Por Guilherme Boulos, no site Outras Palavras:
Quarta-feira sempre desce o pano. Hoje, após a Quarta-feira de Cinzas, começa de fato o ano no Brasil. Um ano que promete ser agitado. Se 2015 ficou marcado pela crise política, tudo indica que 2016 será lembrado pela crise social.
O enredo do ano passado permanece. O impeachment, embora enfraquecido, deverá abastecer a crise política ao menos por mais alguns meses. Eduardo Cunha, se não for afastado ou preso, continuará conduzindo a agenda parlamentar de forma temerária, em função da sua autopreservação. E Dilma segue obstinada em aplicar a estranha fórmula de recuperação da popularidade com medidas impopulares. Saiu Levy, ficou o ajuste. Nem parece que 2015 acabou. A não ser pelas indicações de que, neste ano, a batalha do carpete pode começar a ceder lugar para uma outra.
Vejamos. Na semana passada o banco Credit Suisse publicou um relatório em que afirma que o Brasil vive a pior recessão de sua história. Nunca o país teve três anos seguidos de retração econômica, o que possivelmente se completará em 2017. Mesmo o atual biênio recessivo (2015-16) só tem precedentes há mais de 80 anos, no contexto da crise de 1929. Em 2015, a queda do PIB foi próxima a 4%. A expectativa do Credit Suisse é de uma nova queda de 4% este ano e mais uma em 2017, desta vez entre 0,5% e 1%.
Mesmo que possamos considerar pessimista a avaliação do banco de investimentos suíço, é inquestionável que o país está afundado numa recessão gravíssima. Se considerarmos que a queda da economia começou já no segundo trimestre de 2014, o triênio recessivo está ainda mais próximo. No caso do Estado de São Paulo já é realidade. Segundo dados da Fipe, o PIB paulista caiu 2% em 2014, 4% no ano passado e a previsão é de uma nova queda de 2,6% neste ano.
Mais do que os números, importa seu impacto na situação social do país. A economia despencando significa aumento do desemprego, redução da renda do trabalhador e também da arrecadação – que, por sua vez, estanca investimentos públicos e políticas sociais.
Em 2015 foram fechados 1,5 milhão de postos de trabalho. A massa salarial caiu 12,2%, maior recuo desde 2003. E a arrecadação do governo caiu 5,6%. A previsão do Credit Suisse é que o Brasil possa chegar em 2017 a uma taxa de desemprego superior a 13%, índice alarmante.
A isso podemos somar a anunciada saturação dos serviços públicos, em especial da saúde. Uma das primeiras coisas que o trabalhador que ascendeu à dita “classe C” fez foi buscar um plano de saúde privado e, por vezes, colocar seus filhos em escolas particulares de pequeno e médio portes, que cresceram a olhos vistos nas periferias. A primeira coisa que este mesmo trabalhador já está fazendo ante a deterioração do orçamento familiar é voltar para o SUS e para a escola pública. Precisamente num momento em que os investimentos tendem a ser comprimidos pelo ajuste fiscal.
Ou seja, o cenário de 2016 provavelmente será de desemprego crescente, arrocho salarial, precarização dos serviços públicos e enfraquecimento dos programas sociais. Não será surpresa se isso se traduzir em fortes mobilizações populares.
E aqui não estamos falando dos desfiles cívicos na avenida Paulista. Estamos falando da massa trabalhadora, vinda do asfalto esburacado das periferias, que, embora até aqui insatisfeita, ainda não entrou em cena de forma ruidosa.
Com o desemprego em dois dígitos e fortes sinais de perda das conquistas que teve no último período, é possível que o andar de baixo comece a se movimentar mais em 2016. O aumento expressivo das greves e ocupações registrado nos últimos anos já tem dado este sinal.
A força e o alcance disso é algo incerto. Assim como os rumos que um processo como este poderá tomar, principalmente, dada a dimensão da atual crise econômica e social. Há ainda o agravante da descrença generalizada de que o governo – e, pior, a oposição – possam apresentar saídas populares para a crise.
Apenas uma coisa é certa. Se este povo for às ruas em 2016, não será para tirar selfies com a tropa de choque.
