segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Ombudsman da Folha e a central de Fake News

Por Miguel do Rosário, no blog Cafezinho:

Com um atraso de mais de 10 anos, a Folha publica, através de sua ombudsman, sua primeira (e tímida) denúncia contra cobertura chapa-branca e acrítica de operações espetaculosas da Polícia Federal e seus desdobramentos judiciais.

Possivelmente, a jornalista leu alguma coisa do Cafezinho e descobriu que a grande imprensa brasileira se tornou uma central de Fake News.

As mentiras da Justiça são retroalimentadas pelas mentiras da mídia, num círculo vicioso e fascista que somente a razão neoliberal (absolutista e fanática) pode explicar.

Mais uns 10 ou 20 anos, e uma outra ombudsman da Folha vai criticar o papel do jornal na articulação midiática em favor do golpe de Estado de 2016 e na consolidação do regime de exceção, que tanta miséria e sofrimento estão trazendo ao povo brasileiro.

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Nem esperança nem equilíbrio
Por Paula Cesarina Costa, na Folha

10/12/2017 02h00

Recentes operações policiais mirando supostas irregularidades em universidades públicas provocaram reações contundentes de leitores. Atacam a Polícia Federal, o Ministério Público e seus métodos.

Reclamam de a Folha simplesmente reproduzir a versão da acusação, sem dar visibilidade e espaço às justificativas dos acusados. Queixam-se de que o jornal adere, de algum modo, ao que parte dos leitores acredita ser uma campanha contra a universidade pública.

Em um ano, desde o final de 2016, pelo menos seis operações policiais espetaculosas foram deflagradas em investigações de eventuais irregularidades. A imagem de policiais fardados e armados em campus universitário não traz boas recordações. Remete para muitos à ditadura militar, contra a qual grande parte da universidade se insurgiu.

Faz-se necessário rápido resumo das operações policiais a que me refiro. Em dezembro de 2016, a Operação PhD apurou eventual desvio de recursos de programas de incentivo à pesquisa na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Em fevereiro de 2017, Polícia Federal, Controladoria-Geral da União e Tribunal de Contas da União deflagraram a Operação Research, que apurava suposto repasse irregular de recursos mediante pagamentos sistemáticos, fraudulentos e milionários de bolsas a pessoas sem vínculos com Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Em setembro, o alvo da PF foi a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) durante a Operação Ouvidos Moucos. O reitor Luiz Carlos Cancellier foi preso, acusado de atrapalhar as investigações de irregularidades na concessão de bolsas para ensino a distância. Tornou-se a operação policial mais contestada até aqui, porque levou ao suicídio de Cancellier.

Em novembro, a operação Estirpe apurou superfaturamento e fraudes na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM).

No mesmo mês, um ex-reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) foi acusado de receber propina de gráfica numa licitação para impressão e distribuição de provas de concursos e vestibulares, no âmbito da Operação Acrônimo.

Na semana que passou, nova operação da PF e da CGU na UFSC –Torre de Marfim– foi deflagrada com o objetivo de apurar patrimônio incompatível de servidores.

Por fim, a Operação Esperança Equilibrista, que investiga o suposto desvio de recursos públicos na construção do Memorial da Anistia Política, levou à condução coercitiva de reitor e professores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), gerando fortes protestos da comunidade acadêmica.

A ocorrência frequente de operações policiais em ambiente antes banhado em aura de superioridade moral obriga a maior reflexão.

A primeira impressão é a de que a Folha, em particular, não dedicou a prioridade necessária a operações policiais –tecnicamente corretas ou não– no meio em que vive grande parte de seu público-alvo e que vive com orçamentos à míngua.

É claro que nenhuma instituição está a salvo de irregularidades nem merece ser tida como intocável.

No entanto, amplia-se a opinião de que há uma banalização do instrumento das prisões temporárias no país. Pede-se com frequência que as conduções coercitivas sejam consistentemente justificadas. As operações não deveriam se transformar em cena de série policial. A imprensa tem responsabilidade na forma como divulga essas ações policiais.

Para o editor de “Cotidiano”, Eduardo Scolese, a cobertura segue o mesmo critério jornalístico de outras ações policiais e não há adesão à qualquer campanha. “Publicamos o fato, as alegações da corporação e os outros lados dos citados.”

É preciso tirar do chamado piloto automático a cobertura das operações policiais, de seus agentes e de seus métodos. Tais ações têm evidente interesse público. Cabe à imprensa cobrar de investigados e investigadores. Leitores questionam como lidar com as operações de modo a analisá-las também por eventuais inconsistências, arbitrariedades, objetivos políticos. Além de avaliar sua divulgação ou não.

Que instrumentos os jornalistas precisam ter para tal?

Em um país com a cultura de corrupção arraigada, a presunção da inocência por vezes parece deixada de lado. A imprensa não pode embarcar no clima que domina parcela da sociedade brasileira de acreditar que todos são corruptos, até que provem não sê-lo.

Chegou o momento de jornais e jornalistas aprofundarem discussões e reverem os procedimentos que adotam ao divulgar investigações do Ministério Público e das instituições policiais.

A imprensa precisa estar preparada para não ser apenas reprodutor de informações passadas por procuradores e policiais, por vezes de maneira incompleta ou manipuladora. É preciso investigação própria e uma narrativa crítica, fundamentada em fatos e equilibrada.

Que papel jornalistas e jornais pretendem assumir num mundo cada vez mais radicalizado, com condenações sumárias? São respostas que proponho que leitores e jornalistas busquem e debatam na tentativa de refletir sobre a gravidade do momento que o país vive.

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