Charge: Marcio Baraldi |
A saúde financeira do sistema bancário parece ter sido uma das poucas a não sofrer grandes abalos após oito meses de pandemia da covid-19 no país. A economia brasileira começou o ano com registro de “pibinho” por falta de ações do governo pela recuperação da economia. De março para cá, a situação só se agravou. O tombo previsto para o PIB no ano é superior a 5%. Empresas perderam negócios e trabalhadores perderam empregos. O desemprego explodiu, para mais de 14%. Com medo da inadimplência, os três maiores bancos do país aumentaram suas provisões. Por isso, o lucro líquido alcançado por Bradesco, Itaú e Santander entre janeiro e setembro deste ano foi de “apenas” R$ 34 bilhões. Apesar da saúde sólida, as demissões nos bancos não pararam de ocorrer.
Em março, os três haviam se comprometido, em negociações com os sindicatos da categoria, que não haveria demissões nos bancos durante a pandemia. A onda de contágios ainda não acabou, o país chega a 6 milhões de casos, as mortes em decorrência da covid-19 voltaram a rondar a casa do milhar por dia e já somam 164 mil vidas perdidas. Mas se a pandemia seguiu de pé, a palavra dos bancos, não.
Demissões nos bancos têm nome e rosto
Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do governo, houve quase 13 mil demissões no sistema financeiro em nove meses. O Bradesco, sozinho, deixou sem trabalho 1.300 pessoas entre março e setembro, de acordo com os bancários. Uma das reações encontrada pelos sindicatos e a confederação nacional da categoria foi recorrer às redes sociais para denunciar o trio de bancos que agravou a situação da economia do Brasil.
Uma série de vídeos vem sendo divulgada pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. Gravadas por atores, as mensagens são baseadas em relatos de personagens reais, de funcionários que não podem se expor, tidos como exemplares por Bradesco, Itaú e Santander. Expressam o sentimento de traição dos bancos ao promover demissões de empregados que passaram anos cumprindo com suas obrigações. Postados no canal da entidade no YouTube, os testemunhos de ex-bancários dos três maiores bancos do país já tiveram mais de 52 mil visualizações.
Bárbara, 12 anos de Bradesco
“Eu batia as metas, cobria as férias do chefe, licença médica e licença-maternidade. Teve dias que eu não almocei. Não fui ao banheiro. Sofri assédio moral, ameaça de demissão. E quando argumentava para o gerente-geral que eu estava sobrecarregada, ele falava que o problema era do gerente regional. Mesmo assim eu me empenhava. Estava sempre entre os melhores. Até que numa segunda-feira eu fui demitida. Para o Bradesco, eu não tive uma boa performance.”
“Eu batia as metas, cobria as férias do chefe, licença médica e licença-maternidade. Teve dias que eu não almocei. Não fui ao banheiro. Sofri assédio moral, ameaça de demissão. E quando argumentava para o gerente-geral que eu estava sobrecarregada, ele falava que o problema era do gerente regional. Mesmo assim eu me empenhava. Estava sempre entre os melhores. Até que numa segunda-feira eu fui demitida. Para o Bradesco, eu não tive uma boa performance.”
Álvaro, 15 anos de Itaú
“Eu trabalhei durante 11 anos na Central 30 horas. Depois, fui para a mesa de financiamento auto. Até ganhamos prêmio de satisfação ao cliente. ‘Nós’, não, porque foi por minha causa. Mas eu mesmo nem fui convidado pra festa. Eu era um funcionário diferenciado, elogiado dentro e fora do departamento. Até chegar um gestor e começar a perseguir. Nisso eu fui demitido pelo time. Quinze anos de banco, cumprido metas. Explorado, assediado, pressionado, doente. De repente: ‘Não tem perfil’.”
“Eu trabalhei durante 11 anos na Central 30 horas. Depois, fui para a mesa de financiamento auto. Até ganhamos prêmio de satisfação ao cliente. ‘Nós’, não, porque foi por minha causa. Mas eu mesmo nem fui convidado pra festa. Eu era um funcionário diferenciado, elogiado dentro e fora do departamento. Até chegar um gestor e começar a perseguir. Nisso eu fui demitido pelo time. Quinze anos de banco, cumprido metas. Explorado, assediado, pressionado, doente. De repente: ‘Não tem perfil’.”
