Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:
Se o Brasil precisava de um simbolismo para alertar a sociedade quanto à ascensão dessa direita hidrófoba, racista, misógina, homofóbica que estamos vendo, não precisa mais.
Escrevo no domingo de Páscoa. Hoje, pela fé cristã, a ressureição de Jesus Cristo completou 1982 anos. Filho da mulher chamada Maria, tombou vitimado pela ignorância, pela covardia e pela mesma ferocidade humana que quase dois milênios depois levaram um Jesus de novo.
O Jesus que a iniquidade humana levou na semana passada não era Cristo, não era loiro, branco nem adulto; era Ferreira, era negro e era uma criança.
O Jesus que um arremedo de homem levou não curou enfermos, não transformou água em vinho, não operou qualquer milagre. Apesar de também ter nascido de uma mulher chamada Maria, não deixou “salvação” com a sua morte.
Ao contrário: a morte do menino nos imputa culpa. Somos culpados, os brasileiros, por permitirmos que o fascismo tenha ascendido ao ponto de estarmos discutindo o encarceramento de jovens que deveríamos educar.
À semelhança de Jesus Cristo, porém, Jesus Ferreira também virou vítima da difamação: ontem, pelos Romanos; hoje, pela direita furibunda que vai se apossando da nação: estão espalhando por aí que a criança morta pelo Estado era criminosa.
Arremedos de seres humanos espalharam pelas redes sociais imagem de um garoto do mesmo porte físico de Jesus segurando um fuzil, tentando fazer crer que um e outro são a mesma pessoa.
Suspeita-se que a trapaça tenha sido urdida pelos defensores da redução da maioridade penal, que querem justificar a própria estupidez com uma mentira tão hedionda que obrigou a professora do Jesus contemporâneo a vir a público esclarecer que seu aluno não era bandido.
Apesar de algumas poucas semelhanças, as enormes diferenças entre o Jesus bíblico e o Jesus contemporâneo se completam com a não-ressurreição de Jesus Ferreira. Ele não ressuscitará ao terceiro dia. Nem nunca. A menos que não deixemos sua lembrança morrer.
Em um tempo em que os ideais são tão escassos, porém, tal esperança parece otimismo exagerado.
Como esperar que o simbolismo impressionante da morte do Jesus carioca ajude a salvar não a humanidade, mas o país dessas bestas-feras que querem jogar crianças em masmorras medievais? Estamos caminhando para a estupidez, não para a sabedoria.
Perdoe-me, leitor, mas não tenho mais esperança. Vendo o mundo vil que temos hoje, a conclusão parece inescapável: Jesus Cristo, há 1982 anos, morreu em vão tanto quanto Jesus Ferreira, semana passada.
Escrevo no domingo de Páscoa. Hoje, pela fé cristã, a ressureição de Jesus Cristo completou 1982 anos. Filho da mulher chamada Maria, tombou vitimado pela ignorância, pela covardia e pela mesma ferocidade humana que quase dois milênios depois levaram um Jesus de novo.
O Jesus que a iniquidade humana levou na semana passada não era Cristo, não era loiro, branco nem adulto; era Ferreira, era negro e era uma criança.
O Jesus que um arremedo de homem levou não curou enfermos, não transformou água em vinho, não operou qualquer milagre. Apesar de também ter nascido de uma mulher chamada Maria, não deixou “salvação” com a sua morte.
Ao contrário: a morte do menino nos imputa culpa. Somos culpados, os brasileiros, por permitirmos que o fascismo tenha ascendido ao ponto de estarmos discutindo o encarceramento de jovens que deveríamos educar.
À semelhança de Jesus Cristo, porém, Jesus Ferreira também virou vítima da difamação: ontem, pelos Romanos; hoje, pela direita furibunda que vai se apossando da nação: estão espalhando por aí que a criança morta pelo Estado era criminosa.
Arremedos de seres humanos espalharam pelas redes sociais imagem de um garoto do mesmo porte físico de Jesus segurando um fuzil, tentando fazer crer que um e outro são a mesma pessoa.
Suspeita-se que a trapaça tenha sido urdida pelos defensores da redução da maioridade penal, que querem justificar a própria estupidez com uma mentira tão hedionda que obrigou a professora do Jesus contemporâneo a vir a público esclarecer que seu aluno não era bandido.
Apesar de algumas poucas semelhanças, as enormes diferenças entre o Jesus bíblico e o Jesus contemporâneo se completam com a não-ressurreição de Jesus Ferreira. Ele não ressuscitará ao terceiro dia. Nem nunca. A menos que não deixemos sua lembrança morrer.
Em um tempo em que os ideais são tão escassos, porém, tal esperança parece otimismo exagerado.
Como esperar que o simbolismo impressionante da morte do Jesus carioca ajude a salvar não a humanidade, mas o país dessas bestas-feras que querem jogar crianças em masmorras medievais? Estamos caminhando para a estupidez, não para a sabedoria.
Perdoe-me, leitor, mas não tenho mais esperança. Vendo o mundo vil que temos hoje, a conclusão parece inescapável: Jesus Cristo, há 1982 anos, morreu em vão tanto quanto Jesus Ferreira, semana passada.
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