Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
Vamos ficar devendo ao capitão Jair Bolsonaro a temporada de manifestações de rua, de onde o povo andava sumido, previstas para o mês de março.
Ao convocar seus devotos para os protestos miliciano-militares do dia 15, em defesa do governo e contra os outros poderes, o presidente acabou insuflando também os que são contra ele.
Antes dele, nenhum líder de oposição tinha sido capaz até agora de mobilizar tanto a sociedade civil, que já vinha discretamente organizando três manifestações para as próximas semanas:
- No dia 8, Dia Internacional da Mulher, marchas que já estavam marcadas em várias cidades do país contra a violência e em defesa das das liberdades democráticas, agora também levantarão a bandeira da defesa da Constituição e do Estado de Direito, ameaçados pela marcha golpista.
- No dia 14, véspera dos atos pró-Bolsonaro, manifestações lembrarão dois anos dos assassinatos de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, crimes praticados por milicianos já presos, mas sem chegar aos mandantes até agora. É isso que será cobrado nesta manifestação. Quem mandou matar?
- No dia 18, vão se juntar várias manifestações organizadas por centrais sindicais e pela UNE, em defesa da educação e do serviço público, e agora também da democracia.
Bolsonaro deu visibilidade a esses atos da oposição, que hoje ganharam meia página da Folha, em excelente reportagem de Joelmir Tavares e Carolina Linhares, com o título “Movimentos adaptam pautas de atos em resposta ao dia 15”.
Na abertura da matéria, eles constatam que “atos de rua, que já vinham sendo organizados por mulheres, organizações estudantis e centrais sindicais para o mês de março foram ampliados para incorporar uma resposta à manifestação que mira o Congresso endossada pelo presidente Jair Bolsonaro”.
“A pauta das liberdades democráticas é parte das demandas do ato e seguramente será levantada com toda a força”, disse à Folha Erika Andreassy, uma das articuladoras do protesto “Mulheres contra Bolsonaro”, marcado para o dia 8, na avenida Paulista, em São Paulo.
A advogada Carla Vitória, militante da Marcha Mundial das Mulheres, lembrou que a defesa da democracia já faz parte dos atos anuais da data, mas agora “em um momento em que o governo faz esse tipo de ameaça autoritária, esse tema se coloca como prioritário para nós”.
Dez entidades sindicais, reunidas na quinta-feira, decidiram que o ato previsto para o dia 18 deve unir todas as forças sociais e ser um contraponto ao ato do dia 15.
“A nossa manifestação do dia 18, além dos temas de educação, servidor público, direitos e emprego, após o discurso antidemocrático que Bolsonaro impôs, com ataques à imprensa e a movimentos sociais, vamos chamar com o mote de “ditadura nunca mais”, disse o ex-presidenciável do PSOL Guilherme Boulos, líder da Frente Povo Sem Medo e do MTST.
Bolsonaro conseguiu unir as oposições contra ele. PT, PSOL e PCdoB estão convocando seus filiados e militantes para participar dos atos.
Ao mesmo tempo, o desastrado presidente dividiu seus próprios seguidores sobre as bandeiras que serão levadas às ruas no dia 15, como informa o Estadão:
“De um lado, apoiadores da família do presidente pressionam para que o mote do protesto seja apenas “somos todos Bolsonaro”. Defensores da Lava Jato. no entanto, querem usar o ato para pressionar os políticos a aprovarem mudanças na lei para permitir a prisão após condenação em segunda instância. A divergência levou a uma troca de ataques nas redes sociais”, relatam os repórteres Pedro Wenceslau e Paula Reverbel.
Ou seja, bolsonaristas e moristas já estão antecipando uma disputa prevista apenas para as eleições de 2022.
E já se prevê uma batalha de números sobre o total de participantes em cada manifestação, a favor ou contra o governo.
As contagens oficiais feitas pelas PMs costumam insuflar os números das manifestações de direita e reduzir o tamanho dos atos contra Bolsonaro.
Seja como for, não dá para prever os efeitos no cenário político dos atos organizados para março.
