Foto: Anselmo Cunha e Diego Dorneles/Mídia NINJA |
No maior ato até agora contra o presidente interino Michel Temer (PMDB) em Porto Alegre, milhares de manifestantes percorreram ruas do Centro e da Cidade Baixa em uma marcha pacífica nesta quinta-feira (19). O ato, convocado após os dois primeiros protestos que terminaram em agressões da Brigada Militar na semana passada, transcorreu sem maiores problemas. Ao final, um pequeno grupo permaneceu na avenida Loureiro da Silva, causando momentos de tensão, mas a polícia não avançou.
Assim como das outras vezes, a mobilização começou na Esquina Democrática, entre as ruas Borges de Medeiros e Andradas, por volta das 18h. Pouco menos de uma hora depois, os manifestantes começaram a caminhada pela Borges em direção ao Palácio Piratini, entoando “Ô ô Sartori, pode esperar, a tua hora vai chegar”. Em ritmo acelerado e animado, sem deixar as músicas pararem, os manifestantes deram a volta na Praça da Matriz, embalados também pelos tambores do Levante Popular da Juventude. Nesse momento, tentaram queimar bonecos de papelão de Temer, do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e do governador José Ivo Sartori.
Dentre os diversos grupos e pessoas presentes, era possível identificar faixas relacionadas ao movimento de mulheres e da cultura, setores ameaçados pelo governo de Temer. A multidão, que chegou a reunir 20 mil pessoas, segundo os organizadores, seguiu então pela rua Duque de Caxias, cantando “ai, ai, ai, ai, empurra o Temer que ele cai”. Os gritos de “fora Temer” e “Temer, ladrão, teu lugar é na prisão” foram alguns dos mais entoados ao longo da caminhada.
Uma faixa com os dizeres “Fora Temer e Cunha na cadeia” liderava a passeata. Ao longo do protesto, era possível ver também cartazes com críticas à Rede Globo, pedindo eleições gerais, apoiando a presidenta afastada Dilma Rousseff (PT), requisitando “não atirem, protesto não é crime”, entre outros. Um grupo de mulheres segurava um cartaz com uma foto de Dilma na época da ditadura, com a pergunta “que horas ela volta?”, em alusão ao filme brasileiro de 2015. Havia ainda pequenos caixões de cartolina, pintados de preto, com os nomes de alguns programas sociais que estão ameaçados, como ProUni, SUS e FIES.
Seguindo pela Avenida João Pessoa, diversos moradores foram às janelas apoiar o ato, dentre os quais universitários que vivem na Casa do Estudante da UFRGS, que compareceram em massa nas sacadas aplaudindo e cantando junto com os manifestantes. Assim como na sexta-feira (13), o protesto fez uma parada em frente à sede do PMDB, onde foi entoado “golpistas, fascistas, não passarão” e “nem recatada e nem do lar, a mulherada tá na rua pra lutar”. Foram vistas algumas pichações na sede do partido, mas nenhuma depredação foi registrada ao longo da marcha.
Os manifestantes seguiram pela avenida Venâncio Aires e dobraram na Lima e Silva, onde havia grande movimento em bares na rua, motivando os gritos de “vem pra rua vem, é contra o Temer”. Ao chegar na avenida Loureiro da Silva, que foi palco das agressões da Brigada Militar na semana passada, os manifestantes sentaram na rua por alguns minutos. Em seguida, um grupo tentou organizar, solicitando que o ato fosse para o Largo Zumbi dos Palmares. O objetivo era impedir que a BM usasse o bloqueio de trânsito como razão para arremessar bombas de gás e de efeito moral.
Após o chamamento para assembleia que será realizada neste domingo (22), a maioria dos manifestantes dispersou, mas uns poucos permaneceram na rua. Houve momentos de tensão, em que a polícia ameaçou usar força caso a via não fosse liberada, mas a Brigada acabou recuando. Segundo o tenente-coronel Mário Ikeda, do Comando de Policiamento da Capital, “a grande maioria foi ordeira, pacífica”, e mesmo com o pequeno grupo que “estava buscando confronto”, a Brigada procurou agir com “tolerância e paciência”. Por volta das 22h30, a rua já estava quase vazia, com a dispersão acontecendo de forma tranquila.
Na última quinta-feira (12), a Brigada avançou para cima dos manifestantes que trancavam a Loureiro, gesto que foi repetido no dia seguinte. Na sexta-feira (13), quatro jovens acabaram detidas, as quais denunciaram terem sofrido agressões por parte dos policiais. Os atos acontecem desde que Michel Temer tornou-se presidente interino, após o afastamento de Dilma pelo Senado. As mobilizações são motivadas também pelo anúncio de diminuição de ministérios — todos os quais são comandados por homens — e planos para reduzir projetos e serviços públicos.
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