Por Jeferson Miola, em seu blog:
“Guerra de informação é um conceito envolvendo o uso e gerenciamento de informações e tecnologias da informação e comunicação em busca de uma vantagem competitiva sobre um adversário. Pode envolver uma coleção de informações táticas, métodos de asseverar a informação utilizada como válida, dispersar propaganda ou desinformação para desmoralizar ou manipular o inimigo e o público em geral, debilitando a qualidade da informação da força oposta. É similar à guerra psicológica” – [wikipédia].
O Partido Militar emplacou na mídia hegemônica mais uma estratégia diversionista e de dissimulação para iludir a sociedade, as instituições civis e o poder político.
No dia seguinte às mudanças ministeriais, os generais conspiradores figuraram nas manchetes de todos jornalões [30/3] como os guardiões da democracia ante à ameaça golpista do Bolsonaro.
A manchete do Estadão foi a mais primorosa para a guerra de informação promovida pelo Partido Militar: “Ministro da Defesa cai por recusar uso político das Forças Armadas”.
Jornalistas repetidores de informações plantadas em off pelos generais divulgaram as mentiras deles sobre os supostos motivos para o aparente impasse entre Bolsonaro e os militares.
Todas as versões enaltecem o “profissionalismo” e o “legalismo” das Forças Armadas e dos comandantes que “divergem” do Bolsonaro, buscando dissociá-los do caos e, portanto, eximi-los de responsabilidade na devastação econômica e na catástrofe sanitária e humanitária:
– “Generais do Exército – da ativa e da reserva – concordam que o presidente Bolsonaro quer fazer uso político das Forças Armadas”, Andréia Sadi/Globo;
– “Bolsonaro queria que Pujol se manifestasse contra decisão do STF sobre Lula”, Thaís Oyama/UOL;
– “As Forças Armadas vão se pautar pela legalidade, sempre”, Andréia Sadi, citando frase do general Mourão;
– “Bolsonaro pedia também demonstrações públicas e explícitas de apoio, e o general [Pujol] se recusou a dar”, Lauro Jardim/Globo;
– “Bolsonaro demite ministro da Defesa para tentar o montar o ‘meu Exército’”, Lauro Jardim/Globo;
– “Militares se unem a judiciário e legislativo para dizer não a Bolsonaro”, Eliane Castanhêde/Estadão;
– Fernando Azevedo e Pujol “rejeitavam assédio político”, Felipe Frazão/Estadão.
Circulou, também, a informação de que Bolsonaro decidira demitir Pujol e Azevedo e Silva porque teria ficado contrariado com entrevista do general Paulo Sérgio, Diretor de Pessoal do Exército expondo suposto [e falso, como já demonstrou o coronel da reserva Marcelo Pimentel] êxito do Exército no enfrentamento à Covid por adotar postura científica em contraposição à visão negacionista do governo.
Hoje é por demais sabido que o Partido Militar conspirou, armou a eleição do Bolsonaro, montou e dirige o atual governo. O envolvimento político dos generais com a catástrofe, neste sentido, é absoluto e integral.
Esta construção narrativa que canoniza as Forças Armadas, portanto, faz parte de um jogo de encenação para criar um ambiente de dissonância cognitiva com o objetivo de confundir, desorientar as pessoas, a sociedade e a imprensa para anarquizar a interpretação da realidade.
São dispositivos sofisticados de guerra que os militares empregam na arena política como se estivessem em um “teatro de operações” realizando batalhas contra inimigos/adversários.
O figurino “Bolsonaro golpista” é bastante útil para a guerra informacional que gera confusão e exime os generais de responsabilidade pelo desastre econômico, miséria e pela gestão genocida da pandemia a cargo de um general da ativa que obedeceu a missão encomendada pelo presidente e que fora autorizada pelo Comandante do Exército, seu superior hierárquico.
O truque consiste em dissociar os militares da responsabilidade pela catástrofe, como se não fossem a causa dela e, ao mesmo tempo, legitimar a atuação política deles como guardiões da ordem e da legalidade ante qualquer desatino da criatura que eles próprios criaram. Desse modo, simulam “sair” da política para, na realidade, aprofundarem ainda mais a participação e interferência deles na política.
A escolha do general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira para o comando do Exército é uma evidência desta estratégia de guerra de informação.
Ora, se este general que disse ao Correio Braziliense [28/3] que “o Exército já se prepara para a 3ª onda da Covid” irritou Bolsonaro a ponto de ele decidir demitir o ministro da Defesa e o Comandante do Exército, como ele pôde ser escolhido para assumir o lugar do general Edson Pujol?
Parece contraditória, como de fato é, mas com esta decisão o Partido Militar, que está no comando das operações, manda duas mensagens.
A primeira, que eles “impuseram” a Bolsonaro um general “dissidente” para assumirem a gestão da pandemia com base na ciência; e, a segunda, que levantaram “barreiras democráticas e legalistas” com um comandante que estará a postos para deter qualquer aventura golpista.
Esta escolha alimenta a lógica da dissonância cognitiva que eles promovem com o nítido objetivo de confundir e dissimular para …. reinar.
Por trás da tentativa de dissimular distanciamento da política – o que é impossível acontecer, até mesmo se quisessem, pois ocupam o coração do poder, os principais ministérios, dezenas de estatais e quase 11 mil cargos comissionados – na realidade o Partido Militar objetiva aprofundar o protagonismo político e a capacidade de interferência no jogo eleitoral de 2022.
Eles foram exitosos, e já alcançaram o objetivo político principal com a guerra informacional. A mídia, os estamentos políticos e judiciais “delegaram” aos generais o papel de guardiões do sistema e de atores fundamentais, para não dizer imprescindíveis, da arena política.
Generais conspiradores como Santos Cruz e Sérgio Etchegoyen desfilam nos jornalões como garantidores da democracia e da observância do papel constitucional das Forças Armadas.
Nesta guerra de informação, o Partido Militar aumenta poder e a interferência no jogo político. Isso é absolutamente incompatível com a democracia e o Estado de Direito.
Os militares deveriam ser convidados a saírem da política e a se recolherem aos quartéis, de onde jamais deveriam ter saído para produzir a maior tragédia da história do Brasil em 521 anos desde a ocupação do nosso território pelos invasores portugueses.
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