Por Eduardo Maretti, na Rede Brasil Atual:
A crise provocada pelas declarações do “filósofo” Olavo de Carvalho contra oficiais trouxe insatisfações no interior das Forças Armadas. A discrição dos militares impede que se saiba qual é o tamanho dessa insatisfação, mas o grupo olavista e a própria família Bolsonaro estão provocando um vespeiro. “Ao atacar a hierarquia como estão fazendo, começam a ofender a instituição. Essas declarações expõem todos ao ridículo, até porque os militares apostaram nisso que está aí”, diz o sociólogo Cândido Grzybowski, presidente do Conselho Curador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).
O desrespeito de Olavo chegou ao ponto de se referir ao ex-comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, dizendo que “altos oficiais militares, acossados por afirmações minhas que não conseguem contestar, (vão) buscar proteção escondendo-se por trás de um doente preso a uma cadeira de rodas”. Villas Bôas sofre de uma doença degenerativa grave.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo na terça-feira (7), o general respondeu com um recado sutil a Olavo de Carvalho e aos Bolsonaro. Perguntado se, no caso de o governo não dar certo, os militares ficariam com a conta desse fracasso, o general respondeu: “Embora o que estejamos vivendo não represente as Forças Armadas no governo, mas pela importante presença dos militares em cargos de chefia, certamente uma parte da conta será debitada aos militares.”
Os ataques dos olavistas e dos Bolsonaro têm mirado também no vice-presidente, Hamilton Mourão, e no ministro da Secretaria de Governo Carlos Alberto dos Santos Cruz. Apesar da agressividade, na quarta-feira (8), depois da entrevista de Villas Bôas, Olavo tentou ser diplomático. “Os espertinhos quiseram me forçar a puxar briga com o Villas-Bôas. O anjo da guarda me avisou para não cair nessa, ou pelo menos para deixar a coisa para mais tarde.” Não se sabe quem seria esse anjo da guarda.
O fato, aponta Grzybowski, é que todos os militares – independentemente de sua posição ideológica – prezam muito a instituição. “É um valor para todos. Eles têm um estatuto de respeito mútuo, apesar de eventuais divergências. Os militares tentam botar panos quentes porque são cúmplices dessa história até agora. Só que está complicando, porque a família Bolsonaro ataca generais e o oficialato, e isso tem limite.”
A insatisfação com o presidente Jair Bolsonaro não é pequena e essa constatação é corroborada por manifestações, inclusive, de sua base de apoio. Segundo o jornal Valor Econômico de segunda-feira (6), o deputado Capitão Augusto Rosa (PR-SP), presidente da Frente Parlamentar da Segurança Pública e membro da “bancada da bala”, chegou a falar em impeachment de Bolsonaro, devido a sua relação problemática com o Parlamento.
Embora declarando sua lealdade ao presidente da República “até o fim”, ele reconheceu a possibilidade de impeachment. "É triste uma luta tão grande para a direita assumir o poder e ver esfacelando a nossa imagem", disse. “O bombeiro fala que o ambiente está 'gasado', falta só a faísca para explodir. Ambiente gasado tem insatisfação política e insatisfação popular. A insatisfação política já está instalada, a olhos vistos. E se você juntar com a insatisfação popular, só falta uma faísca.” Nesse caso, acrescentou o deputado do PR, o vice, Hamilton Mourão, assumiria.
Grzybowski observa que o comportamento de Mourão é significativo. “Ele está viajando muito. Tem uma agenda própria, visita até governadores do PT, como o do Piauí (Wellington Dias, no final de abril). Esteve em São Paulo na Fiesp (final de março).” Segundo a colunista Mônica Bergamo, Mourão fará uma viagem à China entre 17 e 26 de maio. O sociólogo do Ibase deixa uma indagação que diz não poder responder no momento. “Que ensaios são esses?”
O desrespeito de Olavo chegou ao ponto de se referir ao ex-comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, dizendo que “altos oficiais militares, acossados por afirmações minhas que não conseguem contestar, (vão) buscar proteção escondendo-se por trás de um doente preso a uma cadeira de rodas”. Villas Bôas sofre de uma doença degenerativa grave.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo na terça-feira (7), o general respondeu com um recado sutil a Olavo de Carvalho e aos Bolsonaro. Perguntado se, no caso de o governo não dar certo, os militares ficariam com a conta desse fracasso, o general respondeu: “Embora o que estejamos vivendo não represente as Forças Armadas no governo, mas pela importante presença dos militares em cargos de chefia, certamente uma parte da conta será debitada aos militares.”
Os ataques dos olavistas e dos Bolsonaro têm mirado também no vice-presidente, Hamilton Mourão, e no ministro da Secretaria de Governo Carlos Alberto dos Santos Cruz. Apesar da agressividade, na quarta-feira (8), depois da entrevista de Villas Bôas, Olavo tentou ser diplomático. “Os espertinhos quiseram me forçar a puxar briga com o Villas-Bôas. O anjo da guarda me avisou para não cair nessa, ou pelo menos para deixar a coisa para mais tarde.” Não se sabe quem seria esse anjo da guarda.
O fato, aponta Grzybowski, é que todos os militares – independentemente de sua posição ideológica – prezam muito a instituição. “É um valor para todos. Eles têm um estatuto de respeito mútuo, apesar de eventuais divergências. Os militares tentam botar panos quentes porque são cúmplices dessa história até agora. Só que está complicando, porque a família Bolsonaro ataca generais e o oficialato, e isso tem limite.”
