Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:
Os colunistas do mundo conservador fingem-se furiosos.
Miriam Leitão diz que o PMDB “confronta as forças de combate à corrupção no país”.
Merval Pereira reclama da “leniência” do PMDB e diz que a nomeação de Edson Lobão para a Comissão de Constituição e Justiça, que faz o Senado andar ou parar, é um “escárnio”.
Escárnio também diz Ricardo Noblat, que até mês e pouco atrás achava “até bonito” Michel Temer e chama a decisão da dupla Temer-Renan de – tome fôlego antes de ler – “chacota, escarnecimento, ironia, gozação, troça e zombaria” e ainda “exorbitância, desacato, desplante, sem-vergonhez, descaramento, ultraje, afronta, desfaçatez, cinismo, prepotência, atrevimento e arrogância”.
Mas, se mal pergunto, esperavam o que elevando esta turma ao Governo?
Como ser cronista político sem saber o que são, de verdade, os protagonistas deste jogo.
Seria melhor, em lugar da surpresa e indignação, confessar ignorância, que seria a alternativa mais honrosa para classificar o que foi e é cumplicidade ideológica.
Muito melhor faz que lê os que não se prestam a sabujice e podem, com toda a crueza, mostrar que este é o jogo que se joga, a peça que se encena, a tragédia que tudo isso representa, como faz o ótimo José Roberto de Toledo, no Estadão.
Transcrevo um trecho, coisa de fazer os três corarem de vergonha na sua moralidade hipócrita:
(…) A classe política, acuada que foi pelas investigações da Lava Jato e pela pressão das ruas, está, passo a passo, retomando o controle do espetáculo, cuja cena havia sido roubada pelo Judiciário e pelo Ministério Público. Foi apenas um intervalo, e ele parece estar acabando. A campainha já soou mais de uma vez, os protagonistas estão mostrando aos coadjuvantes o seu lugar.
No meio da temporada, houve ator que precisasse fugir do oficial de Justiça, ignorar sentenças ou fazer de conta que não entendeu o que o juiz mandou. Mas, quase sempre, acrobacias jurídicas distraíram os espectadores pelo tempo necessário até que instância superior restabelecesse a ordem no camarim.
Foi necessário realizar a morte cênica de alguns personagens menos quistos pela opinião pública, é verdade. Não foi doloroso para o elenco, porém. Eram pouco simpáticos ao resto da trupe. Ovacionados, deixaram-se levar pelos aplausos da plateia. Emergentes, pensavam ter aprendido todos os truques da profissão. Desdenharam os colegas de palco, afetando superioridade. Na primeira vaia, perderam seus papéis.
Contando ter satisfeito o público irrequieto, os veteranos começaram a reescrever o roteiro. Da coxia, onde costumam atuar, alguns viraram foco dos holofotes. Desacostumados à luz, que sempre lhes parece em excesso, às vezes tropeçam em cena. Quando esquecem as falas, improvisam um monólogo no qual trocam próclises por ênclises e mesóclises, na esperança de a forma pernóstica superar as lacunas de conteúdo. Tem funcionado.
Entre perplexa e resignada, a audiência não sabe se ri ou se chora. Mais importante para os protagonistas, nem sequer se emociona. Melhor assim, pois se não aplaude, o público tampouco apupa. Apáticas, as panelas permanecem na cozinha, junto com os tomates e os ovos. E os velhos atores vão tomando conta da cena, nomeando um ministro aqui, um juiz acolá, todos da trupe.
A direita brasileira bem que gostaria de ainda ter uns Fernando Henrique Cardoso no armário, para usar agora e no futuro. Não tem, exceto talvez pelo personagem que Toledo descreve como aquele que “faz qualquer papel, de playboy a lixeiro. Com sorriso plastificado, dente facetado, cabelo plantado e jeito vaselinado”:
(…) o ex-figurante se torna a cara da companhia. Faz sucesso, mas dura pouco.
Mas este ainda não é pra já. Pra já é o “pinguela”, o “é o que temos” e, em homenagem aos Carnaval que vem aí o “é com esse que eu vou sambar até cair no chão”.
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