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O fiasco da seleção brasileira de futebol segue na pauta da imprensa nacional, que acompanha as mudanças prometidas pela Confederação Brasileira de Futebol, mas não faz cobranças ostensivas.
A semana se encerra com o anúncio, publicado nos jornais desta sexta-feira (18/7), de que o ex-goleiro e empresário de atletas Gilmar Rinaldi será o coordenador de seleções de futebol, encarregado de reformular o modelo que produziu o fracasso das três últimas Copas.
A imprensa se refere de passagem ao evidente conflito de interesses que representa a entrega do cargo a um agente credenciado para negociar contratos desde 1999 e que atua como intermediário entre jogadores e clubes há 14 anos.
O Globo, por exemplo, chama essa circunstância de “controversa” e aceita como iniciativa para superar a condição ambígua de Rinaldi sua afirmação de que já enviou uma mensagem aos clientes que lhe restam, comunicando que está encerrando a atividade como empresário.
Com trânsito fácil nos bastidores do futebol e relações proveitosas com os dirigentes da CBF, ele personifica a manutenção de tudo que levou ao pífio desempenho da equipe brasileira na Copa encerrada no domingo passado. Não bastasse o fato de ter lucrado durante 15 anos com o sistema que mantém o esporte nacional atrelado a interesses de fora dos gramados, ele se comprometeu, ainda antes de ser nomeado, a manter tudo como está. No sábado (12/7), ele publicou no Twitter a senha para sua escolha: “Não é o momento de sonhar com mudança na CBF”, afirmou.
Para exercer seu papel, Gilmar Rinaldi terá que superar as desconfianças que surgem naturalmente pelo fato de ter exercido, até horas antes de ser anunciado oficialmente no novo cargo, uma atividade que costuma ser envolvida em transações prejudiciais ao futebol.
O Estado de S. Paulo lembra que, desde o final dos anos 1990, pelo menos dois técnicos da seleção brasileira foram acusados por parlamentares de utilizar o cargo para promover jogadores ligados a empresários de confiança. O jornal paulista deixa em dúvida a credibilidade de Rinaldi desde o título da reportagem principal: “CBF escala empresário de jogador”.
A outra Copa
No Estado, como na Folha de S. Paulo, destaque para uma manifestação do deputado federal Romário de Souza Faria (PSB-RJ), desafeto declarado do novo coordenador da CBF desde 1999, quando Rinaldi era diretor do Flamengo: “É inadmissível. Ele é empresário de vários jogadores. É incompetente e sem personalidade. Vai fazer da CBF um balcão de negócios para defender seus interesses”, disparou o ex-jogador.
Essa foi a referência mais direta colhida pelos jornais ao fazer a repercussão da escolha feita pelos dirigentes da CBF. A imprensa não considera que, mesmo sem contratos formais, o ex-empresário pode continuar recebendo comissões de jogadores, o que o torna inadequado para o cargo.
Na televisão, destaque para o programa SBT Repórter, comandado pelo jornalista Roberto Cabrini (ver aqui), exibido exatamente na quinta-feira (17/7), dia da nomeação de Gilmar Rinaldi. Com um roteiro básico, a equipe de Cabrini rastreou um falso jogador de futebol e demonstrou como intermediários não credenciados atuam em conjunto com agentes oficiais e dirigentes de clubes para ganhar dinheiro fácil.
Com o título “Os porões do futebol: raízes da humilhação”, a reportagem mostra como o sistema pode conduzir toda a estrutura do esporte a um momento vexatório como a goleada sofrida pelo Brasil diante da Alemanha.
Trata-se de uma investigação surpreendentemente simples, quase linear, que vai destrinchando o esquema de intermediações, propinas, trocas de favores, desde um clube do interior de São Paulo até o nível máximo a que pode aspirar um atleta de futebol.
No conjunto, o trabalho de Cabrini mostra como se formam as máfias do futebol, conectando um complexo de evidências que aparecem aqui e ali, de vez em quando, em denúncias feitas por alguns jornalistas especializados, como Juca Kfouri.
O SBT, que ficou de fora da cobertura oficial da Copa, investiu em outros aspectos do torneio, como a exploração sexual de meninas e adolescentes nas cidades que sediaram os jogos, tema de outro SBT Repórter (ver aqui).
Difícil imaginar um trabalho como esse na grade da Globo, por exemplo, uma vez que a emissora mantém relações de negócio com a CBF e se beneficia com as transmissões dos principais eventos organizados pela entidade.
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