Por João Sicsú, na revista Fórum:
O leitor deve estar estranhando: terceira chance do quê? Vamos esclarecer. Lula entregou uma herança extraordinária a Dilma em 2010. A herança foi desperdiçada. Botaram a culpa no quadro internacional e na queda do preço das commodities. Com enormes dificuldades, Dilma foi levada à vitória novamente em 2014. O ano de 2015 também foi trágico. Muitos responsabilizaram o ministro da Fazenda Joaquim Levy.
Agora, não é o momento de discutirmos as causas das chances perdidas em 2011 e 2015. Após a derrota do impeachment-golpe, que parece certa, deveremos fazê-lo. Mas, cabe adiantar. É forçar a barra demais (é leviano) colocar todo o peso na crise internacional, nos preços das commodities ou num ministro da Fazenda que cumpriu ordens, tal como faz o ministro Nelson Barbosa atualmente. As causas são mais profundas. Em verdade, o modelo de Lula de crescimento com geração de empregos, inclusão social e distribuição de renda foi abandonado desde 2011. Mas isso é outra discussão.
A direita e a elite econômica-financeira não aceitaram o resultado eleitoral de 2014. Em verdade, estão fartos de derrotas. Perderam as últimas quatro eleições presidenciais. E podem perder 2018. Partiram para o tudo ou nada. Mídia, o poderio econômico, setores do judiciário, parlamentares e todo e qualquer tipo de conservadorismo se uniram para uma tacada final: derrubar o governo Dilma e inviabilizar politicamente/eleitoralmente Lula. Não vão obter sucesso. É simples: chamaram a disputa para as ruas. E aqui é difícil derrotar o PT, o PCdoB, o MST, o MTST, as esquerdas, os movimentos sociais, os democratas, os artistas, a intelectualidade e a massa de milhões de trabalhadores que têm relação com esses setores organizados da sociedade.
Há algo de muito positivo nessa crise. Uma nova aliança se formou para defender a legalidade e a democracia. E Lula se transformou em personagem central no governo e nas ruas. Essa composição também inclui setores fisiológicos do parlamento. E isso não é um problema, esses parlamentares querem apenas a sua reeleição e precisam de cargos, balcão e orçamento para inaugurar obras locais. O que não devem é ter protagonismo com uma agenda parlamentar conservadora: redução de maioridade penal, entrega do pré-sal, redução de direitos trabalhistas etc.
O governo precisa sim de base parlamentar. É falácia dizer que o governo deve governar com o povo e esquecer deputados e senadores. Sim, Lula e Dilma deveriam reconhecer que um dos maiores erros dos seus governos foi não governar também e principalmente com o povo, que só era chamado à mobilização nos períodos eleitorais. Mas não foi errado tentar ampliar a base parlamentar do governo. Entretanto, o ponto central e o maior erro foi que quem deu o tom da governabilidade foram tramas e acordos parlamentares (orientados pela mídia e o poder econômico) e não o povo mobilizado.
Há agora uma base organizada em torno da defesa da democracia e da legalidade. E para serem feitas mudanças será necessário base política e social. Essa nova base social e parlamentar que luta contra o impeachment-golpe deverá ser a base da governabilidade da terceira chance que teremos com Dilma após o processo de impeachment. As chances são maiores que em 2011 e 2015. Dilma percebeu (ou esperamos que tenha percebido) que Lula é necessário para governar e mais: que desde o pequeno Psol, o PT, o PCdoB, os movimentos sociais, os artistas e a intelectualidade devem ser o centro de formulação de novas políticas para o novo governo que vai emergir a partir de abril de 2016. Uma terceira chance, cristalina, esta aí, faltam poucos dias.
Políticas novas em todas as áreas serão necessárias, mas tudo passa pela retomada do projeto de desenvolvimento cuja base é o crescimento com geração de empregos, inclusão social e distribuição de renda. Sem isso não haverá desenvolvimento e bem-estar. Esse é o fundamento essencial. Não existem atalhos. É o ensinamento da história. Ah! E, por favor, não esqueçamos que sem esse leque social que hoje defende a democracia e a legalidade não haverá governabilidade.
O leitor deve estar estranhando: terceira chance do quê? Vamos esclarecer. Lula entregou uma herança extraordinária a Dilma em 2010. A herança foi desperdiçada. Botaram a culpa no quadro internacional e na queda do preço das commodities. Com enormes dificuldades, Dilma foi levada à vitória novamente em 2014. O ano de 2015 também foi trágico. Muitos responsabilizaram o ministro da Fazenda Joaquim Levy.
