Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:
Os cinco tiros que mataram a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes varejaram a intervenção federal no Rio, alvo de protestos da multidão que acorreu ao centro durante o velório, colocando o presidente Michel Temer no centro do drama: enquanto não vier um esclarecimento cabal do crime, cobrado pela ONU e uma dezena de organizações internacionais, ele pesará sobre seu governo, podendo devorar o que lhe resta de mandato, assim como o caso Riocentro liquidou com o governo do último ditador-presidente, João Figueiredo.
Com a intervenção, o governo federal assumiu o inteiro controle da área de segurança do estado, através do interventor, general Braga Neto. “ Ele só responde a mim”, já disse Temer, ecoando os termos de seu decreto. Foi a intervenção e sua autoridade que os facínoras desafiaram ao fuzilar a parlamentar, ativista de muitas frentes de defesa dos direitos humanos, voz e rosto do povo que habita os territórios visados pela intervenção, os morros e favelas. Não tendo sido planejada, e não dispondo ainda de um plano de ação mais consistente, a intervenção limitou-se neste primeiro mês às incursões por comunidades em que os bandidos se abrigam, intimidando os moradores com suas revistas. O povo que Marielle representava. O general, por disciplina, aceitou a tarefa arriscada, pediu comedimento às tropas, evitou ocupações para não agravar conflitos mas eles não tinham como não aflorar.
A investigação começa naturalmente com uma pergunta: a quem interessava a morte de Marielle? A força que ela vinha combatendo era a do 41º. Batalhão da PM, como na postagem do último dia 10 numa rede social: “O que está acontecendo agora em Acari é um absurdo! E acontece desde sempre! O 41° batalhão da PM é conhecido como Batalhão da morte. Chega de esculachar a população! Chega de matarem nossos jovens”. A unidade lidera as estatísticas de homicídios decorrentes de confrontos: segundo levantamento da Folha de S. Paulo, foram 567 desde 2011, quando os números começaram a ser compilados. Em janeiro, policiais do batalhão responderam por 41% das mortes violentas nos bairros a ele vinculados.
Se, eventualmente, os assassinos de Marielle foram policiais, a intervenção, que ameaça “depurar as polícias”, foi desafiada por um poder paramilitar que afronta a democracia e estado de direito. Se foram bandidos, explicitaram a força do narco-estado instalado no Rio, que não será vencido por uma intervenção feita às pressas, contaminada por propósitos eleitorais. O “Fora Temer”, que andava perdendo força, ressurgiu forte ontem na sessão especial da Câmara e nas manifestações no centro do Rio.
Ao condenar o crime, Temer prometeu que a intervenção vai restaurar a paz no Rio e que o banditismo não destruirá nosso futuro. “Nós os destruiremos antes”. Ele mesmo não terá tempo para isso e está com um caso de repercussão internacional dentro do Palácio do Planalto.
Ódio e preconceito
Há dois aspectos subjacentes na execução de Marielle Franco. Primeiro, como apontado pelas deputados Érica Kokay e Maria do Rosario em seus discursos na Câmara, a torrente de ódio,com laivos fascistas, que vem tomando conta do Brasil. No limite, o outro, que me incomoda, é inimigo. Deve ser combatido com fúria, talvez com a morte. Seja na política ou nos conflitos pessoais. Se isso não for contido, as coisas ainda vão piorar muito. E há também, na eliminação de Marielle, a bronca com os que, vindo de baixo, tornaram-se atores importantes na cena pública, ganhando voz e emprestando-a aos que representam, como fazia ela em relação aos favelados, negros e mulheres. Seus assassinos, bons de pontaria, foram primários na avaliação das consequências.
A dispersão
Já não são onze os candidatos a presidente. Ontem a Democracia Cristã lançou José Maria Eymael, veterano figurante de outras disputas.
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