Quarta-feira sempre desce o pano. Hoje, após a Quarta-feira de Cinzas, começa de fato o ano no Brasil. Um ano que promete ser agitado. Se 2015 ficou marcado pela crise política, tudo indica que 2016 será lembrado pela crise social.
O enredo do ano passado permanece. O impeachment, embora enfraquecido, deverá abastecer a crise política ao menos por mais alguns meses. Eduardo Cunha, se não for afastado ou preso, continuará conduzindo a agenda parlamentar de forma temerária, em função da sua autopreservação. E Dilma segue obstinada em aplicar a estranha fórmula de recuperação da popularidade com medidas impopulares. Saiu Levy, ficou o ajuste. Nem parece que 2015 acabou. A não ser pelas indicações de que, neste ano, a batalha do carpete pode começar a ceder lugar para uma outra.
Vejamos. Na semana passada o banco Credit Suisse publicou um relatório em que afirma que o Brasil vive a pior recessão de sua história. Nunca o país teve três anos seguidos de retração econômica, o que possivelmente se completará em 2017. Mesmo o atual biênio recessivo (2015-16) só tem precedentes há mais de 80 anos, no contexto da crise de 1929. Em 2015, a queda do PIB foi próxima a 4%. A expectativa do Credit Suisse é de uma nova queda de 4% este ano e mais uma em 2017, desta vez entre 0,5% e 1%.
Mesmo que possamos considerar pessimista a avaliação do banco de investimentos suíço, é inquestionável que o país está afundado numa recessão gravíssima. Se considerarmos que a queda da economia começou já no segundo trimestre de 2014, o triênio recessivo está ainda mais próximo. No caso do Estado de São Paulo já é realidade. Segundo dados da Fipe, o PIB paulista caiu 2% em 2014, 4% no ano passado e a previsão é de uma nova queda de 2,6% neste ano.
Mais do que os números, importa seu impacto na situação social do país. A economia despencando significa aumento do desemprego, redução da renda do trabalhador e também da arrecadação – que, por sua vez, estanca investimentos públicos e políticas sociais.
Em 2015 foram fechados 1,5 milhão de postos de trabalho. A massa salarial caiu 12,2%, maior recuo desde 2003. E a arrecadação do governo caiu 5,6%. A previsão do Credit Suisse é que o Brasil possa chegar em 2017 a uma taxa de desemprego superior a 13%, índice alarmante.
A isso podemos somar a anunciada saturação dos serviços públicos, em especial da saúde. Uma das primeiras coisas que o trabalhador que ascendeu à dita “classe C” fez foi buscar um plano de saúde privado e, por vezes, colocar seus filhos em escolas particulares de pequeno e médio portes, que cresceram a olhos vistos nas periferias. A primeira coisa que este mesmo trabalhador já está fazendo ante a deterioração do orçamento familiar é voltar para o SUS e para a escola pública. Precisamente num momento em que os investimentos tendem a ser comprimidos pelo ajuste fiscal.
Ou seja, o cenário de 2016 provavelmente será de desemprego crescente, arrocho salarial, precarização dos serviços públicos e enfraquecimento dos programas sociais. Não será surpresa se isso se traduzir em fortes mobilizações populares.
E aqui não estamos falando dos desfiles cívicos na avenida Paulista. Estamos falando da massa trabalhadora, vinda do asfalto esburacado das periferias, que, embora até aqui insatisfeita, ainda não entrou em cena de forma ruidosa.
Com o desemprego em dois dígitos e fortes sinais de perda das conquistas que teve no último período, é possível que o andar de baixo comece a se movimentar mais em 2016. O aumento expressivo das greves e ocupações registrado nos últimos anos já tem dado este sinal.
A força e o alcance disso é algo incerto. Assim como os rumos que um processo como este poderá tomar, principalmente, dada a dimensão da atual crise econômica e social. Há ainda o agravante da descrença generalizada de que o governo – e, pior, a oposição – possam apresentar saídas populares para a crise.
Apenas uma coisa é certa. Se este povo for às ruas em 2016, não será para tirar selfies com a tropa de choque.
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