Foto: João Zinclar |
Adestrado, cevado no cocho neoliberal, quer trotar seus dotes; reclama serviço.
'É preciso travar Lula!" - antes que ele destrave o país, os investimentos, os empresários... etc.
As ventas cospem impaciência.
Ressentem-se do ginete que lhe afrouxe a brida mas conduza a rédea. Sem o quê os coices se espalham a esmo.
Não raro no próprio traseiro.
O recente fiasco da 'emergência elétrica', por exemplo.
Desmoralizado nas páginas da economia e da meteorologia, mostra o estrago dos arranques sem rumo, sem discernimento, nem apuro.
Coisa de mula sem cabeça - e a metáfora traz o desconfortável visgo da pertinência.
O conservadorismo brasileiro detém os meios - as baias ressoam sofreguidão; faltam-lhe os fins, o discurso claro, convincente; a meta crível, o projeto pertinente que conquiste os corações do país.
O 2014 tucano está sendo programado pelos professores-banqueiros do PSDB. Banqueiros --como seria o novo Brasil dos banqueiros?
Clareza e votos são imiscíveis neste caso e nessa hora.
Melhor não levar as convicções ao campo aberto.
No escrutínio da história, o saldo da desordem neoliberal escancara perdas econômicas e danos sociais inexcedíveis desde 1929.
Um fardo.
A transparência, ao contrário, favorece o governo, autoriza a agenda progressista a avançar o passo seguinte do desenvolvimento brasileiro.
Mas para isso é preciso debater certas questões de forma clara e democrática.
É incontornável dispor de canais para discutir a densidade das perguntas e pactuar a hierarquia das prioridades.
Não é tema que se esgote na lógica mercadista.
O que é preciso para completar a cidadania de quem saiu da soleira da porta, do lado de fora do país, abriu conta em banco, ingressou no mercado de consumo e quer ir além?
A transparência da crise afrouxa os interditos ao debate e amplia o horizonte à reordenação que ele enseja.
Mas essa vantagem cobra um preço justo para o seu desfrute: não ter medo da história.
O desassombro hoje é um requisito da confiança da sociedade no governo.
Como confiar em quem hesita diante dos próprios trunfos?
'Confiança' é a palavra-ônibus que catalisa a disputa política nos dias que correm.
O conservadorismo embarca seus interesses nesse veículo complacente. E as manchetes ecoam prestimosas..
Por exemplo:
"Baixo investimento reflete rejeição ao intervencionismo estatal, não há confiança no ambiente de negócios" (com R$ 45 bi em isenções fiscais em 2012 e R$ 53 bi previstos em 2013; ademais da ampla desoneração prevista nas folhas de pagamento?);
"O superávit primário foi maquiado" (mas a relação dívida/PIB de 36% não é uma das mais baixas do mundo? E não é fato que pode ser mantida assim com um superávit à metade do perseguido atualmente, de 3% do PIB?);
"O nível dos reservatórios prenuncia um apagão iminente" (chove acima da média no Rio, SP, MG, ES, TO E DF, segundo o Cptec);
"A inflação está sem controle" (preços recuam no atacado e sinalizam tendência futura, diz a FGV);
"O juro terá que subir em algum momento" (é negativo em boa parte do mundo e a taxa real do país, mesmo no seu menor patamar histórico, ainda é das mais altas);
"Os fundos internacionais (NR: os especulativos) batem em retirada do país"(o Brasil recebeu US$ 60 bi em investimentos produtivos em 2012, explica o BC);
"O 'tripé' ficou manco, o câmbio não flutua" (o dólar livre e alto é a festa dos operadores rentistas que fazem arbitragem e a desgraça da indústria local afogada em importações)
"País tende à estagflação, com preços em alta e demanda em queda" (fatos: vendas de automóveis crescem 26,7% na primeira quinzena de janeiro na comparação anual , diz a Fenabrave; Brasil terá a maior expansão de vagas entre as dez maiores economias do mundo em 2013; 71% das empresas pretendem ampliar seu quadro, anuncia a CareerBuilder; vendas de passagens aéreas devem crescer 9,5% no país em 2013, informa a Abear; consumo das famílias cresce há três anos consecutivos, mostra o IBGE; indústria brasileira inverte tendência de queda e cresce 2,5% em novembro de 2012, sinaliza a CNI).
Se essa é a qualidade do combustível conservador, por que, afinal, o investimento patina, abaixo dos 25% do PIB, o mínimo requerido a um crescimento rápido?
Excesso de Estado?
O Estado brasileiro investia 11% do PIB, em média, entre os anos 60 até meados dos anos 70.
Hoje, a União investe 1,5% do PIB.
O aparelho público de precariedade imaginável daquele período regrediu no cepo neoliberal até naquilo que reconhecidamente fazia bem.
Desaprendeu a planejar e a executar grandes obras de infraestrutura, inclusive nas especialidades em que o país já foi referência mundial, caso de hidrelétricas, por exemplo.
Das 28 hidrelétricas em construção hoje, 20 estão com atraso.
Não é um problema específico da esfera federal.
O setor público foi programado para não funcionar em todo o país.
