Por Roberto Amaral, em seu blog:
Na residência oficial do embaixador brasileiro em Washington, em jantar a representantes da extrema-direita dos EUA, onde tem sua alma, o capitão declarou haver chegado ao poder “não para construir”, mas para “desconstruir muita coisa’. Sua palavra está sendo cumprida com dedicação e competência exemplares. A economia soçobra e a dignidade nacional foi ao chão.
A indústria de transformação, em queda continuada, conhece seu pior momento nos dois primeiros meses do novo regime: a atividade caiu 0,2% em relação ao ano passado e 54% de todos os setores tiveram queda, acentuando o recuo da participação industrial no PIB, que não passa de ínfimos 11,3% (no final dos anos 80, representava 30%). Já é a menor desde 1947. Estamos em 40º lugar num ranking de 42 países. O total de desempregados – considerados apenas os que deixaram de procurar emprego, isto é, excluídos os trabalhadores informais, o lumpesinato e os miseráveis que perambulam pelas ruas –permanece na assustadora cifra dos 14 milhões e, como vimos, não há sinais de recuperação da economia, donde se torna fácil concluir que esse montante só irá crescer. O que há no horizonte, com a “reforma” antissocial da Previdência, é a perspectiva de restrições ao seguro desemprego. Enquanto isso, o governo insiste em desestabilizar o Mercosul, o principal importador de nossos produtos manufaturados.
Evidentemente, ha método nessa loucura.
As fiesps da vida, dirigidas por figuras menores como os Skaf e quejandos, nada têm a dizer, pois o ‘mercado’ só se interessa pela “reforma” da Previdência – penalizando os desempregados e os velhos e poupando os grandes salários – apresentada como panaceia para nos salvar da tragédia econômica. Essa, todavia, prosseguirá, pois se alimenta da brutal sonegação de impostos que tem na avenida Paulista o seu altar.
A desconstrução prossegue.
O capitão hostiliza os países árabes e, sem consulta à nação, simplesmente supondo que afaga Donald Trump ou atendendo às pressões dos setores mais atrasados do neopentecostalismo associado às alas radicais do sionismo, senão por ambas as razões, anuncia a transferência da embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém, onde instala um escritório de negócios, ao tempo em que determina à nossa delegação na ONU, contrariando décadas de comportamento exemplar, seguir os EUA nas votações de interesse de Israel. Não satisfeito, arrisca perigosas provocações ao Hamas. O que pretende? Nossa carne e frango têm no mercado árabe seu maior comprador. Empresas brasileiras exportadoras de aves já ensaiam instalar-se em países do Oriente Médio.
Por motivos que não se deu ao cuidado de explicar, o governo se mete no duelo comercial entre EUA e China, como linha auxiliar da política norte-americana. A China, porém, sabemos todos, ignora o capitão porque lhe convém, comprou 86% do total de soja que o Brasil exportou no ano passado, 50% de todas as vendas da Vale, e é um dos maiores importadores da soja brasileira. Tudo, ao final, termina por beneficiar os EUA, nosso competidor nessas e em várias outras commodities.
O crescimento do PIB, em 2019, segundo previsões do ‘mercado’, será inferior a 2%, e o Banco Mundial vê o aumento da pobreza no Brasil “após uma década de ouro de 2003 a 2013”, mas o governo não vê suas consequências na coesão nacional, enquanto estimula o dissenso, provoca os adversários, incita a violência e dissemina o medo.
A desconstrução vai em frente.
O projeto do novo regime não consiste, tão-só, em destruir o presente; trata-se, já agora, de evitar o futuro, esmagando as atividades que asseguram, ou assegurariam, nosso progresso, nossa autonomia, nossa independência. Trata-se de destruir a educação e as expectativas de desenvolvimento em ciência e tecnologia.
O colegiado corporação-mercado, capitão-general, congelou nada menos de 42% do orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Dos cerca de R$ 5,079 bilhões previstos no Orçamento para 2019, foram bloqueados R$ 2,132 bilhões. As reservas para pagamento dos bolsistas do CNPq não chegarão a julho.
