Por Vinicius Wu, na revista Fórum:
Se os brasileiros se habituaram a chamar os anos oitenta de “a década perdida”, nada mais justo do que, doravante, lembrarmos de 2015 como “o ano perdido”. Seria a melhor síntese do que vivemos nos últimos doze meses. Afinal, pelo menos do ponto de vista político, o ano que se encerra não passou de uma caricata extensão de 2014.
A polarização política e o resultado apertado nas últimas eleições presidenciais foram o ponto de partida para que a oposição assumisse, deliberadamente, uma postura de relativização, ou mesmo questionamento, do resultado das urnas. Não houve a tradicional trégua dos meses iniciais de governo e os principais partidos políticos seguiram em clima de campanha, bloqueando acordos e mediações indispensáveis ao enfrentamento da atual crise econômica.
A fragilidade da articulação política do governo, os erros cometidos nos meses iniciais de 2015 e o isolamento do PT no Congresso, associado à inércia de sua direção, levaram o bloco governista a uma posição defensiva, que evoluiu para a dispersão, selando derrotas importantíssimas no Parlamento, dentre elas, a eleição de Eduardo Cunha à Presidência da Câmara.
O uso político da Operação Lava Jato foi outro fator decisivo para a manutenção de um clima de acirramento e confronto. À medida em que a operação evoluía, ficava evidente que o monumental esquema de corrupção na estatal havia começado bem antes da chegada do PT ao poder, dado sistematicamente negligenciado e relativizado por setores da mídia e do Judiciário.
A Lava Jato, que inicialmente parecia ser uma oportunidade para a “republicanização” do país, ao submeter “gente grande” ao escrutínio da lei, se tornou mero instrumento de disputa política, empregado por setores interessados em derrotar a esquerda e o PT.
Em relação aos movimentos da sociedade, 2015 consolida o “pós-junho” de 2013, marcado pela consolidação da presença da direita nas ruas, pela reação dos movimentos sociais tradicionais e pelo desaparecimento dos tais “black blocs”, que muitos julgavam o supra-sumo do novo protagonismo juvenil no Brasil pós-Lula.
Mas, o fato é que a situação política levou o Congresso, o Governo, os partidos e uma significativa parcela da sociedade civil a terem como pauta, quase que exclusiva, a continuidade, ou não, de um governo que mal iniciou seu mandato. Os prejuízos dessa paralisia ainda estão por ser medidos, mas é evidente que o ambiente político contribuiu para agravar o já conturbado cenário econômico.
Se quiserem evitar que 2016 seja uma extensão de 2015, o PT e o governo deverão agir. O final do ano trouxe boas notícias, em especial, a indicação de Nelson Barbosa para a Fazenda e o sucesso das mobilizações de rua contra o impeachment, realizadas recentemente.
Mas, ainda há muito chão até que a possibilidade do impedimento da Presidente Dilma seja descartada. A situação econômica não é nada confortável. Os níveis de desemprego dirão muito sobre o desfecho da crise. No Congresso Nacional, o clima deve esquentar, acirrando os ânimos. E, ainda temos as eleições municipais, que tendem a reproduzir o clima de 2014.
Talvez seja hora da esquerda agir enquanto esquerda, disputando consciências e realizando o bom debate político sobre os grandes temas nacionais. O PT segue devedor de uma resposta efetiva ao tema da corrupção. Terá de se reinventar se não quiser perecer enquanto projeto viável de transformação da sociedade brasileira. Já passa da hora do partido buscar seus aliados, incluindo PSOL e Rede, para repensar sua estratégia.
Tudo indica que o próximo ano será decisivo para o futuro da esquerda brasileira. A situação do governo é central, mas não é o único vetor de um processo de reorganização que parece se insinuar, lentamente, mobilizando amplos setores sociais. O PT pode pagar um alto preço pela inércia de sua direção. Pelo menos, em termos de agitação político-partidária, o ano que vem promete. Agora é aguardar e ver no que vai dar.