Seu controle (asfixia?) foi sofisticado. Amarras e interditos exacerbados. A eficiência foi deliberadamente exposta a uma corrosão abrangente, material, funcional e ideológica. Favorável aos interesses mercadistas e privatistas. Deletéria ao país.
Autoproclamada eficiente, a gestão tucana em SP, há 18 anos no poder, não consegue, por exemplo, fazer mais que 1,9 km de metrô por ano. São Paulo tem 74,3 kms de rede metroviária-- a menor entre as grandes capitais do mundo; a da Cidade do México tem 210 kms.
Cálculo da BBC: com 402 kms o metrô de Londres cresce em média 2,68 km por ano; mantido esse ritmo - e a 'eficiência' tucana, levaria 172 anos para São Paulo alcançar Londres.
Em frente.
O aparelho público que a ortodoxia abomina, assim como o mercado interno de massa que seus colunistas desdenham, representam, na verdade, as duas grandes turbinas capazes de afrontar o contágio da estagnação mundial no Brasil.
Mas tudo passa - esbarra, por enquanto - pela conquista da confiança do capital privado, cuja participação é indispensável num novo ciclo de crescimento.
Confiança, bem entendido, significa para o capitalista o seguinte: a certeza de colocar seu dinheiro num projeto com retorno futuro superior ao das aplicações financeira; acrescido de um bônus pela liquidez inferior do investimento em longo prazo.
O governo Dilma tem espetado importantes estacas para reverter a 'preferência mórbida pela liquidez' consagrada nos anos liberais de FHC, Malan, Armínio e Selic de até 42% reais...
Sob coices e advertências das redações, derrubou a Selic de 12,5% para 7,25% entre agosto de 2011 e outubro de 2012.
Desmontou o piso da poupança e tem pressionado a banca a reduzir o spread e a ampliar o crédito usando os bancos públicos como guincho e alavanca.
Concedeu o equivalente a 1% do PIB em incentivos fiscais à produção no ano passado.
Anunciou um pacote adicional de infraestrutura de R$ 133 bilhões, incluindo rodovias, ferrovias, portos e aeroportos.
Está fazendo o certo.
Rédea curta nos juros, mantidos em patamares mínimos para não rivalizar com as expectativas de retorno da aplicação produtiva.
Um processo de redistribuição de renda persistente (aumento do salário mínimo, programas sociais, pleno emprego etc) para acelerar o encolhimento dos estoques industriais. Isso realimenta o ciclo de expansão, evita seu esgotamento precoce. Gera um ambiente encorajador à ampliação de capacidade produtiva.
O que falta, então, para conquistar a confiança do capital privado e as coisas acontecerem?
Falta audácia, por exemplo, para exercer a nova legitimidade do Estado indutor num mundo fraturado pela desordem neoliberal.
Mas, sobretudo, talvez, a questão principal não esteja na palavra confiança. Ou talvez aquilo que o keyenesianismo chama de confiança tenha uma tradução mais completa na palavra hegemonia.
Hegemonia não se conquista apenas com a boa gestão econômica.
A 'obsessão mórbida pela liquidez' naturalmente lê jornais e acompanha a luta política.
A mídia nativa e a forânea, irmanadas nos mesmos ideais, como se pode observar em episódios recentes, a exemplo do polêmico ajuste do superávit de 2012, borrifa densa neblina de incerteza na sociedade: a macroeconomia do governo não tem coerência, não há consistência no tripé, tampouco viabilidade no longo prazo.
A começar pela alavanca do mercado interno de massa, que se desqualifica e se minimiza. Um fenômeno assistencial 'insustentável', cravam os sábios tucanos e seus aprendizes de orelha e holerite.
A confiança, vista desse mirante, não é um saldo cumulativo de incentivos fiscais, mas um campo conflagrado.
Nada que se contabilize de forma pacífica, linear, como parece acreditar o governo na sua gradual rotina de anúncios e medidas.
A confiança é uma das esferas da luta pela hegemonia. Uma queda de braço bruta, e sem volta, estampada e vocalizada em espiral ascendente pelo dispositivo midiático conservador.
É sobretudo nessa frente que o desempenho de Brasília deixa a desejar.
Desde setembro de 2008, certas coisas ficaram ostensivamente disfuncionais no mundo e na macroeconomia dominante.
Vivemos o esgotamento de um ciclo histórico.
A força da ideologia, porém, ainda mantém a vigência de certos anacronismos no mundo dos vivos, confundindo-se com eles.
O noticiário dispensa-lhes tratamento equivalente e respeitoso. Como se a ordem das coisas permanecesse inalterada, depois que o cemitério do desemprego recebeu as carcaças de 50 milhões de vítimas, dificilmente ressuscitáveis, de um serial killer chamado 'mercados autorreguláveis'.
Vulgo, vale tudo neoliberal.
Os artífices e instrumentos da matança persistem no mundo dos vivos como zumbis históricos e nisso reside o seu maior perigo.
Zumbis são mortos que matam.
No caso brasileiro, extraem a força letal do medo que os vivos tem de ocupar seu papel na história.