Sempre é bom lembrar que apenas 15 mil pessoas foram contadas no primeiro comício da campanha das Direitas Já, no final de 1983, na praça Charles Muller, em frente ao Pacaembu.
Um mês depois, mais de 300 mil pessoas foram à praça da Sé, no comício que reuniu no mesmo palanque Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Brizola, dando início a uma escalada de manifestações que ocuparam praças e ruas de todo o país, nas maiores manifestações cívicas em defesa da democracia da nossa história, já nos estertores da ditadura militar.
O povo é imprevisível. Depois que sai às ruas, se houver um motivo forte, ninguém segura, como vimos em 1984.
Vida que segue.
Bolsonaro deu visibilidade a esses atos da oposição, que hoje ganharam meia página da Folha, em excelente reportagem de Joelmir Tavares e Carolina Linhares, com o título “Movimentos adaptam pautas de atos em resposta ao dia 15”.
Na abertura da matéria, eles constatam que “atos de rua, que já vinham sendo organizados por mulheres, organizações estudantis e centrais sindicais para o mês de março foram ampliados para incorporar uma resposta à manifestação que mira o Congresso endossada pelo presidente Jair Bolsonaro”.
“A pauta das liberdades democráticas é parte das demandas do ato e seguramente será levantada com toda a força”, disse à Folha Erika Andreassy, uma das articuladoras do protesto “Mulheres contra Bolsonaro”, marcado para o dia 8, na avenida Paulista, em São Paulo.
A advogada Carla Vitória, militante da Marcha Mundial das Mulheres, lembrou que a defesa da democracia já faz parte dos atos anuais da data, mas agora “em um momento em que o governo faz esse tipo de ameaça autoritária, esse tema se coloca como prioritário para nós”.
Dez entidades sindicais, reunidas na quinta-feira, decidiram que o ato previsto para o dia 18 deve unir todas as forças sociais e ser um contraponto ao ato do dia 15.
“A nossa manifestação do dia 18, além dos temas de educação, servidor público, direitos e emprego, após o discurso antidemocrático que Bolsonaro impôs, com ataques à imprensa e a movimentos sociais, vamos chamar com o mote de “ditadura nunca mais”, disse o ex-presidenciável do PSOL Guilherme Boulos, líder da Frente Povo Sem Medo e do MTST.
Bolsonaro conseguiu unir as oposições contra ele. PT, PSOL e PCdoB estão convocando seus filiados e militantes para participar dos atos.
Ao mesmo tempo, o desastrado presidente dividiu seus próprios seguidores sobre as bandeiras que serão levadas às ruas no dia 15, como informa o Estadão:
“De um lado, apoiadores da família do presidente pressionam para que o mote do protesto seja apenas “somos todos Bolsonaro”. Defensores da Lava Jato. no entanto, querem usar o ato para pressionar os políticos a aprovarem mudanças na lei para permitir a prisão após condenação em segunda instância. A divergência levou a uma troca de ataques nas redes sociais”, relatam os repórteres Pedro Wenceslau e Paula Reverbel.
Ou seja, bolsonaristas e moristas já estão antecipando uma disputa prevista apenas para as eleições de 2022.
E já se prevê uma batalha de números sobre o total de participantes em cada manifestação, a favor ou contra o governo.
As contagens oficiais feitas pelas PMs costumam insuflar os números das manifestações de direita e reduzir o tamanho dos atos contra Bolsonaro.
Seja como for, não dá para prever os efeitos no cenário político dos atos organizados para março.
Sempre é bom lembrar que apenas 15 mil pessoas foram contadas no primeiro comício da campanha das Direitas Já, no final de 1983, na praça Charles Muller, em frente ao Pacaembu.
Um mês depois, mais de 300 mil pessoas foram à praça da Sé, no comício que reuniu no mesmo palanque Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Brizola, dando início a uma escalada de manifestações que ocuparam praças e ruas de todo o país, nas maiores manifestações cívicas em defesa da democracia da nossa história, já nos estertores da ditadura militar.
O povo é imprevisível. Depois que sai às ruas, se houver um motivo forte, ninguém segura, como vimos em 1984.
Vida que segue.
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