O Ministério da Educação (MEC), foi abatido com um congelamento de 24,7% das despesas discricionárias. Dos R$ 23,633 bilhões previstos no orçamento para 2019, nada menos de R$ 5,839 bilhões foram contingenciados, restando para empenho, ao sabor os czares do Ministério da Economia, menos de R$ 18 bilhões.
Acresce-se a ocupação, por militares, dos cargos técnicos das autarquias das áreas de ciência e tecnologia e educação, dela afastando os quadros da academia. Assim, o CNPq e a CAPES são campos do ITA e a FINEP está sendo ocupada por coronéis do IME.
Trocando em miúdos: estamos diante do desmonte do sistema nacional de ciência e tecnologia.
O sucessor do colombiano – macaco em cristaleira – já disse a que veio. Para ele as universidades do Nordeste (detesta a escola pública) não deveriam oferecer cursos de filosofia, sociologia e coisas assim, comunizantes, mas se dedicar ao ensino de agronomia, em convênio com Israel.
Mas o desastre é mais amplo ainda.
O capitão age como detergente em nossa dignidade.
Diz-se que copia Trump, seu ícone. Mas há diferenças. O presidente dos EUA é, com todos os seus rompantes e seu risível topete, como em sua bem organizada paranoia, um nacionalista de fato, adepto do protecionismo em termos de mercado internacional, e, de uma forma ou de outra, está preservando a economia de seu país e gerando emprego. Nada a ver com o que ocorre no lado de baixo do Equador.
O capitão, versão contemporânea da mais abjeta vira-latice, não cessa de tomar decisões que ora prejudicam nossos produtos, ora são obras de pura lesa-pátria, como a destruição da Petrobras, o programa de privatização selvagem e ao sabor da bacia das almas, e a entrega da base de lançamentos de foguetes de Alcântara, de decisiva e insuperável importância estratégica para nossa segurança e nossos interesses comerciais. Entregou-a aos EUA para quê? Por quê? A que preço? Não se sabe. Sabe-se, porém, que esta vilania foi a pá de cal no programa espacial brasileiro, de mais de 50 anos. Sabe-se mais, que a política externa que desacata nossa história e relega a plano secundário nossos interesses, e a entrega de nossa economia, assim a olhos vistos, se fazem acobertadas pelo silêncio comprometedor das forças armadas brasileiras que, no passado, teceram uma louvável saga de defesa dos interesses nacionais, de que um só exemplo foi a consolidação do monopólio estatal do petróleo, obra histórica – fundamental para o desenvolvimento e segurança do país – que teve no general Horta Barbosa seu mais destacado condutor, e no Clube Militar, nele com destaque a atuação do também general Estilac Leal, um centro de debates.
As forças armadas de hoje, à mingua de lideranças à altura do desafio histórico que se coloca para os destinos do país, são corresponsáveis por uma política econômica que em nome de um mercado licencioso restringe os direitos sociais e consagra o Estado repressivo, nega a história e professa o anacronismo social, moral, jurídico, religioso. Ao fim e ao cabo, nossas forças armadas são o sujeito e o sustentáculo de uma política externa que prima pelo entreguismo, palavrão que volta à tona com o governo que sua aliança com o mercado levou ao Planalto.
Perorando sobre o óbvio, o general vice-presidente, em nova e doce vilegiatura, desta feita em palestra em Washington (sempre lá), reconheceu, para estudantes brasileiros, que, se o governo fracassar, a “conta” irá para as forças armadas.
O governo já fracassou e as forças armadas responderão pelo seu fracasso. E a História não esperará por muito tempo.
Para onde caminhamos? Doze soldados do Exército disparam 80 tiros de fuzil contra um carro onde se encontravam o músico Evaldo Rosa dos Santos, seu sogro, sua mulher, uma amiga, e uma criança. Mataram o motorista, feriram o carona e, gravemente, um popular que tentou socorrer as vítimas. O governador do Rio de Janeiro autoriza às tropas da PM o fuzilamento de ‘suspeitos’, e o capitão-presidente defende a posse e o uso indiscriminados de armas de fogo.
E a pergunta que não pode calar: afinal, quem mandou matar Marielle?
