Foto: Marco Favero/Diário Catarinense |
“Vamo lá gente, deixa o Lula passar!” Com essa palavra de ordem improvisada, um corredor se abriu no meio da multidão que lotava a Praça Coronel Bertaso, no centro de Chapecó (SC). Quase instantaneamente, homens, mulheres, jovens, crianças foram enganchando os braços e criando uma corrente humana para proteger a passagem do presidente Lula entre o palanque do ato até o hotel.
No percurso de aproximadamente 300 metros, feito a pé, populares participaram da segurança ao presidente. Lula andou firme e sem pressa no meio da multidão –que cantava “Lula guerreiro do povo brasileiro”. No final, houve aplausos de satisfação e dever cumprido.
O gesto inesperado da caminhada simbolizou uma resposta contundente da população e de Lula aos ataques promovidos por fascistas contra o presidente e seus apoiadores nos últimos dias. Ocorreu um dia depois de milícias direitistas terem bloqueado o acesso rodoviário a Passo Fundo, impedindo a participação de Lula em evento em universidade na cidade.
Lula recuou na sexta, 23/3. Mas, no sábado, 24, avançou contra a escalada fascista que ameaça ferir a democracia no país. O avanço, completamente destoante da agressividade das milícias da extrema direita, reforça os apelos de paz verbalizados insistentemente por Lula e deixou sem ação a turma que passou o dia berrando, xingando, atirando ovos e pedras naquela esquina central de Chapecó.
Logo no início do dia, o grupelho colocou duas máquinas agrícolas encostadas no meio fio da praça, começou a soltar rojões e a fazer buzinaços. No final da manhã, o maquinário já tinha partido. Logo em seguida, ganharam força os xingamentos. Pedras e ovos iam sendo jogados contra os que organizavam o ato do outro lado da rua. Pessoas que passavam também eram alvo de agressões.
“Lincha, é comunista”, gritou um homem. Mais tarde, a equipe de Tutaméia foi agredida com soco, pontapé e ovada – nenhum de nós ficou ferido.
Segundo o próprio Lula contou no seu discurso, o grupo tentou cercar o aeroporto para impedir que seu vôo posasse mais cedo. O ex-prefeito Fernando Haddad, presente ao ato, falou que foi perseguido por um homem com uma pedra na mão. O político Paulo Frateschi precisou ser hospitalizado por causa de uma pedrada. Uma jornalista local foi agredida por milicianos e pela polícia, que lhe jogou spray de pimenta.
Durante o ato, rojões foram jogados e as provocações continuaram do outro lado da praça. Em sua fala, Lula definiu os agressores como “herdeiros políticos de [Adolf] Hitler, de [Francisco] Franco, do fascismo”. Bem no final do discurso, quando já estava se despedindo e o público certamente pensava em como sair em segurança dali, Lula declarou:
“Não vamos ficar raivosos com os do lado de lá, os que tentaram cercar o aeroporto para eu não descer. Ontem ameaçaram até jogar rojão na cabeceira do aeroporto. Não vão ficar raivosos. Nós não somos raivosos. Enquanto eles têm raiva, nós temos paz e amor. Mas não pensem que vão bater nesta face e a gente vai dar esta face (a outra). A gente vai dar é porrada se não respeitar a gente.
Nós não vamos [fazer, entrar em] brigas, mas não vamos fugir delas.
Aprendam, seus fascistas, a fazer democracia, aprendam a respeitar a pluralidade, aprendam a respeitar a convivência democrática na diversidade, porque senão o ódio vai prevalecer e o ódio não conduz uma nação a nada”.
E finalizou: “Povo de Chapecó, vocês que sobreviveram à morte de um time de futebol, e conseguiram sobreviver com a beleza e a tranquilidade de vocês, vocês saberão vencer os adversários da democracia”.
Na sequência, quando organizadores do ato já recomendavam que as pessoas saíssem em grupo, veio a informação de que Lula faria o trajeto até o hotel a pé, no meio da multidão. Minutos depois, ele atravessou sorrindo a porta transparente do hotel. As manchas de ovos quebrados no vidro tinham ficado para trás.
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