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O PSDB decidiu, em reunião na noite de segunda-feira, 12, que vai continuar apoiando o governo de Michel Temer (PMDB). A decisão se deu em um ambiente de divisão interna da sigla, com setores relevantes defendendo o desembarque imediato, para evitar um "abraço de afogados", como disse o deputado estadual Carlos Bezerra (SP) em entrevista a CartaCapital, uma vez que Temer deve ser, em breve, denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por corrupção e organização criminosa.
Caciques importantes do PSDB, entretanto, atuaram para manter o apoio ao PMDB. Muitos fatores interligados explicam a decisão do partido.
O que o PSDB decidiu?
O PSDB decidiu manter o apoio a Temer, mas informou que não se trata de uma decisão incondicional. Fatos novos, como a denúncia da PGR, podem fazer o partido rever sua posição. O prefeito de São Paulo, João Doria Júnior, entusiasta da permanência, afirmou que a permanência não é um "cheque endossado” a Temer. “O PSDB não fecha a discussão aqui, apenas tomou posição favorável aos ministros e à proteção ao Brasil. Mas isso não significa que a posição não será reavaliada.”
Qual é a argumentação do PSDB para manter o apoio a Temer?
Oficialmente, o partido diz que decidiu permanecer no governo porque apoia as reformas trabalhista e da Previdência, duas das principais propostas do governo Temer. "Não houve aqui definição para proteção e apoio ao governo Temer, mas, sim, proteção ao Brasil, às reformas, ao processo de recuperação econômica do País”, disse Doria.
Antonio Imbassahy, ministro da Secretaria de Governo de Temer, afirmou que "o partido vai pensar no Brasil". O mesmo discurso fez a ministra dos Direitos Humanos, Luislinda Valois. "Todos nós, brasileiros, temos de pensar no Brasil", afirmou.
Essa argumentação se sustenta?
Como já deixaram claro figuras importantes do PSDB, não se sustenta. "Não precisamos ter cargos e ministério para apoiar as reformas", disse no último dia 8 o senador Tasso Jereissati (CE), presidente interino do partido. Na noite de segunda, ele não escondeu a divisão interna. "Esse não é o meu governo, não é o governo dos meus sonhos. Estou aí por causa das circunstâncias do país", disse. "Minha posição foi vencida, foi uma opinião que não teve consenso da maioria, não teve maturidade do partido para tomar essa decisão", afirmou.
O jurista Miguel Reale Júnior., que assinou o pedido de impeachment de Dilma Rousseff, foi outro que expôs o racha. "O partido usa o discurso das reformas como desculpa. O PSDB poderia apoiar as reformas mesmo fora do governo", afirmou ao blog do jornalista Gerson Camarotti, no portal G1. Ex-ministro da Justiça, Reale Júnior anunciou seu afastamento do PSDB.
Na manhã desta terça-feira 13, em entrevista à rádio CBN, Reale Júnior afirmou que a intenção do PSDB em permanecer em um governo com grandes "fragilidades éticas", é proteger o senador Aécio Neves (MG), flagrado negociando propina com Joesley Batista, dono da JBS, e conspirando para barrar a Operação Lava Jato.
Então o PSDB quer proteger Aécio Neves?
Ao que tudo indica, esse fator pesou para a decisão. Aécio articulou pessoalmente dentro do PSDB para que o partido permaneça no governo, uma vez que está à mercê do Conselho de Ética do Senado, presidido e dominado pelo PMDB. Um requerimento apresentado pelo PSOL e pela Rede pede a cassação de Aécio, cuja situação pessoal é considerada mais grave que a de Temer.
"Como o PSDB vai deixar o governo, se a situação do Aécio é bem pior? Os tucanos teriam que, primeiro, tomar uma posição em relação ao senador Aécio", afirmou um auxiliar de Temer ao blog do Camarotti.
O que mais pesou na decisão do PSDB?
Outro fator importante no juízo do PSDB foi um cálculo político a respeito da repercussão que o seu desembarque teria. Segundo o blog do jornalista Kennedy Alencar, no portal iG, Temer estava preparado para redistribuir cargos que hoje estão nas mãos dos tucanos para outros partidos aliados.
O temor do PSDB foi, assim, não gerar um "efeito dominó" e ainda ficar isolado politicamente entre o governo e a oposição, uma vez que o bloco anti-Temer já é liderado pelo PT. A espera de um "fato novo", assim, seria a espera de mais uma denúncia acachapante contra Temer para evitar que o PSDB abandone o governo sozinho.
E houve cálculos sobre as eleições de 2018?
Aparentemente, sim. Apesar de estar soterrado em denúncias de corrupção, o PMDB continua sendo o partido com o maior número de filiados no Brasil e também com o maior número de prefeituras. Trata-se de uma estrutura fundamental em uma campanha presidencial.
Como o PSDB tem duas figuras relevantes que almejam a Presidência da República, nomeadamente o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito João Doria, contar com o apoio do PMDB em 2018 seria estratégico. Não à toa, Alckmin e Doria insistiram para que o partido permanecesse no governo.
Na semana passada, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), condicionou claramente o apoio do PSDB a Temer a uma aliança entre os dois partidos em 2018. "Se o PSDB deixar hoje a base vai ficar muito difícil de o PMDB apoiá-los nas eleições de 2018", afirmou Jucá, acrescentando que "política é feita de reciprocidade".
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