Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
"O público que se dane!" - frase do magnata americano William Henry Vanderbilt (1882), um predecessor de Donald Trump, quando a imprensa o criticou pela má qualidade das suas ferrovias.
"Estou me lixando para a opinião pública!" - discurso do deputado Sergio Moraes (PTB-RS), em 2009.
*****
É o que deve ter pensado também Michel Temer ao nomear seu amigo do peito Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira.
Nos seus cálculos estratégicos de dono de padaria da esquina, o presidente da República prefere apanhar uma ou duas semanas na mídia a correr o risco de nomear um magistrado técnico e independente, como havia anunciado antes - alguém como Joaquim Barbosa, por exemplo.
Menos do que a figura de Moraes, um político menor de São Paulo, que queria ser candidato a governador, o que determinou a transferência do ministro da Justiça para o STF foi a pressão dos caciques do PMDB ameaçados pela Lava Jato, com a decisiva ajuda de Gilmar Mendes.
Não por acaso, no mesmo dia a Procuradoria Geral da República pediu ao STF a abertura de inquérito para investigar José Sarney, Romero Jucá e Renan Calheiros para apurar se os três cometeram crime de embaraço às investigações da Lava Jato.
É aquela turma do "temos que estancar esta sangria" gravada e delatada por Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro, também investigado no mesmo inquérito.
Nomeado para a vaga deixada pelo relator Teori Zawascki, substituído na função por Edson Fachin, o polêmico Alexandre de Moraes será o revisor do processo quando for levado ao plenário. E é só isso que importa. O resto que se dane.
Temer e Moraes são do tempo em que a opinião pública era formada e controlada por meia dúzia de donos de jornal. Bastava agradá-los com verbas de publicidade para garantir seu apoio.
Só que as coisas mudaram. Com a internet e as redes sociais, a opinião pública agora é formada por milhares, milhões de pessoas livres, ao mesmo tempo produtores e receptores de informações.
Quando diz que não se importa com a baixíssima popularidade, o que Temer revela é seu profundo desprezo por essa nova opinião pública, ou seja, pelo eleitorado.
Afinal, quem o colocou no Planalto não foram os eleitores, mas os caciques políticos a serviço da velha oligarquia econômica, que não querem largar o osso e agora têm medo de ir para a cadeia.
Temer sabe disso e, por isso, dá tanta importância a manter o controle do Congresso, sua fonte de poder e único trunfo do governo.
A sabatina de Alexandre de Moraes no Senado, onde a oposição foi dizimada, será um passeio no bosque, mero rito de passagem que deverá ser cumprido ainda este mês, como garantiu o novo presidente, Eunício Oliveira, também ele denunciado na Lava Jato.
Voltamos a viver num mundo dividido entre quem manda e quem obedece, aquele em que manda quem pode e obedece quem tem juízo, lição deixada pelos velhos coronéis donos de gado e de gente.
Os incomodados que se explodam.
E vida que segue.
Em tempo (atualizado às 12h05):
As impressionantes cenas de violência, com saques, tiros e confrontos nas ruas em Vitória, agora ocupadas pelo Exército, e no interior do Espirito Santo, não abalaram o governo federal.
Em meio a mais uma crise na segurança pública provocada pela PM em greve, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, pediu licença do cargo por 30 dias no mesmo momento em que era nomeado ministro do STF.
E o presidente Michel Temer já avisou na manhã desta terça-feira que não tem pressa para substituí-lo no cargo, ocupado por um interino. Quer tempo para negociar com a base aliada.
Enquanto isso, PMDB e PSDB, lutam nos bastidores para indicar o substituto de Moraes no rebatizado Ministério da Justiça e da Segurança Pública.
É o Brasil de Brasília dando uma solene banana para os brasileiros do Espírito Santo, depois de mandar tropas para lá, e lavar as mãos.
Que eles se virem.
"O público que se dane!" - frase do magnata americano William Henry Vanderbilt (1882), um predecessor de Donald Trump, quando a imprensa o criticou pela má qualidade das suas ferrovias.
"Estou me lixando para a opinião pública!" - discurso do deputado Sergio Moraes (PTB-RS), em 2009.
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É o que deve ter pensado também Michel Temer ao nomear seu amigo do peito Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira.
Nos seus cálculos estratégicos de dono de padaria da esquina, o presidente da República prefere apanhar uma ou duas semanas na mídia a correr o risco de nomear um magistrado técnico e independente, como havia anunciado antes - alguém como Joaquim Barbosa, por exemplo.
Menos do que a figura de Moraes, um político menor de São Paulo, que queria ser candidato a governador, o que determinou a transferência do ministro da Justiça para o STF foi a pressão dos caciques do PMDB ameaçados pela Lava Jato, com a decisiva ajuda de Gilmar Mendes.
Não por acaso, no mesmo dia a Procuradoria Geral da República pediu ao STF a abertura de inquérito para investigar José Sarney, Romero Jucá e Renan Calheiros para apurar se os três cometeram crime de embaraço às investigações da Lava Jato.
É aquela turma do "temos que estancar esta sangria" gravada e delatada por Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro, também investigado no mesmo inquérito.
Nomeado para a vaga deixada pelo relator Teori Zawascki, substituído na função por Edson Fachin, o polêmico Alexandre de Moraes será o revisor do processo quando for levado ao plenário. E é só isso que importa. O resto que se dane.
Temer e Moraes são do tempo em que a opinião pública era formada e controlada por meia dúzia de donos de jornal. Bastava agradá-los com verbas de publicidade para garantir seu apoio.
Só que as coisas mudaram. Com a internet e as redes sociais, a opinião pública agora é formada por milhares, milhões de pessoas livres, ao mesmo tempo produtores e receptores de informações.
Quando diz que não se importa com a baixíssima popularidade, o que Temer revela é seu profundo desprezo por essa nova opinião pública, ou seja, pelo eleitorado.
Afinal, quem o colocou no Planalto não foram os eleitores, mas os caciques políticos a serviço da velha oligarquia econômica, que não querem largar o osso e agora têm medo de ir para a cadeia.
Temer sabe disso e, por isso, dá tanta importância a manter o controle do Congresso, sua fonte de poder e único trunfo do governo.
A sabatina de Alexandre de Moraes no Senado, onde a oposição foi dizimada, será um passeio no bosque, mero rito de passagem que deverá ser cumprido ainda este mês, como garantiu o novo presidente, Eunício Oliveira, também ele denunciado na Lava Jato.
Voltamos a viver num mundo dividido entre quem manda e quem obedece, aquele em que manda quem pode e obedece quem tem juízo, lição deixada pelos velhos coronéis donos de gado e de gente.
Os incomodados que se explodam.
E vida que segue.
Em tempo (atualizado às 12h05):
As impressionantes cenas de violência, com saques, tiros e confrontos nas ruas em Vitória, agora ocupadas pelo Exército, e no interior do Espirito Santo, não abalaram o governo federal.
Em meio a mais uma crise na segurança pública provocada pela PM em greve, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, pediu licença do cargo por 30 dias no mesmo momento em que era nomeado ministro do STF.
E o presidente Michel Temer já avisou na manhã desta terça-feira que não tem pressa para substituí-lo no cargo, ocupado por um interino. Quer tempo para negociar com a base aliada.
Enquanto isso, PMDB e PSDB, lutam nos bastidores para indicar o substituto de Moraes no rebatizado Ministério da Justiça e da Segurança Pública.
É o Brasil de Brasília dando uma solene banana para os brasileiros do Espírito Santo, depois de mandar tropas para lá, e lavar as mãos.
Que eles se virem.
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