Do site do Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé:
O expediente da judicialização para silenciar uma crítica ou uma denúncia segue atingindo em cheio a mídia independente brasileira. Desta vez, o Viomundo, pioneiro no movimento dos ‘blogueiros progressistas’ e referência no jornalismo alternativo brasileiro, é quem esteve na mira de uma ação judicial que custará a sua sobrevivência - a não ser que arrecade a quantia de R$ 20 mil.
Para isso, o site fundado pelo jornalista Luiz Carlos Azenha e que tem como editora a jornalista Conceição Lemes, lançou uma campanha de crowdfunding (a chamada ‘vaquinha virtual’) para juntar fundos e manter a página no ar.
O motivo do processo é uma reportagem publicada em 2015, reverberando a denúncia, obtida pelo Viomundo, feita pela filha de um paciente hospitalar, vítima de infarto, sobre um posicionamento político inadequado por parte da profissional de saúde que o atendia. Àquele momento, o caso acabou retratando a adesão de entidades médicas, como o Conselho Federal de Medicina (CFM), à disseminação do discurso de ódio e do antipetismo.
De acordo com a campanha de solidariedade ao Viomundo, que soma 15 anos na luta pela pluralidade e diversidade de opiniões e ideias no país, quando o episódio ocorreu, o CFM e a Associação Médica Brasileira (AMB) estavam em campanha feroz contra o governo Dilma Rousseff. “O corporativismo e questões ideológicas gritavam altíssimo. Rejeitavam o extinto ‘Programa Mais Médicos’, notadamente os profissionais cubanos, e a abertura de novas faculdades de medicina”, afirma Conceição Lemes, em texto postado no site da campanha.
Conforme relata a editora de Viomundo, uma doutora aproximou-se da beira do leito do paciente - dependente de álcool e pobre - e que aguardava transferência para outro hospital, onde faria novos exames, dizendo que “ele estava ali, porque Dilma havia cortado leitos hospitalares”. “No mesmo momento”, conta a jornalista, “sua filha que o acompanhava indignou-se, pois achava que hospital não era lugar para se fazer política. Então, resolveu denunciar”.
“Nós entrevistamos a filha, a doutora e consultamos também o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp)”, afirma a co-editora do Viomundo. “Somente depois de checarmos várias vezes todos os fatos, publicamos a reportagem. A doutora, alegando exposição de sua imagem, processou o Viomundo, eu (Conceição Lemes, autora da reportagem) e a filha do paciente”.
Ajudar o Viomundo é defender a história da mídia alternativa
O caso, que pode resultar na asfixia financeira contra o veículo contra-hegemônico é, por si só, um bom motivo para ajudar o Viomundo. Mas há outras razões que Rodrigo Vianna, jornalista e coordenador do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, elenca para despertar a solidariedade.
"O Viomundo, fundado por Luiz Carlos Azenha, foi pioneiro da blogosfera independente, criado na primeira década do século 21. Ou seja, um pouco antes do movimento de blogs progressistas ganhar força, em 2010”, recorda Vianna.
“Azenha e o Viomundo tiveram papel central na criação do BlogProg, o famoso movimento de blogueiros”, cuja história se confunde com o próprio nascimento do Barão de Itararé, espaço para agregar a profusão de jornalistas, acadêmicos e movimentos que toparam mergulhar no desafio de unir a mídia e os comunicadores alternativos em um país marcado por ter seis famílias dominando o mercado de comunicação.
“O site viveu sempre de forma independente, sem patrocínio de governos ou partidos, nem ligação com corporações de mídia”, ressalta Vianna. “Além de Azenha, a jornalista Conceição Lemes assumiu cada vez mais tarefas no site e hoje é a principal responsável por seu conteúdo”. Tanto Luiz Carlos Azenha quanto Conceição Lemes são integrantes do Conselho Consultivo do Barão de Itararé.
“O Viomundo sempre se orgulhou de não depender de propaganda de grandes empresas ou governos, em qualquer esfera, para sobreviver. Sempre fomos mantidos por nossos parceiros do mundo sindical e pelos anúncios do Google. Essa sempre foi a forma de garantir nossa independência editorial”, destaca Lemes. “Nestes tempos bicudos da pandemia, o site sente o aparente boicote do Facebook aos sites progressistas e à queda generalizada do faturamento dos anúncios do Google. Assim, caros leitores e leitoras, vocês são nossos últimos recursos. Precisamos angariar R$ 20 mil o mais rápido possível para que possamos ser livres novamente. Para que não calem as nossas vozes. E para que verdade continue sendo dita através do nosso site”.
Leia os detalhes do caso, divulgue e saiba como ajudar site da campanha de solidariedade: https://apoie.me/viomundo_justica
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