Por Altamiro Borges
Na semana passada, a Justiça Federal de São Paulo condenou o extremista Welker de Oliveira Guerreiro a quatro anos de prisão por apologia ao nazismo em uma rede social. Para a juíza Andrei Moruzzi, da 1ª Vara Criminal Federal, o neonazista revelou “que é partidário das ideias nazistas, de superioridade de raças e totalitarismo, ao induzir a discriminação racial”.
Numa das suas postagens, ele apoia a seita neonazista “Impacto Hooligan”, envolvida em agressões a minorias na Europa e já declarada como organização criminosa. Segundo denúncia do Ministério Público Federal, Welker de Oliveira faz parte da filial do grupo no Brasil e chegou a ser preso, em 2011, após agredir moradores de rua no centro da capital paulista.
O neonazista nativo também criou uma página na internet denominada “Misanthropic Division (Brasil)”, numa referência ao grupo paramilitar de extrema-direita que emergiu de ações violentas na Ucrânia em meados da década passada e que é ligado a organizações terroristas do leste europeu.
Além de determinar sua prisão em regime fechado, a juíza ordenou que a rede social russa VK.COM, onde ele postou suas provocações racistas, seja notificada para deletar imediatamente os conteúdos. Em seu depoimento, Welker de Oliveira disse que começou a se interessar por “ideologias nacionalistas”, pregadas pelo genocida Adolf Hitler, na época da escola.
530 células nazistas no país
Infelizmente, o caso do neonazista de São Paulo não é isolado. Principalmente após a chegada ao poder de Jair Bolsonaro, os grupos de extrema-direita que pregam ódio e violência têm crescido e saído do esgoto. No final de outubro, a revista Época estampou no título: “Número de células neonazistas no Brasil cresce cerca de 60% em dois anos”.
Segundo a reportagem, assinada pelos jornalistas Eduardo Graça e Janaína Figueiredo, “pesquisadores e historiadores que acompanham a evolução do neonazismo no Brasil alertam para o perigo da banalização do discurso de ódio no país e temem que a disseminação de desinformação nas redes sociais, ao lado da polarização política, que pode aumentar na campanha presidencial, impulsionem ainda mais o crescimento de grupos e células neonazistas”.
De acordo com as pesquisas da antropóloga Adriana Dias, da Unicamp, atualmente existem 530 células nazistas no país. “Em 2019, a especialista detectara 334, o que indica aumento de 58%. Há duas décadas, quando a antropóloga começou a vasculhar sites e blogs e não se tinha ainda a dimensão que tomariam as redes sociais e a deep web (onde os neonazistas atuam com total impunidade), o número não passava de dez”, descreve a revista.
Discursos de ódio racista e negacionista
Estudos da SaferNet Brasil, ONG focada há uma década e meia no estudo do discurso de ódio, também revelam números assustadores. Em 2019, foram recebidas e processadas 1.071 denúncias anônimas de neonazismo, envolvendo 544 páginas (URLs), das quais 212 foram removidas. Em 2020, foram 9.004 denúncias anônimas e 3.884 páginas, das quais 1.659 foram removidas.
“Estes grupos atuam no submundo virtual, mas também em aplicativos de mensagens de largo alcance, como o Telegram e o WhatsApp. Adriana Dias e sua equipe apresentaram recentemente uma denúncia judicial na qual afirmam que grupos ‘propagam discursos de ódio que envolvem neonazismo, racismo e negacionismo’”.
A acusação lembra que a Lei 7.716, de 5 de janeiro de 1989, dispõe sobre os crimes resultantes de preconceito de raça ou cor, e declara que é crime “fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propagandas que utilizem a cruz suástica ou gamada para fins de divulgação do nazismo”.
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