São Paulo, 20/8/22. Foto: Ricardo Stuckert |
Pesquisas qualitativas para o pleito presidencial indicam que caminhos viáveis para o candidato Lula (PT) conquistar indecisos incluem um discurso acolhedor e empático.
Esses levantamentos mostram que muitos dos que não decidiram o voto, especialmente mulheres, de faixa salarial entre dois e cinco salários mínimos, e jovens, estão propensos a escolher alguém em que vejam essas qualidades, afirma a cientista política Camila Rocha, que há anos conduz pesquisas qualitativas sobre o assunto.
“São pessoas que não gostam de política, não têm nem vontade de votar e não enxergam que essa eleição é muito definidora, seja para suas vidas ou para o país como um todo”, afirma ela ao Brasil de Fato.
“Para elas, tanto faz se ganha Lula ou Bolsonaro. Não dependem de programas do governo, sentem que ele não fala com elas e precisam ser mobilizadas para se envolverem, apesar de não gostarem do assunto”, afirma a pesquisadora.
Pesquisas qualitativas são feitas por meio de conversas mais longas de uma a mais de duas horas com grupos de pessoas semelhantes.
Elas permitem um mergulho mais profundo na mentalidade desses grupos do que as pesquisas quantitativas, como o Datafolha, que buscam análises estatísticas.
Sobre o Datafolha, Rocha ressalta que não leu em profundidade o último levantamento, mas desconfia do dado publicado de que 75% dos eleitores teriam já decido o voto.
“Historicamente, a tendência é grande parte do eleitorado se decidir no último minuto, o que pode tornar tudo mais acirrado”, aponta.
“Para muita gente não é bizarro estar indeciso entre esses dois nomes”, diz ela, que reitera:
“É muito clara a tendência de crescimento do Bolsonaro, ele vem subindo de forma consistente, o que pode inviabilizar definições no primeiro turno, uma possibilidade que está cada vez mais distante.”
Qual a abordagem?
Mas como então falar com quem não gosta e não quer falar de política? Rocha explica:
“É muito consensual a ideia de que o Bolsonaro é desumano, principalmente entre as mulheres, mesmo antes da pandemia. Depois da covid, aumentou muito e se tornou algo que pode mobilizar. Elas dizem que em um evento terrível como a pandemia preferem ter um líder com humanidade do que um que faz piada com quem sofre e até promove a morte.”
“Outro ponto citado é a necessidade de unir o país, após anos de polarização nos quais famílias e grupos sociais foram divididos e pouco dialogaram. Nesse aspecto, Bolsonaro é visto como alguém que estimula a radicalização, sem acolher quem pensa diferente", explica.
“E Bolsonaro tem outro aspecto problemático: o autoritarismo. Há um consenso de que o presidente precisa conversar com pessoas variadas e ele não faz isso. Sua exaltação da ditadura, símbolos militares também não é vista com bons olhos por esse público indeciso e apolítico."
Os auxílios poderiam alterar a favor de Bolsonaro a balança do voto evangélico, hoje bem mais dividido do que em 2018, quando foi em peso para Bolsonaro.
“Em termos de economia, é difícil conquistar os votos de parte desse eleitorado que não se beneficia dos programas sociais e, portanto está aberto a se identificar mais pelos valores.”
Mesmo assim, Rocha diz que a economia pode, sim, afetar indiretamente o público indeciso mais pobre, pentecostais, que deve sentir a entrada de dinheiro na economia, via auxílios recém-aprovados que acabam um mês após as eleições.
“Eles pensam: se ele está suprindo as necessidades do povo financeiramente e seus valores se alinham em sua maioria aos meus, voto nele.”
Religião e corrupção
Por outro lado, Lula teria que ajustar o discurso para transmitir acolhimento, mas não exagerar. A possibilidade de outro "mensalão", com alianças prejudiciais ao país com políticos tidos como corruptos, é um temor real entre essa fatia do eleitorado.
Apesar dos fatos – bilhões de reais liberados por Bolsonaro para parlamentares amigos, via orçamento secreto, escândalos dos mais variados em sua administração, do MEC a compra de vacinas – o rótulo de corrupto não “colou” no presidente aos olhos desse público, que enxerga o petista como mais propenso “a fazer acordos escusos”.
Uma possível casca de banana para o PT e seus simpatizantes é transmitir a ideia de superioridade em relação aos evangélicos, que votaram em peso no atual presidente em 2018, e hoje estão divididos.
“Muitos dos que votaram no Bolsonaro e cogitam votar de novo precisam se sentir acolhidos se decidirem mudar e votar no Lula. Se sentirem que vão ser ridicularizadas, esquece."
