Editorial do site Vermelho:
Não é mera coincidência que, nos últimos dias, diversos e importantes setores do espectro político nacional se ergueram na denúncia contra o presidente Jair Bolsonaro e seu governo negligente e irresponsável – para dizer o mínimo. Diante da nova escalada da pandemia no País – com médias diárias recordes de casos e mortes por Covid-19, além de crescente lotação dos leitos de UTI (Unidades de Terapia Intensiva) –, Bolsonaro intensificou as provocações.
Seu alvo da vez é o federalismo, bem como o respeito entre os Três Poderes – mas não só. Ignorando as mais elementares recomendações sanitárias, o presidente criticou o uso de máscaras, provocou aglomerações, negou apoios efetivos a estados e municípios, segurou a liberação do auxílio emergencial e chantageou publicamente os governadores.
A execução do plano federal de vacinação contra o coronavírus segue em ritmo lento e alarmante, ainda mais para um país que é referência internacional em campanhas de imunização. Não bastasse tamanho desmazelo, o Ministério da Saúde impôs às unidades federativas a suspensão do financiamento de leitos de UTI para tratamento de Covid.
É fato que, após dois anos e dois meses de um governo genocida, sem compromisso com a democracia e com a vida, indiferente aos interesses nacionais e populares, não convém esperar decência, responsabilidade e urbanidade do atual presidente da República. Desta vez, porém, surpreende positivamente o fato de que, para além da oposição à esquerda, novas vozes se somam não apenas à indignação – mas também ao sentimento de que é preciso investigar e responsabilizar Bolsonaro por seus crimes.
Partiu de um político tucano, Tasso Jereissati (PSDB-CE), a iniciativa de conclamar seus colegas do Senado Federal a instalarem uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra o presidente. Citando a visita de Bolsonaro ao Ceará, na sexta-feira (26), o senador o acusou de “promover aglomerações sem proteção” e de “convocar a população a não ficar em casa, desafiando a orientação do governo do estado”. Sem contar a ameaça bolsonarista de não pagar o auxílio emergencial a governadores críticos à gestão federal.
Tasso concluiu: “A instalação da CPI no Senado tornou-se inadiável. Não podemos ficar omissos diante dessas irresponsabilidades que colocam em risco a vida de todos brasileiros”. Seu pleito teve a concordância de senadores de outros partidos, inclusive de PSD e Republicanos, legendas pró-Bolsonaro.
O levante dos senadores ocorreu no sábado (27). Um dia depois, no domingo (28), o STF (Supremo Tribunal Federal) acolheu pedido feito pelos governos do Maranhão, Bahia e São Paulo, determinando que o Ministério da Saúde voltasse a custear leitos de UTI para essas unidades federativas. Conforme resumiu o governador maranhense Flávio Dino, não se trata de um “favor” – mas, sim, de “de um direito dos estados e um dever do governo federal, segundo a Constituição e legislação do SUS (Sistema Único de Saúde)”.
Nesta segunda (1º), 19 governadores lançaram carta conjunta e aberta para desmascarar o discurso falacioso de governo Bolsonaro. Na véspera, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, e o próprio presidente da República mentiram publicamente ao divulgar supostos valores do repasse federal aos estados em 2020.
Dizem os governadores: “Em meio a uma pandemia mundial de proporção talvez inédita na história e a uma gravíssima crise econômica e social, a prioridade (de Bolsonaro) parece ser criar confrontos, construir imagens maniqueístas e minar ainda mais a cooperação federativa essencial aos interesses da população”. A carta foi assinada até mesmo por governadores próximos do presidente, como Ronaldo Caiado (DEM), de Goiás, Cláudio Castro (PSC), do Rio de Janeiro, e Ratinho Junior (PSD), do Paraná.
Em comum, governadores e senadores, representantes legítimos dos estados, concordam que é hora de dar um basta à forma negligente e criminosa como o presidente tem lidado com a pandemia. A eles se somam parlamentares, dirigentes e lideranças de ao menos 15 partidos políticos – não só da oposição –, que participaram na noite desta segunda-feira do 4º Ato do Direitos Já – Fórum pela Democracia. São legendas de esquerda, de centro e de direita que cobram a extensão do auxílio emergencial, em parcelas mensais de R$ 600, até o final de 2021.
Todos esses movimentos reforçam a necessidade de uma frente ampla, amplíssima, que ponha a vida, a ciência e a democracia como elementos centrais da vida republicana no País hoje. É salutar que as diferenças ideológicas, programáticas e até eleitorais entre esses partidos e seus expoentes não impeçam o diálogo em nome de um bem comum e maior. A frente ampla cresce. Não dá mais para ficar indiferente ao bolsonarismo.
0 comentários:
Postar um comentário