E, sobretudo, de erguer a partir daí uma nova hegemonia, capaz de irradiar a confiança num novo ciclo de desenvolvimento.
Autoproclamada eficiente, a gestão tucana em SP, há 18 anos no poder, não consegue, por exemplo, fazer mais que 1,9 km de metrô por ano. São Paulo tem 74,3 kms de rede metroviária-- a menor entre as grandes capitais do mundo; a da Cidade do México tem 210 kms.
Cálculo da BBC: com 402 kms o metrô de Londres cresce em média 2,68 km por ano; mantido esse ritmo - e a 'eficiência' tucana, levaria 172 anos para São Paulo alcançar Londres.
Em frente.
O aparelho público que a ortodoxia abomina, assim como o mercado interno de massa que seus colunistas desdenham, representam, na verdade, as duas grandes turbinas capazes de afrontar o contágio da estagnação mundial no Brasil.
Mas tudo passa - esbarra, por enquanto - pela conquista da confiança do capital privado, cuja participação é indispensável num novo ciclo de crescimento.
Confiança, bem entendido, significa para o capitalista o seguinte: a certeza de colocar seu dinheiro num projeto com retorno futuro superior ao das aplicações financeira; acrescido de um bônus pela liquidez inferior do investimento em longo prazo.
O governo Dilma tem espetado importantes estacas para reverter a 'preferência mórbida pela liquidez' consagrada nos anos liberais de FHC, Malan, Armínio e Selic de até 42% reais...
Sob coices e advertências das redações, derrubou a Selic de 12,5% para 7,25% entre agosto de 2011 e outubro de 2012.
Desmontou o piso da poupança e tem pressionado a banca a reduzir o spread e a ampliar o crédito usando os bancos públicos como guincho e alavanca.
Concedeu o equivalente a 1% do PIB em incentivos fiscais à produção no ano passado.
Anunciou um pacote adicional de infraestrutura de R$ 133 bilhões, incluindo rodovias, ferrovias, portos e aeroportos.
Está fazendo o certo.
Rédea curta nos juros, mantidos em patamares mínimos para não rivalizar com as expectativas de retorno da aplicação produtiva.
Um processo de redistribuição de renda persistente (aumento do salário mínimo, programas sociais, pleno emprego etc) para acelerar o encolhimento dos estoques industriais. Isso realimenta o ciclo de expansão, evita seu esgotamento precoce. Gera um ambiente encorajador à ampliação de capacidade produtiva.
O que falta, então, para conquistar a confiança do capital privado e as coisas acontecerem?
Falta audácia, por exemplo, para exercer a nova legitimidade do Estado indutor num mundo fraturado pela desordem neoliberal.
Mas, sobretudo, talvez, a questão principal não esteja na palavra confiança. Ou talvez aquilo que o keyenesianismo chama de confiança tenha uma tradução mais completa na palavra hegemonia.
Hegemonia não se conquista apenas com a boa gestão econômica.
A 'obsessão mórbida pela liquidez' naturalmente lê jornais e acompanha a luta política.
A mídia nativa e a forânea, irmanadas nos mesmos ideais, como se pode observar em episódios recentes, a exemplo do polêmico ajuste do superávit de 2012, borrifa densa neblina de incerteza na sociedade: a macroeconomia do governo não tem coerência, não há consistência no tripé, tampouco viabilidade no longo prazo.
A começar pela alavanca do mercado interno de massa, que se desqualifica e se minimiza. Um fenômeno assistencial 'insustentável', cravam os sábios tucanos e seus aprendizes de orelha e holerite.
A confiança, vista desse mirante, não é um saldo cumulativo de incentivos fiscais, mas um campo conflagrado.
Nada que se contabilize de forma pacífica, linear, como parece acreditar o governo na sua gradual rotina de anúncios e medidas.
A confiança é uma das esferas da luta pela hegemonia. Uma queda de braço bruta, e sem volta, estampada e vocalizada em espiral ascendente pelo dispositivo midiático conservador.
É sobretudo nessa frente que o desempenho de Brasília deixa a desejar.
Desde setembro de 2008, certas coisas ficaram ostensivamente disfuncionais no mundo e na macroeconomia dominante.
Vivemos o esgotamento de um ciclo histórico.
A força da ideologia, porém, ainda mantém a vigência de certos anacronismos no mundo dos vivos, confundindo-se com eles.
O noticiário dispensa-lhes tratamento equivalente e respeitoso. Como se a ordem das coisas permanecesse inalterada, depois que o cemitério do desemprego recebeu as carcaças de 50 milhões de vítimas, dificilmente ressuscitáveis, de um serial killer chamado 'mercados autorreguláveis'.
Vulgo, vale tudo neoliberal.
Os artífices e instrumentos da matança persistem no mundo dos vivos como zumbis históricos e nisso reside o seu maior perigo.
Zumbis são mortos que matam.
No caso brasileiro, extraem a força letal do medo que os vivos tem de ocupar seu papel na história.
E, sobretudo, de erguer a partir daí uma nova hegemonia, capaz de irradiar a confiança num novo ciclo de desenvolvimento.
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