terça-feira, 15 de agosto de 2017

A culpa não é do povo

Por Caio Botelho, no site da UJS:

Os retrocessos civilizacionais em curso no Brasil são imensos e o governo golpista liderado por Michel Temer conta com a repulsa da quase unanimidade dos brasileiros, de acordo com as recentes pesquisas de opinião. Diante desse cenário, não é estranho perguntar: onde está, afinal, o povo? Como se mantém silente mesmo quando estão em jogo questões tão fundamentais, como os direitos trabalhistas e a garantia de sua aposentadoria?

A despeito de uma combativa agenda de lutas capitaneada pelas Centrais Sindicais, pelas Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, e por um amplo leque de entidades do movimento social e partidos políticos, é correto constatar que a imensa maioria da população brasileira – inclusive aquela que é vítima direta desses retrocessos – aparenta, até o momento, pouca disposição para ir às ruas fazer o enfrentamento direto à essa agenda.

Dentre as explicações para esse fenômeno, destacamos aquela que costuma culpar o próprio povo pela sua desmobilização. Sobram acusações de letargia diante do caos imposto, e o rótulo de “acomodado” é mais uma vez atribuído aos brasileiros. Sabemos que se trata de acusação injusta, própria do senso comum e de uma análise superficial da história. Que as elites defendam essa perspectiva não é novidade, mas que ela ganhe adeptos mesmo entre parte dos setores progressistas, é fato a se estranhar.

Como todos os fenômenos sociais, este é de uma complexidade tamanha que não pode ser respondido com facilidade, menos ainda por análises “facebookianas” – tão comuns em nossos dias – sempre prontas a descobrir a pólvora e falar o óbvio. Justamente por isso, não se pretende aqui responder a questão de “porque o povo brasileiro não está indo às ruas”, mas tão somente apresentar (ou melhor, fazer recordar) ao menos dois elementos que podem contribuir com o debate.

O primeiro deles é a noção de que “as ideias da classe dominante são, em todas as épocas, as ideias dominantes”, conforme escreveram Karl Marx e Friedrich Engels no clássico “A Ideologia Alemã” (altamente recomendável ler ou reler esta obra, diga-se de passagem). Mais do que uma frase de efeito, trata-se de uma constatação da realidade. As elites, através da dominação dos meios de produção e de seus aparatos ideológicos, impõem ao povo um conjunto de valores com o objetivo de tornar a exploração algo “natural”. Não é a toa que a própria classe trabalhadora tanto reclama, por exemplo, do imposto sindical, insignificante para seu bolso, mas ignora a existência da mais-valia, que rouba quase toda riqueza por ela produzida.

Esta alienação imposta pelas elites impede, portanto, que a classe trabalhadora tome conhecimento de seu potencial e assuma ela própria as rédeas de seu destino.

Outro elemento – ligado diretamente ao primeiro – trata da subestimação da luta de ideias nos últimos anos, principalmente no auge do ciclo dos governos liderados por Lula e Dilma, quando uma combinação de crescimento econômico e melhora nas condições sociais levaram as próprias forças progressistas à certa acomodação, cumprindo pouco o seu papel de elevar o nível de consciência da população que trabalha e produz riqueza (registre-se: importante não simplificar demais essa questão, muito mais complicada do que essas superficiais linhas podem fazer parecer).

Certo é que apontar o dedo acusatório para o povo não é o melhor caminho, além de representar uma postura um tanto arrogante, pra dizer o mínimo. A secular luta pela emancipação da classe trabalhadora exige muita paciência e capacidade não apenas de ensinar, mas também de aprender.

2 comentários:

Pedro Sanches disse...

PODEMOS ASSIM DIZER TAMBÉM QUE O MONOPÓLIO DE MÍDIAS NOTADAMENTE A GLOBO E A SEGUIR: BAND, RECORD, SBT, REV. VEJA, FOLHA DE SÃO PAULO, ESTADÃO, ´REVISTA ÉPOCA, ISTO É, COM SEUS RETRANSMISSORES DE RÁDIOS E TVs ILEGAIS QUE PERTENCEM AOS PARTIDOS GOLPISTAS: PMDB, PSDB, DEM, PPS, PR, PDT COM SUAS MENTIRAS E MANIPULAÇÕES ANESTESIAM OS BRASILEIROS .

Jonas Carvalho disse...

Os golpistas de 2016 deram um nó no Brasil que eles mesmos não sabem como sair desta enrascada, como cobrar esta saída do povo.De acordo com os golpistas e a mídia havia "povo" na rua para derrubar Dilma. Derrubaram e colocaram Temer. No julgamento do TSE o povo não tinha lado. Na votação da admissibilidade do processo criminal contra Temer o povo nao tinha lado.Tirar Temer para colocar Rodrigo Maia ? Então, ruim com Temer, pior sem Temer. O povo prefere esperar outubro de 2018, para dar o seu recado, ainda que ate outubro de 2018, vai sofrer muito.