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Entrou em vigor nesta segunda-feira (21) o programa de
internação compulsória de viciados em drogas do governador Geraldo Alckmin
(PSDB-SP). Após o fiasco da desocupação da Cracolândia, no centro da capital, e
do aumento da violência no estado, o tucano decidiu endurecer ainda mais na repressão.
A medida demagógica e truculenta visa conter a acentuada queda de popularidade
do tucano. Mas ela já ocasiona os primeiros protestos das entidades de defesa
dos direitos humanos e dos movimentos sociais.
O novo prefeito da capital paulista, Fernando Haddad, também
já manifestou a sua discordância. “Sem consentimento da família nem autorização
judicial já me manifestei contrário, porque acho que estaríamos ferindo
direitos fundamentais”, afirmou na posse do seu secretário de Direitos Humanos,
Rogério Sotilli. Este, por sua vez, foi ainda mais incisivo nas críticas. “Sou
contra o uso da força. E a internação compulsória é uso da força. É preciso
construir outros caminhos para que essas pessoas saiam do crack”.
Uma crítica bem fundamentada ao projeto de Geraldo Alckmin
foi publicada hoje na coluna de debate da Folha por Marcos Valdir Silva, vice-presidente
do Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo. Reproduzo o texto na
íntegra:
*****
Não à internação involuntária e compulsória
Há um ano, o governo do Estado de São Paulo iniciou
operações na região da capital conhecida como cracolândia para reduzir o número
de usuários de crack que circulam diariamente no local. As medidas resultaram
basicamente no deslocamento dos usuários, que se espalharam pelas imediações,
ocupando ruas dos Campos Elíseos, de Santa Cecília e do Bom Retiro.
No início de 2013, o governador Geraldo Alckmin anuncia sua
medida extrema: a internação involuntária e compulsória de dependentes químicos
que se drogam nas ruas da capital.
Higienização é a forma mais clara e objetiva de denominar
tal medida. O Estado "despoluirá" o centro, realizando a internação,
sem garantir de fato um atendimento digno dentro dos preceitos do SUS. Para
tal, seria necessário ter locais adequados, com técnicos munidos de
infraestrutura e médicos preparados.
Também seria preciso conversar com o
usuário, para que se entenda o seu caminho com o uso da substância, devendo
construir um plano de trabalho dele juntamente com a família e a sociedade.
Não é possível aceitar a internação involuntária ou
compulsória como a principal estratégia para o enfrentamento do uso de drogas
nas ruas da capital.
A política pública do Estado não pode retroceder ao
confinamento, como forma de "tratamento", após décadas da reforma
psiquiátrica e luta antimanicomial conquistada pelos movimentos sociais
brasileiros e ainda em consolidação. O Conselho Regional de Serviço Social de
São Paulo (Cress-SP) se posiciona totalmente contrário à medida, salvacionista,
preconceituosa e criminalizadora, que avilta os direitos humanos.
Hoje deverá ser iniciada a ação que internará à força
usuários, sem que antes tenham sido feitos investimentos públicos em propostas
de atenção básica à saúde, assistência social, opções de geração de renda e
moradia para essa população em risco social, principalmente ações concretamente
voltadas aos dependentes químicos.
A mesma "vontade política" do governo do Estado
para a proposta de internação, prisões e intervenções militares nessa expressão
da questão social deveria estar presente em serviços públicos na área da
assistência social e na saúde coletiva no centro da cidade de São Paulo.
Aliás, quem são os especialistas nessa área que estão
"assessorando" o governo? Será então essa "a" resposta
pública que juízes, Ministério Público e médicos têm a propor?
Teremos que reconstruir instituições e manicômios para
engrossar as novas modalidades de aprisionamento em São Paulo. Parece ser a
solução mais prática e fácil e não a mais humana, social e garantidora de
direitos e serviços de qualidade.
A questão vem sendo analisada em uma perspectiva moralista e
conservadora. Efetivar ações que atendam a essas demandas exige a implementação
de várias políticas públicas intersetoriais, que atuem em uma rede de atenção
integral.
Não foram realizadas discussões sobre a medida. ONGs,
profissionais da área e dos serviços municipais e estaduais e demais
organizações não debateram a saúde dos usuários envolvidos. O processo não está
sendo democrático.
Diante desse cenário, destaca-se a necessidade da ampliação
do debate sobre o uso de drogas na realidade brasileira, na sua relação com a
desigualdade social, reforçando a luta em defesa aos direitos humanos. A
condição dos usuários de drogas não retira dessas pessoas o direito à autonomia
e a uma vida plena de realizações.
2 comentários:
O picolé de chuchu corre o risco de outro fiasco. Imagine se um bom número de dependentes procurar a internação. Vai ter lugar para todo mundo?
Na verdade, essa medida é um factóide, da escola do Cesar Maia, para responder ás angústias da massa cheirosa, mas que não vai nem diminuir o problema.
Apoio, sou fã e replico a maioria das suas opiniões, mas nessa, sou totalmente contra. Internação compulsória é uma necessidade social!
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