A insatisfação com o presidente Jair Bolsonaro não é pequena e essa constatação é corroborada por manifestações, inclusive, de sua base de apoio. Segundo o jornal Valor Econômico de segunda-feira (6), o deputado Capitão Augusto Rosa (PR-SP), presidente da Frente Parlamentar da Segurança Pública e membro da “bancada da bala”, chegou a falar em impeachment de Bolsonaro, devido a sua relação problemática com o Parlamento.
Embora declarando sua lealdade ao presidente da República “até o fim”, ele reconheceu a possibilidade de impeachment. "É triste uma luta tão grande para a direita assumir o poder e ver esfacelando a nossa imagem", disse. “O bombeiro fala que o ambiente está 'gasado', falta só a faísca para explodir. Ambiente gasado tem insatisfação política e insatisfação popular. A insatisfação política já está instalada, a olhos vistos. E se você juntar com a insatisfação popular, só falta uma faísca.” Nesse caso, acrescentou o deputado do PR, o vice, Hamilton Mourão, assumiria.
Grzybowski observa que o comportamento de Mourão é significativo. “Ele está viajando muito. Tem uma agenda própria, visita até governadores do PT, como o do Piauí (Wellington Dias, no final de abril). Esteve em São Paulo na Fiesp (final de março).” Segundo a colunista Mônica Bergamo, Mourão fará uma viagem à China entre 17 e 26 de maio. O sociólogo do Ibase deixa uma indagação que diz não poder responder no momento. “Que ensaios são esses?”
Popularidade caindo
É também evidente que a popularidade de Bolsonaro está em declínio acentuado. Em dezembro de 2018, 69% da população acreditava que ele faria um governo ótimo ou bom. Já segundo pesquisa CNI/Ibope divulgada no final de abril, somente 35% dos entrevistados considerava o governo ótimo ou bom.
“Quantos milhões não têm emprego nem perspectiva?”, constata Grzybowski. Hoje, são 13,4 milhões desempregados, segundo o IBGE. “Ele criou expectativa de que tudo ia melhorar, e não há um sinal sequer de que vai melhorar. Faz um esforço de manter o estilo de campanha, escrachado, com agressividade. Na assinatura do decreto que muda regras sobre uso de armas e de munições, todos estavam fazendo aquele gesto da campanha (simulando ter uma arma nas mãos). Isso é infantil.”
Enquanto isso, a popularidade de Mourão parece estar em ascensão, de acordo com pesquisa XP/Ipespe divulgada pelo site Infomoney na sexta-feira. Mourão é considerado ótimo ou bom por 39% dos entrevistados e ruim ou péssimo por 20%, diz a pesquisa.
O sociólogo menciona um artigo do cientista político André Singer, de 30 de março, no qual ele afirma: "Ter um vice, apoiado pelas Forças Armadas, que tenta e consegue se mostrar melhor que o chefe, é receita certa para o esvaziamento do poder presidencial".
A semana terminou com Bolsonaro fazendo uma previsão enigmática. “Talvez tenha um tsunami na semana que vem, mas a gente vence o obstáculo com toda certeza”, disse, em evento da Caixa Econômica Federal, em Brasília.
Já Mourão continua usando de diplomacia. Apesar de tudo, na quinta, o vice-presidente afirmou que a crise é "página virada" e que se tratava de uma "discussão paroquial".
É também evidente que a popularidade de Bolsonaro está em declínio acentuado. Em dezembro de 2018, 69% da população acreditava que ele faria um governo ótimo ou bom. Já segundo pesquisa CNI/Ibope divulgada no final de abril, somente 35% dos entrevistados considerava o governo ótimo ou bom.
“Quantos milhões não têm emprego nem perspectiva?”, constata Grzybowski. Hoje, são 13,4 milhões desempregados, segundo o IBGE. “Ele criou expectativa de que tudo ia melhorar, e não há um sinal sequer de que vai melhorar. Faz um esforço de manter o estilo de campanha, escrachado, com agressividade. Na assinatura do decreto que muda regras sobre uso de armas e de munições, todos estavam fazendo aquele gesto da campanha (simulando ter uma arma nas mãos). Isso é infantil.”
Enquanto isso, a popularidade de Mourão parece estar em ascensão, de acordo com pesquisa XP/Ipespe divulgada pelo site Infomoney na sexta-feira. Mourão é considerado ótimo ou bom por 39% dos entrevistados e ruim ou péssimo por 20%, diz a pesquisa.
O sociólogo menciona um artigo do cientista político André Singer, de 30 de março, no qual ele afirma: "Ter um vice, apoiado pelas Forças Armadas, que tenta e consegue se mostrar melhor que o chefe, é receita certa para o esvaziamento do poder presidencial".
A semana terminou com Bolsonaro fazendo uma previsão enigmática. “Talvez tenha um tsunami na semana que vem, mas a gente vence o obstáculo com toda certeza”, disse, em evento da Caixa Econômica Federal, em Brasília.
Já Mourão continua usando de diplomacia. Apesar de tudo, na quinta, o vice-presidente afirmou que a crise é "página virada" e que se tratava de uma "discussão paroquial".
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