domingo, 16 de março de 2014

Plano Real: O PSDB no retrovisor

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

Muitas coisas me incomodam nos festejos de 20 anos do Real.

Nem vou falar que estão comemorando o Real quando quem faz aniversário, nesses dias, é a URV. Marketing?

Nem vou falar que o presidente que criou o Real foi Itamar Franco, que merecia um lugar de honra em cada celebração, em cada discurso.

Talvez para dar a impressão de que era uma obra única, exclusiva, muitos tucanos gostam de fingir que o presidente que assinou o URV e o Real foi uma Rainha da Inglaterra nessa história. Está errado. Para quem até hoje reclama direitos autorais pelo Bolsa Família, é muito feio ignorar o papel de Itamar Franco

Outro aspecto é que a celebração tornou-se um encontro nostalgias da década de 1990, quando o pensamento neoliberal dava a impressão que iria durar para sempre.

De lá para cá nós tivemos o colapso da paridade cambial, que levou a falência dos grandes grupos econômicos brasileiros, que chegaram de joelhos ao final do governo FHC.

Também tivemos a crise de 2008, a maior da história do capitalismo desde 1929.

Nesses momentos, como o PSDB reagiu?

Sempre se recusou a fazer o contra-ciclo da recessão econômica, lição básica de John M Keynes para principiantes.

A política monetária de Pedro Malan apenas aprofundava as crises, aumentava o desemprego. Pagando juros cada vez mais altos, explodiu as contas do Estado e gerou mais inflação.

Apesar disso, nossos sábios comemoram o Real, e reclamam que a população não tem memória. É exatamente o contrário. E é isso que torna difícil competir em 2014.

Sonham em fazer o mundo voltar a 1994 quando, por merecidas razões, Fernando Henrique e o PSDB tiveram, pela primeira e até hoje única vez em sua existência, uma ligação real com as camadas pobres do povo.


É curioso que Gustavo Loyola, um dos inúmeros presidentes do BC no governo Fernando Henrique – o que dá uma ideia da instabilidade uma instituição que os tucanos querem tornar independente – chegou a reclamar que tudo ficou pior na economia brasileira depois de 2008.

Pois é. Em 2008 o mundo quebrou e o Brasil ficou de pé depois de um tropeção. A economia voltou a crescer. Os empregos continuaram em alta, o mercado interno se ampliou, a distribuição de renda prosseguiu. Ainda hoje, o desemprego é o menor da história e o crescimento em 2013, que todo mundo sabe que não foi grande coisa, já superou a média dos oito anos de FHC.

A partir de uma injeção generosa de recursos públicos nas linhas de crédito e outros estímulos, o Estado brasileiro faz o contra-ciclo a partir de 2008. Quem estava no ciclo virou a Grécia, Espanha, Itália, subjugados pela prioridade máxima do Banco Central europeu em preservar os investimentos financeiros alemães. Queriam ajudar o mercado a fazer seu serviço, destruindo benefícios e conquistas histórica do bem-estar social.

O Brasil foi para o contra ciclo. Não vamos falar que ficou tudo as mil maravilhas. Mas imagine quem se deu melhor.

Eu sei, você sabe.

Mas a turma que se reuniu para festejar a URV dizendo que era aniversário do Real sempre acreditou no fim da história e na supremacia definitiva do mercado sobre todas as coisas.

Acreditou tanto que seu Banco Central tinha criado uma moeda imortal que estimulou os empresários a enfiar o pé na jaca das dívidas em dólar. Quando a canoa virou, todos naufragaram. Nossas reservas eram uma casca de ovo, o que deveria levar a turma a lembrar que em 2014 temos reservas de 300 e tantos bilhões de dólares em vez de estimular o terrorzinho das agências de risco, o que é muito feio para autoridades que já ocuparam postos de alta responsabilidade num Estado nacional e sabem a diferença que isso faz.

Em 2008, o governo tucano de São Paulo preparou um plano de demissão em massa para enfrentar a crise. Queriam até suspender a CLT por seis meses – o que iria dar até uma crise política de bom tamanho.

Loucura?

Nem tanto. Para Pérsio Arida, um dos presentes na festa da URV, o “Estado deveria funcionar com uma empresa privada.”

Ninguém esqueceu como o ministro do Trabalho de FHC falava de desemprego. Era “empregabilidade.” Não era vida real. Era debate teórico.

Assim, na crueldade.

Com tais receitas, a Dilma deveria abrir mão do horário politico e pedir para esse povo defender essas ideias na TV. Deveria mandar o Eduardo Cunha levar sua turma para a campanha da oposição.

Assim eles teriam todo tempo do mundo para explicar como o Brasil era tão bom que foi parar no FMI, que só assinou a acordo depois que os sucessores de FHC também assinaram. Quanta credibilidade, não?

Poderiam lembrar que o governo era tão querido que tinha popularidade negativa em 13 pontos, coisa de protestos de junho sem os protestos de junho.

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