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O mundo televisivo foi surpreendido semana passada com o anúncio da nomeação de Carlos Henrique Schroder (foto) para o lugar de Diretor-Geral da Rede Globo, Otávio Florisbal, o que não é pouca coisa não, já que por essa função passaram monstros sagrados da televisão brasileira, como Walter Clark e José Bonifácio de Oliveira, o famoso Boni.
Para o lugar de Schroder, que era o Diretor-Geral de Jornalismo e Esporte, vai Ali Kamel, que era o Diretor da Central Globo de Jornalismo. Aliás, pelos títulos, ficamos sem saber qual das duas funções é mais importante, pois aparentemente as duas se equivalem.
Schroder é produto do veículo TV, está há quase trinta anos na Globo, enquanto Kamel fez carreira em O Globo e foi levado para o jornalismo da TV por Evandro Carlos de Andrade, o homem mais que respeitado pelo velho Roberto Marinho, pela projeção que deu ao jornal da família quando assumiu sua direção, em 1971.
A ida de Kamel para a direção do jornalismo não surpreende, porque na prática era ele quem repondia pela linha editorial do JN e dos demais produtos jornalísticos há muito tempo. Sempre foi ele quem saiu em defesa dos interesses da Casa quando seu conteúdo era questionado. Para a comunidade do jornalismo, ele era o chefe na pática, enquanto Schroder era o administrador, o homem de ligação entre a direção da empresa e a redação.
Kamel cresceu tanto nessa função de defesa intransigente dos interesses do patrão, que virou uma espécie de historiador dos tempos modernos, o homem que está reescrevendo a história recente do Brasil através da ótica global.
Bem, mas saber quem é quem no mundo global não é a ideia da coluna. Quero apenas registrar uma passagem histórica, ligada ao Schroder, que tem um interessante componente político.
Estávamos em 1989. O país fervia politicamente às vésperas da primeira eleição presidencial, pós ditadura. Excitadas, as pessoas não viam a hora de escolher livre e soberanamente o presidente da república.
Na direção do jornalismo da Globo estavam Armando Nogueira e Alice-Maria, profissionais antigos e respeitados pelos colegas e pela direção. Talvez pelo fato de estarem acomodados no comando há tantos anos, tenham se descuidado e deixado nas mãos de Alberico Souza Cruz – o terceiro na hierarquia - o controle do jornalismo político naquele ano de tamanha importância histórica para o povo brasileiro.
Alberico, homerm de conchavos, vaselina e amigo dos políticos, bancou a campanha de Collor no domínio dos Marinho. Tanto no noticiário como nos programas especiais, tipo Globo Repórter, o alagoano ganhou espaços formidáveis e acabou virando “o caçador de marajás”. E, não há como negar, por influência decisiva da Globo.
Eleito, Collor tratou de recompensar os amigos que o ajudaram na caminhada até o Planalto. Alberico era um deles. Coincidência ou não, poucos meses depois da posse de Collor, Armando e Alice eram afastados. Ela demitida sumariamente. Ele, promovido a “aspone” da direção, na qual não ficou muito tempo.
Com a influência do presidente (isso não se prova, mas as evidências são inquestionáveis) , Alberico passou a ser o número um e tratou de montar sua equipe com jornalistas de sua confiança. Schroder era um deles. Subiu, por assim dizer, junto com o novo diretor.
Acontece que Collor durou pouco no poder. Em 1992, ele já estava defenestrado do Planalto. Com a queda de Collor, Alberico caiu em desgraça junto à família Marinho. E não demorou muito, foi demitido para dar lugar a Evandro Carlos de Andrade, o poderoso diretor e redator-chefe de O Globo.
É aí que a história volta ao nosso personagem principal. Schroder, temendo algum tipo de retaliação aos funcionários de confiança do demitido Alberico, tratou de correr atrás de eventual prejuízo. E é nessa época, por volta dos anos 95/96 que ele foi visto penando nos corredores da Vila Guilherme, tentando uma oportunidade de emprego no SBT. Demorou horas para ser atendido por Luciano Calegari, o então diretor do Silvio Santos, do qual ouviu um não.
E nem poderia ser de outra forma, pois de chefe de jornalismo o SBT estava abarrotado, depois que Boris Casoy brigou com Marcos Wilson, o diretor de jornalismo de então, e resolveu criar sua própria equipe, com redação, jornalistas e conteúdo separados. Mas essa é uma outra história a ser contada no futuro.
Voltamos ao nosso Schroder, que, não conseguindo um lugarzinho no SBT, pegou sua ponte aérea de volta pro Rio. Não sofreu nenhum tipo de retaliação quando retornou ao ninho global, ao contrário, caiu nas graças de Evandro, que de televisão entendia pouco, e hoje é o Diretor-Geral da Rede Globo, função que vai ocupar pra valer a partir de janeiro.
Não sei não, mas algo me diz que há alguma coisa estranha nessa dança de cadeiras na Globo. É esperar pra ver.
PS. Um pouco de história não faz mal a ninguém, ajuda a preservar os fatos antes que caiam no esquecimento ou sejam contados de maneira inverídica.
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