Se os brasileiros se habituaram a chamar os anos oitenta de “a década perdida”, nada mais justo do que, doravante, lembrarmos de 2015 como “o ano perdido”. Seria a melhor síntese do que vivemos nos últimos doze meses. Afinal, pelo menos do ponto de vista político, o ano que se encerra não passou de uma caricata extensão de 2014.
A polarização política e o resultado apertado nas últimas eleições presidenciais foram o ponto de partida para que a oposição assumisse, deliberadamente, uma postura de relativização, ou mesmo questionamento, do resultado das urnas. Não houve a tradicional trégua dos meses iniciais de governo e os principais partidos políticos seguiram em clima de campanha, bloqueando acordos e mediações indispensáveis ao enfrentamento da atual crise econômica.
A fragilidade da articulação política do governo, os erros cometidos nos meses iniciais de 2015 e o isolamento do PT no Congresso, associado à inércia de sua direção, levaram o bloco governista a uma posição defensiva, que evoluiu para a dispersão, selando derrotas importantíssimas no Parlamento, dentre elas, a eleição de Eduardo Cunha à Presidência da Câmara.
O uso político da Operação Lava Jato foi outro fator decisivo para a manutenção de um clima de acirramento e confronto. À medida em que a operação evoluía, ficava evidente que o monumental esquema de corrupção na estatal havia começado bem antes da chegada do PT ao poder, dado sistematicamente negligenciado e relativizado por setores da mídia e do Judiciário.
A Lava Jato, que inicialmente parecia ser uma oportunidade para a “republicanização” do país, ao submeter “gente grande” ao escrutínio da lei, se tornou mero instrumento de disputa política, empregado por setores interessados em derrotar a esquerda e o PT.
Em relação aos movimentos da sociedade, 2015 consolida o “pós-junho” de 2013, marcado pela consolidação da presença da direita nas ruas, pela reação dos movimentos sociais tradicionais e pelo desaparecimento dos tais “black blocs”, que muitos julgavam o supra-sumo do novo protagonismo juvenil no Brasil pós-Lula.
Mas, o fato é que a situação política levou o Congresso, o Governo, os partidos e uma significativa parcela da sociedade civil a terem como pauta, quase que exclusiva, a continuidade, ou não, de um governo que mal iniciou seu mandato. Os prejuízos dessa paralisia ainda estão por ser medidos, mas é evidente que o ambiente político contribuiu para agravar o já conturbado cenário econômico.
Se quiserem evitar que 2016 seja uma extensão de 2015, o PT e o governo deverão agir. O final do ano trouxe boas notícias, em especial, a indicação de Nelson Barbosa para a Fazenda e o sucesso das mobilizações de rua contra o impeachment, realizadas recentemente.
Mas, ainda há muito chão até que a possibilidade do impedimento da Presidente Dilma seja descartada. A situação econômica não é nada confortável. Os níveis de desemprego dirão muito sobre o desfecho da crise. No Congresso Nacional, o clima deve esquentar, acirrando os ânimos. E, ainda temos as eleições municipais, que tendem a reproduzir o clima de 2014.
Talvez seja hora da esquerda agir enquanto esquerda, disputando consciências e realizando o bom debate político sobre os grandes temas nacionais. O PT segue devedor de uma resposta efetiva ao tema da corrupção. Terá de se reinventar se não quiser perecer enquanto projeto viável de transformação da sociedade brasileira. Já passa da hora do partido buscar seus aliados, incluindo PSOL e Rede, para repensar sua estratégia.
Tudo indica que o próximo ano será decisivo para o futuro da esquerda brasileira. A situação do governo é central, mas não é o único vetor de um processo de reorganização que parece se insinuar, lentamente, mobilizando amplos setores sociais. O PT pode pagar um alto preço pela inércia de sua direção. Pelo menos, em termos de agitação político-partidária, o ano que vem promete. Agora é aguardar e ver no que vai dar.
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