Luiz Carlos, nove anos de Santander
“Eu me lembro da Copa de 2014. Vai, Brasil! Eu vestia literalmente a camisa do banco. Muitos estrangeiros no país buscando os canais do banco. E eu era linha de frente no SAC do Santander. Atendimento em inglês, em espanhol. Vai, Brasil! E no SAC, a chefia te monitora o tempo todo. Ainda tem avaliação do cliente. Eu nunca recebi uma reclamação, nenhuma advertência. Ao contrário: eu recebia muitos elogios. E eu fui demitido. Motivo? Baixa produtividade.”
“Eu me lembro da Copa de 2014. Vai, Brasil! Eu vestia literalmente a camisa do banco. Muitos estrangeiros no país buscando os canais do banco. E eu era linha de frente no SAC do Santander. Atendimento em inglês, em espanhol. Vai, Brasil! E no SAC, a chefia te monitora o tempo todo. Ainda tem avaliação do cliente. Eu nunca recebi uma reclamação, nenhuma advertência. Ao contrário: eu recebia muitos elogios. E eu fui demitido. Motivo? Baixa produtividade.”
Humanizar os números
“O sindicato quis mostrar com esses vídeos uma coisa mais humana. Quando a gente vê só os números, fica uma coisa muito fria. A gente quis, com atores, mostrar a história verdadeira dos bancários. Que se dedicam muito. Cumprem metas e mesmo assim são demitidos” A explicação é da presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Ivone Silva.
“A gente quis dar um rosto para essas demissões. São pais e mães de família. São pessoas de quem suas famílias dependem. Pessoas que profissionalmente se dedicaram muito e mesmo assim foram demitidas. E isso apesar de todos os lucros dos bancos.”
De acordo com Ivone, o sindicato vem promovendo ações nas redes sociais e toda semana essas campanhas, que “atingem, sim, a imagem dos bancos”, aparecem entre os assuntos mais comentados. E os bancos são cobrados e acabam tendo de se explicar. “Isso porque a imagem dos bancos é aquela coisa de propaganda, olha, vem pra cá, nós estamos preocupados com sua saúde, somos seus parceiros. Parceiro nada. Estão colaborando para os péssimos números de demitidos na economia, apesar de seus lucros serem exorbitantes”, afirma a presidenta da entidade.
“A gente tem tido bastante retorno positivo. Gente falando ‘é isso mesmo!’ E os bancos têm de dar satisfações aos clientes, porque eles sentem a contradição entre a propaganda e a vida real”, observa. “As demissões afetam as condições do atendimento. Você passa nas agências e vê filas enormes. Principalmente no Bradesco, que tem feito muita propaganda, as pessoas estão vendo que as agências não condizem com as propagandas.”
“O sindicato quis mostrar com esses vídeos uma coisa mais humana. Quando a gente vê só os números, fica uma coisa muito fria. A gente quis, com atores, mostrar a história verdadeira dos bancários. Que se dedicam muito. Cumprem metas e mesmo assim são demitidos” A explicação é da presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Ivone Silva.
“A gente quis dar um rosto para essas demissões. São pais e mães de família. São pessoas de quem suas famílias dependem. Pessoas que profissionalmente se dedicaram muito e mesmo assim foram demitidas. E isso apesar de todos os lucros dos bancos.”
De acordo com Ivone, o sindicato vem promovendo ações nas redes sociais e toda semana essas campanhas, que “atingem, sim, a imagem dos bancos”, aparecem entre os assuntos mais comentados. E os bancos são cobrados e acabam tendo de se explicar. “Isso porque a imagem dos bancos é aquela coisa de propaganda, olha, vem pra cá, nós estamos preocupados com sua saúde, somos seus parceiros. Parceiro nada. Estão colaborando para os péssimos números de demitidos na economia, apesar de seus lucros serem exorbitantes”, afirma a presidenta da entidade.
“A gente tem tido bastante retorno positivo. Gente falando ‘é isso mesmo!’ E os bancos têm de dar satisfações aos clientes, porque eles sentem a contradição entre a propaganda e a vida real”, observa. “As demissões afetam as condições do atendimento. Você passa nas agências e vê filas enormes. Principalmente no Bradesco, que tem feito muita propaganda, as pessoas estão vendo que as agências não condizem com as propagandas.”
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