Por Tereza Cruvinel, no site Brasil-247:
Na segunda-feira, dia em que o ministro Henrique Mandetta balançou mas não caiu, o Ministério da Saúde divulgou boletim epidemiológico com parâmetros para o relaxamento do isolamento social: governadores de estados que não estivessem com 50% da capacidade hospitalar comprometida poderiam flexibilizar as medidas restritivas a partir do dia 13.
Ontem o ministro e seus auxiliares voltaram a explicar a orientação, dizendo tratar-se apenas de “parâmetros”.
Bolsonaro e Mandetta, por sinal, tiveram hoje uma conversa definida como "tranquila".
O incentivo ao relaxamento certamente agradou Bolsonaro mas autoridades sanitárias e governadores acharam a recomendação arriscadíssima, capaz de levar à explosão da bomba virótica.
O governador do Distrito Federal, por exemplo, disse que não vai adotar flexibilização nenhuma:
“Se aqui não comprometemos ainda 50% da capacidade hospitalar foi exatamente porque tomamos medidas preventivas. Não vou jogar fora todo o esforço que já fizemos. Quem quiser que produza o aumento de mortes. Aqui no Distrito Federal eu quero os meus é vivos”.
Ibaneis diz que se os governadores forem esperar o estouro da capacidade hospitalar para impor restrições, haverá situações incontroláveis, como a da Itália.
No Brasil, Manaus é a capital que mais rapidamente está se aproximando do colapso do sistema.
Logo lá, onde tudo tem que chegar por avião ou barca.
O Ministério criou agora duas categorias de quarentena: o Distanciamento Social Ampliado (DSA) e o Distanciamento Social Seletivo (DSS).
No primeiro caso estariam as medidas que incluem fechamento de comércio e suspensão de todas as atividades não essenciais, com recomendação de que as pessoas fiquem em casa.
O segundo, na prática, seria o tal “isolamento vertical” defendido por Bolsonaro, com outro nome: deveriam ficar isolados apenas os idosos com mais de 60 anos e as pessoas com doenças pré-existentes.
Por isso a inflexão do Ministério da Saúde não deixa de ser um aceno de Mandetta a Bolsonaro, mesmo mantendo o mantra “ciência, disciplina, planejamento e foco”.
Mas exatamente da ciência estão vindo manifestações que reprovam qualquer forma de afrouxamento das restrições, num país onde, segundo a pesquisa do Datafolha, apenas 18% das pessoas dizem estar absolutamente isoladas, contra 54% que admitem estar circulando quando é necessário, e 24% que estão tocando a vida normalmente, tomando os devidos cuidados.
Para 4%, nada mudou. Ou seja, existem brechas largas para a circulação do vírus no Brasil.
O professor de epidemiologia da UnB, Walter Ramalho, diz que se houver afrouxamento vamos caminhar para a explosão da Covid19.
Ele diz que em muitos estados o sistema não ultrapassou 50% da capacidade hospitalar porque a doença não chegou completamente, não se aproximou do pico, mas que isso vai acontecer.
“Nós temos um problema na infraestrutura do sistema de saúde. Na maioria dos municípios, temos uma sobrecarga nas enfermarias e UTIs. A média histórica de ocupação dos leitos de UTIs do Sistema Único de Saúde (SUS) é de 95%, e isso era antes do coronavírus.
Agora, se nós temos esse cenário, como vamos afrouxar o isolamento social? Vamos evoluir rapidamente no contágio da Covid-19. Os países que mantinham regras mais frouxas, como Japão e Suécia, estão radicalizando para conter a doença. Nós estamos indo na contramão”, alerta ele.
Dimas Covas, o diretor do Instituto Butantã que coordena o esforço pela maior oferta de testes em São Paulo, diz que a orientação do ministério não tem fundamento científico e é altamente arriscada.
“A politização deste assunto joga a favor do vírus. Se não aprendermos com o que aconteceu em outros países, vamos repetir a tragédia da Itália.”
Já a testagem em massa, como recomenda a OMS, não está sendo feito pela absoluta falta de testes até para pessoas com sintomas.
Testes, e não afrouxamento, são necessários neste momento.
Ninguém pode deixar de enxergar um viés político nesta nova orientação do ministério da Saúde, que busca dissimuladamente conciliar com a ojeriza de Bolsonaro ao isolamento. Em conversa na semana passada, o ministro ouviu do presidente: "você quer matar as pessoas de fome".
Contra a fome, o governo também tem que agir, e não apenas com os R$ 600 em 3 parcelas.
Hoje, certamente, o ministro lhe falou das categorias novas de isolamento que sua pasta inventou, o DSA e o DSS, e isso deve ter contribuído para melhorar o clima da conversa.
É lamentável, é condenável, é perigosa a concessão de Mandetta a Bolsonaro no momento em que, segundo ele mesmo, podemos chegar ao momento da circulação descontrolada do vírus.
A bomba pode explodir, aumentando o número de brasileiros que vão morrer.
Nesta quarta-feira já se foram 699 e estamos com 14 mil casos.
Outro sinal estranho do ministério foi dado na coletiva de ontem.
Os auxiliares do ministro voltaram a dizer que a pasta não endossa o uso indiscriminado da cloroquina, como quer Bolsonaro, mas disseram que em março foi expedido um boletim dizendo que os médicos podem assumir a responsabilidade de aplicar o medicamento em casos muito graves.
