para o auxilio emergencial. Passa a ser um segundo movimento acontecendo ao mesmo tempo. E esses elementos têm a ver com pessoas que entraram na internet apenas para reivindicar isso (no caso, o auxílio emergencial)”.
“Presidente, por que sua esposa, Michelle, recebeu R$ 89 mil do Queiroz?”, perguntou um jornalista de O Globo, neste domingo (23) durante uma visita de Bolsonaro à Catedral de Brasília. “Eu vou encher a boca desse cara na porrada”, respondeu Bolsonaro. Em seguida, o presidente acrescentou: “Minha vontade é encher tua boca na porrada”. A resposta nas redes sociais de internautas chegou a 1.035.521 de mensagens nas redes sociais, terreno onde o grupo que governa o país domina a técnica e a capacidade de disseminação de informações, falsas ou não.
“O governo tem uma característica de comunicação que dá ideia de combate. Eles não têm militantes, têm combatentes. Há uma guerra da informação que precisam ganhar. E a batalha de ontem foi perdida. Mas haverá novas”, diz Malini. “Porém, esse conceito de comunicação de combate tem um limite, dada a própria lógica do governo, que precisa entregar resultado, porque a taxa de desemprego está subindo, a crise fiscal instalada, problemas muito grandes.”
Memes se alastram
Para Malini, essa repercussão inesperada para Bolsonaro decorre de uma agregação de forças que transcende o terreno da oposição. “O que é interessante desse movimento de ontem é que, se não há frente única institucionalmente (contra Bolsonaro), na internet ela já está se consolidando. No mesmo campo, juntou-se a turma do PT com a turma do partido Novo”, avalia.
Na opinião do analista, as diferentes forças sociais e políticas que se agregaram nesse movimento midiático se valeram de um gatilho, “para expressar dores, esperanças, desilusão, desamparo, e também abandono, que é próprio da pandemia: foi a oportunidade para expressar a catarse coletiva de uma parte da população”.
Outro ponto destacado por Malini é que, para ele, a “memetização” (o fato transformado em “memes” na internet), que ocorreu a partir de ontem, é tão forte que fez com que os alvos, sobretudo a primeira dama, “se tornassem objetos de formas e mensagens que saíram do limite do politicamente correto, normalmente muito mais no campo da esquerda”.
Ao começar a ler os comentários que se alastraram pelas redes, observa Malini, Bolsonaro e seu grupo estavam perdendo a capacidade de controlar o espaço de suas próprias redes, em função da quantidade enorme de falas com a mesma pergunta. “Notei um número muito grande de pessoas desesperadas, solicitando, por exemplo, mais tempo para o auxilio emergencial. Passa a ser um segundo movimento acontecendo ao mesmo tempo. E esses elementos têm a ver com pessoas que entraram na internet apenas para reivindicar isso (no caso, o auxílio emergencial)”.
Discurso de força e enfrentamento
Na esteira desse movimento crescente, surgiu também, entre outros, o assunto da deputada Flordelis (PSD-RJ), acusada de ser mandante do assassinato do marido, segundo o delegado Allan Duarte, titular da Delegacia de Homicídios de Niterói.
“Umas coisas vão contaminando outras. Criaram-se memes com o indiciamento da deputada. Ou seja, as coisas não acabam, existe uma dimensão homeopática. O presidente subiu o tom como forma de tentar manter o discurso de força e enfrentamento que ele sabe que dá retorno. Mas, quando esse retorno se dá nos seus canais de redes sociais, normalmente são administrados por ele”, diz Malini. Mas neste fim de semana o problema de Bolsonaro foi que o movimento após a pergunta sobre os R$ 89 mil ultrapassou a capacidade de o clã administrar.
O analista também destaca que um dos elementos que balizam o discurso de Bolsonaro, a questão do combate à corrupção, sofreu um grande desgaste. “Quando ele começa a se calar ou radicalizar para não responder um fato que tem relação direta com esse valor da defesa do combate à corrupção, que já ficou fragilizado com a saída de Moro, vai se fragilizando ainda mais. Então, esse eleitorado sensível a esses temas fica ainda mais irritado com esse posicionamento do presidente”, na opinião do professor da UFES.
Na esteira desse movimento crescente, surgiu também, entre outros, o assunto da deputada Flordelis (PSD-RJ), acusada de ser mandante do assassinato do marido, segundo o delegado Allan Duarte, titular da Delegacia de Homicídios de Niterói.
“Umas coisas vão contaminando outras. Criaram-se memes com o indiciamento da deputada. Ou seja, as coisas não acabam, existe uma dimensão homeopática. O presidente subiu o tom como forma de tentar manter o discurso de força e enfrentamento que ele sabe que dá retorno. Mas, quando esse retorno se dá nos seus canais de redes sociais, normalmente são administrados por ele”, diz Malini. Mas neste fim de semana o problema de Bolsonaro foi que o movimento após a pergunta sobre os R$ 89 mil ultrapassou a capacidade de o clã administrar.
O analista também destaca que um dos elementos que balizam o discurso de Bolsonaro, a questão do combate à corrupção, sofreu um grande desgaste. “Quando ele começa a se calar ou radicalizar para não responder um fato que tem relação direta com esse valor da defesa do combate à corrupção, que já ficou fragilizado com a saída de Moro, vai se fragilizando ainda mais. Então, esse eleitorado sensível a esses temas fica ainda mais irritado com esse posicionamento do presidente”, na opinião do professor da UFES.
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