quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Um pito na Globo, em plena Globo

Por Paulo Donizetti de Souza, na Rede Brasil Atual:

O professor de Relações Internacionais da USP José Augusto Guillon e a apresentadora Mônica Waldvogel, do programa Entre Aspas, da Globonews, chegaram ao limite da gagueira, ontem (18), durante debate a respeito da crise na Venezuela com a participação do jornalista Igor Fuser, do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC). O debate começa dirigido, ao oferecer como gancho para a discussão a figura de Leopoldo López, o líder oposicionista acusado de instigar a violência nos protestos das últimas semanas, e preso ontem.

Diz a narração de abertura: “Ele é acusado de assassinato, vandalismo e de incitar a violência. Mas o verdadeiro crime de Lopez, se podemos chamar isso de crime, foi convocar uma onda de protesto contra o governo de Nicolás Maduro. Protestos seguidos de confrontos que deixaram quatro mortos e dezenas de feridos”. E segue descrevendo que a violência política decorre da imensa crise no país – inflação, falta de produtos nas prateleiras, criminalidade em alta.

Ainda no texto de abertura, na voz de Mônica, o governo é acusado de controlar a economia e a Justiça, pressionar a imprensa e lançar milícias chavistas contra dissidentes. E encerra afirmando que Leopoldo Lopez, na linha de frente, reivindica canais de expressão para os venezuelanos, e abrem-se as aspas para Lopez: “Se os meios de expressão calam, que falem as ruas”.

Do início ao fim do debate, com serenidade e domínio sobre o assunto, Igor Fuser leva a apresentadora e o interlocutor às cordas. Reconhece as dificuldades políticas do presidente Nicolás Maduro e a divisão da sociedade venezuelana. Mas corrige os críticos, ao enfatizar que o país vive uma democracia, e opinar que a campanha liderada por López é “golpista”, ao ter como mote a derrubada do governo legitimamente eleito com mandato até 2019.

Fuser informa que em dezembro se cristalizou um processo de diálogo entre governo e oposição, então liderada por Henrique Capriles, derrotado nas duas últimas eleições presidenciais por margem muito pequena de votos. E que a disposição ao diálogo levou a direita mais radical a isolá-lo, permitindo a ascensão de figuras como Leopoldo López.

Indagado se não seria legítimo as manifestações da ruas pedirem a saída do governo, como foi no Egito ou está sendo na Ucrânia, o professor da UFABC resume que as manifestações na Ucrânia são conduzidas por nazistas, e no Egito a multidão protestava contra uma ditadura. Lembra que na Venezuela houve quatro eleições nos últimos 15 meses, que o chavismo venceu todas no plano federal, mas que as oposições venceram em cidades e estados importantes, governam normalmente e as instituições funcionam, e que a Constituição é cumprida.

Questionado sobre a legitimidade da Constituição – que teria sido aprovada apenas por maioria simples – informou que a Carta, depois de passar pelo Parlamento, foi submetida a referendo popular e aprovada por 80% dos venezuelanos – o que inclui, portanto, mais da metade dos que hoje votam na oposição. E à ironia dos debatedores, de que seria paranoia das esquerdas acusar os Estados Unidos de patrocinar uma suposta tentativa de golpe, esclareceu: os Estados Unidos estiveram por trás de tantos golpes da América Latina – na Guatemala nos anos 1950, no Brasil em 1964, no Chile em 1973, na própria Venezuela em 2002 – que não é nenhum absurdo supor que estejam por trás de mais um. E que também não é absurdo, em nenhum país do mundo, expulsar diplomatas que se reúnem com a oposição como se fossem dela integrantes.

O jornalista desmontou também os argumentos de que o país sofre de ausência de liberdade de expressão. Disse que o governo dispõe, de fato, de jornais, canais de rádio e de televisão importantes, mas que dois terços dos veículos de imprensa da Venezuela são controlados por forças oposicionistas. E que o que existe na Venezuela seria, portanto, a possibilidade de contraponto. E Fuser foi ferino no exemplo dos problemas que a ausência de diversidade nos meios de comunicações causam à qualidade da informação:

“Sou jornalista de formação e nunca vi nem na Globo nem nos jornais brasileiros uma única notícia positiva sobre a Venezuela. Uma única. A gente pode ter a opinião que a gente quiser sobre a Venezuela, é um país muito complicado. Agora, será que em 15 anos de chavismo não aconteceu nada positivo? Eu nunca vi. Não é possível que só mostrem o que é supostamente ruim. Cadê o outro lado? Será que os venezuelanos que votaram no Chávez e no Maduro são tão burros, de votar em governo que só faz coisa errada?”

Vale a pena assistir aos 26 minutos de programa. Essa crítica à Globo em plena Globo está nos dois minutos finais.

E fecha aspas! Fecha aspas!

7 comentários:

Unknown disse...

PRECISAMOS MOSTRAR O VIDEO DESSE PROGRAMA PARA DESMASCARAR A PIG

Anônimo disse...

O editorial do amiguinho da CIA William Waack no dia da morte de Chavez foi uma coisa de dar engulhos. Se é de esquerda a Globo não só é contra como quer que matem e esfolem...

Ignez disse...

Tiraram o vídeo : "não está disponível na web". É sempre assim. Algo desmente os pseudo-jornalistas "defensores" da liberdade de expressão?". Pronto... não se vê mais... Parabéns Igor Fuse por dar oportunidade de mostrar fatos. A Globo não informa, nem mostra a realidade ela desinforma e distorce.

Ricardo G. Ramos disse...

O jornalista Igor Fuser dá um banho de informação democrática no programa global apresentado pela eterna gaguejante Mônica Waldevogel, quando vê sua pauta contrariada por opiniões divergentes. Na defesa da voz do dono aliou-se ao outro gago, professor da USP, José Augusto Guillon, defensor dos EUA e de um golpe na Venezuela. Fecha "caspas".

Gilson Raslan disse...

Parabéns ao Igor Fuse por desafiar a Globo em seu próprio quintal.
O uspiano barba branca, quando jogado nas cordas, teve como saída um sorriso cínico.
A apresentadora interrompia o Igor Fuse a todo momento, quando ele argumentava contra a oposição golpista da Venezuela.
Gostei de todas as intervenções do Igor Fuse, mas uma especificamente deixou os dois patetas do programa ao perguntar: "será que o povo venezuelano é tão BURRO, a ponto de eleger governantes que só lhe fazem mal"?

Ivana Franca disse...

Parabéns Prof./jornalista Igor Fruser,
Vibrei muito. O programa "Entre Caspas", como diz Paulo Henrique Amorim, mesmo sem querer, apresentou um contraponto importante. A Mônica e o pelego convidado ficaram gagos. KKK
Blogueiros, divulguem esse vídeo!!!
Ivana

Anônimo disse...

Eu assisti, foi hilário! A Mônica ficou perdida, o coração foi na boca. Esta com os dias contados na Globo. Pode ir para os classificados.