Na residência oficial do embaixador brasileiro em Washington, em jantar a representantes da extrema-direita dos EUA, onde tem sua alma, o capitão declarou haver chegado ao poder “não para construir”, mas para “desconstruir muita coisa’. Sua palavra está sendo cumprida com dedicação e competência exemplares. A economia soçobra e a dignidade nacional foi ao chão.
A indústria de transformação, em queda continuada, conhece seu pior momento nos dois primeiros meses do novo regime: a atividade caiu 0,2% em relação ao ano passado e 54% de todos os setores tiveram queda, acentuando o recuo da participação industrial no PIB, que não passa de ínfimos 11,3% (no final dos anos 80, representava 30%). Já é a menor desde 1947. Estamos em 40º lugar num ranking de 42 países. O total de desempregados – considerados apenas os que deixaram de procurar emprego, isto é, excluídos os trabalhadores informais, o lumpesinato e os miseráveis que perambulam pelas ruas –permanece na assustadora cifra dos 14 milhões e, como vimos, não há sinais de recuperação da economia, donde se torna fácil concluir que esse montante só irá crescer. O que há no horizonte, com a “reforma” antissocial da Previdência, é a perspectiva de restrições ao seguro desemprego. Enquanto isso, o governo insiste em desestabilizar o Mercosul, o principal importador de nossos produtos manufaturados.
Evidentemente, ha método nessa loucura.
As fiesps da vida, dirigidas por figuras menores como os Skaf e quejandos, nada têm a dizer, pois o ‘mercado’ só se interessa pela “reforma” da Previdência – penalizando os desempregados e os velhos e poupando os grandes salários – apresentada como panaceia para nos salvar da tragédia econômica. Essa, todavia, prosseguirá, pois se alimenta da brutal sonegação de impostos que tem na avenida Paulista o seu altar.
A desconstrução prossegue.
O capitão hostiliza os países árabes e, sem consulta à nação, simplesmente supondo que afaga Donald Trump ou atendendo às pressões dos setores mais atrasados do neopentecostalismo associado às alas radicais do sionismo, senão por ambas as razões, anuncia a transferência da embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém, onde instala um escritório de negócios, ao tempo em que determina à nossa delegação na ONU, contrariando décadas de comportamento exemplar, seguir os EUA nas votações de interesse de Israel. Não satisfeito, arrisca perigosas provocações ao Hamas. O que pretende? Nossa carne e frango têm no mercado árabe seu maior comprador. Empresas brasileiras exportadoras de aves já ensaiam instalar-se em países do Oriente Médio.
Por motivos que não se deu ao cuidado de explicar, o governo se mete no duelo comercial entre EUA e China, como linha auxiliar da política norte-americana. A China, porém, sabemos todos, ignora o capitão porque lhe convém, comprou 86% do total de soja que o Brasil exportou no ano passado, 50% de todas as vendas da Vale, e é um dos maiores importadores da soja brasileira. Tudo, ao final, termina por beneficiar os EUA, nosso competidor nessas e em várias outras commodities.
O crescimento do PIB, em 2019, segundo previsões do ‘mercado’, será inferior a 2%, e o Banco Mundial vê o aumento da pobreza no Brasil “após uma década de ouro de 2003 a 2013”, mas o governo não vê suas consequências na coesão nacional, enquanto estimula o dissenso, provoca os adversários, incita a violência e dissemina o medo.
A desconstrução vai em frente.
O projeto do novo regime não consiste, tão-só, em destruir o presente; trata-se, já agora, de evitar o futuro, esmagando as atividades que asseguram, ou assegurariam, nosso progresso, nossa autonomia, nossa independência. Trata-se de destruir a educação e as expectativas de desenvolvimento em ciência e tecnologia.
O colegiado corporação-mercado, capitão-general, congelou nada menos de 42% do orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Dos cerca de R$ 5,079 bilhões previstos no Orçamento para 2019, foram bloqueados R$ 2,132 bilhões. As reservas para pagamento dos bolsistas do CNPq não chegarão a julho.
