segunda-feira, 10 de março de 2014

A briga pelo leitor domingueiro

Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
 

Um detalhe interessante da Pesquisa Brasileira de Mídia 2014 – Hábitos de consumo da população brasileira, divulgada nesta sexta-feira (7/3) pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, é a percepção de uma convergência de públicos entre o jornal impresso e a revista semanal de informação. Os números indicam que apenas 6% dos brasileiros costumam ler jornais de papel diariamente, enquanto os demais se interessam por esse meio uma vez por semana. A maioria deles são leitores de jornais baratos ou gratuitos.

Além de confirmar que os meios noticiosos impressos continuam perdendo relevância entre as escolhas das pessoas para se informar, esse aspecto do estudo mostra que a situação é ainda mais penosa para as revistas do que para os jornais.

Outra evidência que pode ser observada é o fato de que, mesmo entre leitores assíduos, o formato mais clássico do jornalismo está longe de representar a maneira como as pessoas se informam sobre assuntos considerados mais importantes: a preferência é por notícias locais (33% das citações), seguida de esportes (25%), notícias policiais (16%) e fofocas sobre novelas e celebridades (16%).

No quadro geral, pode-se notar uma clara tendência à migração da audiência para os meios digitais que usam o ambiente da internet, apontando para uma mudança no padrão de investimentos em publicidade e outras formas de estímulo ao mercado. Isso porque, embora a televisão continue sendo o meio que concentra o maior número de usuários durante grande parte do dia, o crescimento da internet se dá nos grupos que definem o consumo no país. As características demográficas de cada segmento da mídia induzem à conclusão de que os mais educados, mais jovens e de maior renda trocam a TV pela web, o que naturalmente atrai receita de anunciantes.

Quanto à disputa específica entre as revistas semanais e os jornais de fim de semana, algumas ponderações podem ajudar a entender como os diários, lidos numa base semanal, começam a ampliar sua vantagem na luta pela sobrevivência.

Em primeiro lugar, observe-se que uma boa reportagem ou entrevista de duas páginas num caderno de domingo como o “Aliás”, do Estado de S, Paulo, ou a “Ilustríssima”, da Folha de S. Paulo, equivale, em volume de informação, ao texto mais alentado de uma revista como Veja, Época, IstoÉ ou Carta Capital.

Leve-se em conta, ainda, que alguns dos grandes jornais também publicam revistas semanais.

O destino do papel
Com relação ao conteúdo, note-se que os jornais parecem ter mais agilidade ao preparar seus materiais fora do núcleo de economia e política, soltando-se mais facilmente do controle editorial centralizado, o que permite eventualmente surpreender o leitor.

É o caso, por exemplo, da entrevista com Clara Charf, viúva do guerrilheiro Carlos Marighella, publicada pelo Estado no domingo (9/3), em referência ao Dia Internacional da Mulher. Ou da resenha publicada pela Folha no mesmo dia, com uma análise do movimento chamado Black Bloc que se desvia de conceitos simplistas publicados até então pela imprensa brasileira.

Compare-se, por exemplo, a entrevista do Estado com a edição da revista Época dedicada às mulheres: na revista da Editora Globo, a reportagem principal destaca mulheres “que chegaram lá”, reforçando o estereótipo machista que divide o mundo entre “vencedores” e os demais. Na capa, a imagem de uma jovem piloto de caça e instrutora de voo, em postura viril, remete à ideia de que, para vencer na vida, as mulheres precisam se masculinizar.

Deve-se considerar, também, que o público tende a se preocupar cada vez mais com o destino da matéria com que são feitas as coisas. Além de haver uma legislação específica determinando que todo produto industrializado deve ser elaborado levando-se em consideração o descarte correto depois de seu uso, pode-se afirmar que há uma consciência geral da necessidade de reaproveitar, reciclar ou destinar corretamente o papel de jornais e revistas.

Como as publicações noticiosas têm uma vida útil muito curta, essa questão precisa se levada em conta. Nesse ponto, os jornais levam outra importante vantagem: lá no fim do processo, o papel do jornal é mais útil do que o da revista no cuidado com os dejetos de animais domésticos, por exemplo.

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