Isso não havia sido dito antes.
Na segunda-feira, dia em que o ministro Henrique Mandetta balançou mas não caiu, o Ministério da Saúde divulgou boletim epidemiológico com parâmetros para o relaxamento do isolamento social: governadores de estados que não estivessem com 50% da capacidade hospitalar comprometida poderiam flexibilizar as medidas restritivas a partir do dia 13.
Ontem o ministro e seus auxiliares voltaram a explicar a orientação, dizendo tratar-se apenas de “parâmetros”.
Bolsonaro e Mandetta, por sinal, tiveram hoje uma conversa definida como "tranquila".
O incentivo ao relaxamento certamente agradou Bolsonaro mas autoridades sanitárias e governadores acharam a recomendação arriscadíssima, capaz de levar à explosão da bomba virótica.
O governador do Distrito Federal, por exemplo, disse que não vai adotar flexibilização nenhuma:
“Se aqui não comprometemos ainda 50% da capacidade hospitalar foi exatamente porque tomamos medidas preventivas. Não vou jogar fora todo o esforço que já fizemos. Quem quiser que produza o aumento de mortes. Aqui no Distrito Federal eu quero os meus é vivos”.
Ibaneis diz que se os governadores forem esperar o estouro da capacidade hospitalar para impor restrições, haverá situações incontroláveis, como a da Itália.
No Brasil, Manaus é a capital que mais rapidamente está se aproximando do colapso do sistema.
Logo lá, onde tudo tem que chegar por avião ou barca.
O Ministério criou agora duas categorias de quarentena: o Distanciamento Social Ampliado (DSA) e o Distanciamento Social Seletivo (DSS).
No primeiro caso estariam as medidas que incluem fechamento de comércio e suspensão de todas as atividades não essenciais, com recomendação de que as pessoas fiquem em casa.
O segundo, na prática, seria o tal “isolamento vertical” defendido por Bolsonaro, com outro nome: deveriam ficar isolados apenas os idosos com mais de 60 anos e as pessoas com doenças pré-existentes.
Por isso a inflexão do Ministério da Saúde não deixa de ser um aceno de Mandetta a Bolsonaro, mesmo mantendo o mantra “ciência, disciplina, planejamento e foco”.
Mas exatamente da ciência estão vindo manifestações que reprovam qualquer forma de afrouxamento das restrições, num país onde, segundo a pesquisa do Datafolha, apenas 18% das pessoas dizem estar absolutamente isoladas, contra 54% que admitem estar circulando quando é necessário, e 24% que estão tocando a vida normalmente, tomando os devidos cuidados.
Para 4%, nada mudou. Ou seja, existem brechas largas para a circulação do vírus no Brasil.
O professor de epidemiologia da UnB, Walter Ramalho, diz que se houver afrouxamento vamos caminhar para a explosão da Covid19.
Ele diz que em muitos estados o sistema não ultrapassou 50% da capacidade hospitalar porque a doença não chegou completamente, não se aproximou do pico, mas que isso vai acontecer.
“Nós temos um problema na infraestrutura do sistema de saúde. Na maioria dos municípios, temos uma sobrecarga nas enfermarias e UTIs. A média histórica de ocupação dos leitos de UTIs do Sistema Único de Saúde (SUS) é de 95%, e isso era antes do coronavírus.
Agora, se nós temos esse cenário, como vamos afrouxar o isolamento social? Vamos evoluir rapidamente no contágio da Covid-19. Os países que mantinham regras mais frouxas, como Japão e Suécia, estão radicalizando para conter a doença. Nós estamos indo na contramão”, alerta ele.
Dimas Covas, o diretor do Instituto Butantã que coordena o esforço pela maior oferta de testes em São Paulo, diz que a orientação do ministério não tem fundamento científico e é altamente arriscada.
“A politização deste assunto joga a favor do vírus. Se não aprendermos com o que aconteceu em outros países, vamos repetir a tragédia da Itália.”
Já a testagem em massa, como recomenda a OMS, não está sendo feito pela absoluta falta de testes até para pessoas com sintomas.
Testes, e não afrouxamento, são necessários neste momento.
Ninguém pode deixar de enxergar um viés político nesta nova orientação do ministério da Saúde, que busca dissimuladamente conciliar com a ojeriza de Bolsonaro ao isolamento. Em conversa na semana passada, o ministro ouviu do presidente: "você quer matar as pessoas de fome".
Contra a fome, o governo também tem que agir, e não apenas com os R$ 600 em 3 parcelas.
Hoje, certamente, o ministro lhe falou das categorias novas de isolamento que sua pasta inventou, o DSA e o DSS, e isso deve ter contribuído para melhorar o clima da conversa.
É lamentável, é condenável, é perigosa a concessão de Mandetta a Bolsonaro no momento em que, segundo ele mesmo, podemos chegar ao momento da circulação descontrolada do vírus.
A bomba pode explodir, aumentando o número de brasileiros que vão morrer.
Nesta quarta-feira já se foram 699 e estamos com 14 mil casos.
Outro sinal estranho do ministério foi dado na coletiva de ontem.
Os auxiliares do ministro voltaram a dizer que a pasta não endossa o uso indiscriminado da cloroquina, como quer Bolsonaro, mas disseram que em março foi expedido um boletim dizendo que os médicos podem assumir a responsabilidade de aplicar o medicamento em casos muito graves.
Isso não havia sido dito antes.
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