“Se as pessoas sentirem que seus líderes religiosos são desprezados por um candidato, o raciocínio lógico é que ele as despreza também, e elas seriam mais imbecis ainda se o seguirem.”
Esses levantamentos mostram que muitos dos que não decidiram o voto, especialmente mulheres, de faixa salarial entre dois e cinco salários mínimos, e jovens, estão propensos a escolher alguém em que vejam essas qualidades, afirma a cientista política Camila Rocha, que há anos conduz pesquisas qualitativas sobre o assunto.
“São pessoas que não gostam de política, não têm nem vontade de votar e não enxergam que essa eleição é muito definidora, seja para suas vidas ou para o país como um todo”, afirma ela ao Brasil de Fato.
“Para elas, tanto faz se ganha Lula ou Bolsonaro. Não dependem de programas do governo, sentem que ele não fala com elas e precisam ser mobilizadas para se envolverem, apesar de não gostarem do assunto”, afirma a pesquisadora.
Pesquisas qualitativas são feitas por meio de conversas mais longas de uma a mais de duas horas com grupos de pessoas semelhantes.
Elas permitem um mergulho mais profundo na mentalidade desses grupos do que as pesquisas quantitativas, como o Datafolha, que buscam análises estatísticas.
Sobre o Datafolha, Rocha ressalta que não leu em profundidade o último levantamento, mas desconfia do dado publicado de que 75% dos eleitores teriam já decido o voto.
“Historicamente, a tendência é grande parte do eleitorado se decidir no último minuto, o que pode tornar tudo mais acirrado”, aponta.
“Para muita gente não é bizarro estar indeciso entre esses dois nomes”, diz ela, que reitera:
“É muito clara a tendência de crescimento do Bolsonaro, ele vem subindo de forma consistente, o que pode inviabilizar definições no primeiro turno, uma possibilidade que está cada vez mais distante.”
Qual a abordagem?
Mas como então falar com quem não gosta e não quer falar de política? Rocha explica:
“É muito consensual a ideia de que o Bolsonaro é desumano, principalmente entre as mulheres, mesmo antes da pandemia. Depois da covid, aumentou muito e se tornou algo que pode mobilizar. Elas dizem que em um evento terrível como a pandemia preferem ter um líder com humanidade do que um que faz piada com quem sofre e até promove a morte.”
“Outro ponto citado é a necessidade de unir o país, após anos de polarização nos quais famílias e grupos sociais foram divididos e pouco dialogaram. Nesse aspecto, Bolsonaro é visto como alguém que estimula a radicalização, sem acolher quem pensa diferente", explica.
“E Bolsonaro tem outro aspecto problemático: o autoritarismo. Há um consenso de que o presidente precisa conversar com pessoas variadas e ele não faz isso. Sua exaltação da ditadura, símbolos militares também não é vista com bons olhos por esse público indeciso e apolítico."
Os auxílios poderiam alterar a favor de Bolsonaro a balança do voto evangélico, hoje bem mais dividido do que em 2018, quando foi em peso para Bolsonaro.
“Em termos de economia, é difícil conquistar os votos de parte desse eleitorado que não se beneficia dos programas sociais e, portanto está aberto a se identificar mais pelos valores.”
Mesmo assim, Rocha diz que a economia pode, sim, afetar indiretamente o público indeciso mais pobre, pentecostais, que deve sentir a entrada de dinheiro na economia, via auxílios recém-aprovados que acabam um mês após as eleições.
“Eles pensam: se ele está suprindo as necessidades do povo financeiramente e seus valores se alinham em sua maioria aos meus, voto nele.”
Religião e corrupção
Por outro lado, Lula teria que ajustar o discurso para transmitir acolhimento, mas não exagerar. A possibilidade de outro "mensalão", com alianças prejudiciais ao país com políticos tidos como corruptos, é um temor real entre essa fatia do eleitorado.
Apesar dos fatos – bilhões de reais liberados por Bolsonaro para parlamentares amigos, via orçamento secreto, escândalos dos mais variados em sua administração, do MEC a compra de vacinas – o rótulo de corrupto não “colou” no presidente aos olhos desse público, que enxerga o petista como mais propenso “a fazer acordos escusos”.
Uma possível casca de banana para o PT e seus simpatizantes é transmitir a ideia de superioridade em relação aos evangélicos, que votaram em peso no atual presidente em 2018, e hoje estão divididos.
“Muitos dos que votaram no Bolsonaro e cogitam votar de novo precisam se sentir acolhidos se decidirem mudar e votar no Lula. Se sentirem que vão ser ridicularizadas, esquece."
“Se as pessoas sentirem que seus líderes religiosos são desprezados por um candidato, o raciocínio lógico é que ele as despreza também, e elas seriam mais imbecis ainda se o seguirem.”
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