Agora, não é o momento de discutirmos as causas das chances perdidas em 2011 e 2015. Após a derrota do impeachment-golpe, que parece certa, deveremos fazê-lo. Mas, cabe adiantar. É forçar a barra demais (é leviano) colocar todo o peso na crise internacional, nos preços das commodities ou num ministro da Fazenda que cumpriu ordens, tal como faz o ministro Nelson Barbosa atualmente. As causas são mais profundas. Em verdade, o modelo de Lula de crescimento com geração de empregos, inclusão social e distribuição de renda foi abandonado desde 2011. Mas isso é outra discussão.
A direita e a elite econômica-financeira não aceitaram o resultado eleitoral de 2014. Em verdade, estão fartos de derrotas. Perderam as últimas quatro eleições presidenciais. E podem perder 2018. Partiram para o tudo ou nada. Mídia, o poderio econômico, setores do judiciário, parlamentares e todo e qualquer tipo de conservadorismo se uniram para uma tacada final: derrubar o governo Dilma e inviabilizar politicamente/eleitoralmente Lula. Não vão obter sucesso. É simples: chamaram a disputa para as ruas. E aqui é difícil derrotar o PT, o PCdoB, o MST, o MTST, as esquerdas, os movimentos sociais, os democratas, os artistas, a intelectualidade e a massa de milhões de trabalhadores que têm relação com esses setores organizados da sociedade.
Há algo de muito positivo nessa crise. Uma nova aliança se formou para defender a legalidade e a democracia. E Lula se transformou em personagem central no governo e nas ruas. Essa composição também inclui setores fisiológicos do parlamento. E isso não é um problema, esses parlamentares querem apenas a sua reeleição e precisam de cargos, balcão e orçamento para inaugurar obras locais. O que não devem é ter protagonismo com uma agenda parlamentar conservadora: redução de maioridade penal, entrega do pré-sal, redução de direitos trabalhistas etc.
O governo precisa sim de base parlamentar. É falácia dizer que o governo deve governar com o povo e esquecer deputados e senadores. Sim, Lula e Dilma deveriam reconhecer que um dos maiores erros dos seus governos foi não governar também e principalmente com o povo, que só era chamado à mobilização nos períodos eleitorais. Mas não foi errado tentar ampliar a base parlamentar do governo. Entretanto, o ponto central e o maior erro foi que quem deu o tom da governabilidade foram tramas e acordos parlamentares (orientados pela mídia e o poder econômico) e não o povo mobilizado.
Há agora uma base organizada em torno da defesa da democracia e da legalidade. E para serem feitas mudanças será necessário base política e social. Essa nova base social e parlamentar que luta contra o impeachment-golpe deverá ser a base da governabilidade da terceira chance que teremos com Dilma após o processo de impeachment. As chances são maiores que em 2011 e 2015. Dilma percebeu (ou esperamos que tenha percebido) que Lula é necessário para governar e mais: que desde o pequeno Psol, o PT, o PCdoB, os movimentos sociais, os artistas e a intelectualidade devem ser o centro de formulação de novas políticas para o novo governo que vai emergir a partir de abril de 2016. Uma terceira chance, cristalina, esta aí, faltam poucos dias.
Políticas novas em todas as áreas serão necessárias, mas tudo passa pela retomada do projeto de desenvolvimento cuja base é o crescimento com geração de empregos, inclusão social e distribuição de renda. Sem isso não haverá desenvolvimento e bem-estar. Esse é o fundamento essencial. Não existem atalhos. É o ensinamento da história. Ah! E, por favor, não esqueçamos que sem esse leque social que hoje defende a democracia e a legalidade não haverá governabilidade.
1 comentários:
Miro, creio que ainda precisamos vencer antes de iniciar o debate do próximo jogo. Mas, considerando a sua proposição, acrescento à reflexão. Eu vi nas ruas uma reação popular gigante, inesperada mesmo para as organização de esquerda. A surpresa é, em parte, reflexo de uma limitação da compreensão por parte das organizações de esquerda do papel desses setores que reagiram, e que continuam mobilizados. Essa força não pode ser perdida. Na próxima etapa dessa luta, creio que será importante a luta institucional, Partidos, sindicatos, movimentos diversos, mas o desavio será qual a batalha e como sinalizar e coordenar as ações futuras, próximas. Agora, palpite. A luta central é pela hegemonia midiática, uma luta difícil de ser travada apenas no campo institucional o que torna importante uma combinação flexível e multifacetária, com os setores atualmente mobilizados pela democracia. Ricardo Carvalho.
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