O Ministério da Educação (MEC), foi abatido com um congelamento de 24,7% das despesas discricionárias. Dos R$ 23,633 bilhões previstos no orçamento para 2019, nada menos de R$ 5,839 bilhões foram contingenciados, restando para empenho, ao sabor os czares do Ministério da Economia, menos de R$ 18 bilhões.
Acresce-se a ocupação, por militares, dos cargos técnicos das autarquias das áreas de ciência e tecnologia e educação, dela afastando os quadros da academia. Assim, o CNPq e a CAPES são campos do ITA e a FINEP está sendo ocupada por coronéis do IME.
Trocando em miúdos: estamos diante do desmonte do sistema nacional de ciência e tecnologia.
O sucessor do colombiano – macaco em cristaleira – já disse a que veio. Para ele as universidades do Nordeste (detesta a escola pública) não deveriam oferecer cursos de filosofia, sociologia e coisas assim, comunizantes, mas se dedicar ao ensino de agronomia, em convênio com Israel.
Mas o desastre é mais amplo ainda.
O capitão age como detergente em nossa dignidade.
Diz-se que copia Trump, seu ícone. Mas há diferenças. O presidente dos EUA é, com todos os seus rompantes e seu risível topete, como em sua bem organizada paranoia, um nacionalista de fato, adepto do protecionismo em termos de mercado internacional, e, de uma forma ou de outra, está preservando a economia de seu país e gerando emprego. Nada a ver com o que ocorre no lado de baixo do Equador.
O capitão, versão contemporânea da mais abjeta vira-latice, não cessa de tomar decisões que ora prejudicam nossos produtos, ora são obras de pura lesa-pátria, como a destruição da Petrobras, o programa de privatização selvagem e ao sabor da bacia das almas, e a entrega da base de lançamentos de foguetes de Alcântara, de decisiva e insuperável importância estratégica para nossa segurança e nossos interesses comerciais. Entregou-a aos EUA para quê? Por quê? A que preço? Não se sabe. Sabe-se, porém, que esta vilania foi a pá de cal no programa espacial brasileiro, de mais de 50 anos. Sabe-se mais, que a política externa que desacata nossa história e relega a plano secundário nossos interesses, e a entrega de nossa economia, assim a olhos vistos, se fazem acobertadas pelo silêncio comprometedor das forças armadas brasileiras que, no passado, teceram uma louvável saga de defesa dos interesses nacionais, de que um só exemplo foi a consolidação do monopólio estatal do petróleo, obra histórica – fundamental para o desenvolvimento e segurança do país – que teve no general Horta Barbosa seu mais destacado condutor, e no Clube Militar, nele com destaque a atuação do também general Estilac Leal, um centro de debates.
As forças armadas de hoje, à mingua de lideranças à altura do desafio histórico que se coloca para os destinos do país, são corresponsáveis por uma política econômica que em nome de um mercado licencioso restringe os direitos sociais e consagra o Estado repressivo, nega a história e professa o anacronismo social, moral, jurídico, religioso. Ao fim e ao cabo, nossas forças armadas são o sujeito e o sustentáculo de uma política externa que prima pelo entreguismo, palavrão que volta à tona com o governo que sua aliança com o mercado levou ao Planalto.
Perorando sobre o óbvio, o general vice-presidente, em nova e doce vilegiatura, desta feita em palestra em Washington (sempre lá), reconheceu, para estudantes brasileiros, que, se o governo fracassar, a “conta” irá para as forças armadas.
O governo já fracassou e as forças armadas responderão pelo seu fracasso. E a História não esperará por muito tempo.
Para onde caminhamos? Doze soldados do Exército disparam 80 tiros de fuzil contra um carro onde se encontravam o músico Evaldo Rosa dos Santos, seu sogro, sua mulher, uma amiga, e uma criança. Mataram o motorista, feriram o carona e, gravemente, um popular que tentou socorrer as vítimas. O governador do Rio de Janeiro autoriza às tropas da PM o fuzilamento de ‘suspeitos’, e o capitão-presidente defende a posse e o uso indiscriminados de armas de fogo.
E a pergunta que não pode calar: afinal, quem mandou matar Marielle?
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