terça-feira, 25 de outubro de 2022

O Brasil que Bolsonaro vai deixar

Colagem sobre foto de Roberto Parizotti/CUT
Por Priscila Lobregatte, no site Vermelho:


Em tempos de pós-verdade, em que o factual dá lugar às crenças desvinculadas da realidade concreta, Jair Bolsonaro (PL) segue apostando em fake news e inverdades para tentar manter e angariar eleitores. Na entrevista concedida neste domingo (23) à TV Record, um dos temas sobre os quais o presidente buscou contar uma fábula bem diferente do que o povo vive no cotidiano diz respeito à economia.

Mesmo ciente dos graves problemas enfrentados pelo país nessa seara, Bolsonaro disse que o Brasil não entrou em crise durante a pandemia. Conforme dados trazidos pelo Estadão Verifica, a verdade é que “o primeiro ano de pandemia, 2020, registrou quedas históricas do Produto Interno Bruto (PIB) e da bolsa e aumento do dólar”.

Em 2020, o PIB caiu, em média 4,1% em relação a 2019, terceiro pior resultado da história. “O tombo só foi menor do que a retração de 4,35% registrada em 1990, ano do confisco das poupanças pelo governo Collor, que segue marcado com a maior retração econômica anual de que se tem registro, numa série histórica desde 1901 compilada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), e a registrada em 1981, em meio à crise da dívida externa, quando o tombo foi de 4,25%”, diz o jornal.

Reportagem da Deutsch Welle do final de setembro apontou que o PIB brasileiro “teve um desempenho fraco no primeiro ano do governo Bolsonaro, e já estava em tendência de queda antes do início da pandemia de Covid-19”.

É sabido, também, que era plenamente possível a tomada de medidas, por parte do governo, para enfrentar os efeitos da Covid-19 tanto do ponto de vista da saúde pública quanto no que se refere às questões econômicas, o que poderia ter não apenas protegido e poupado milhares de vidas como, também, garantido uma retomada da atividade mais rapidamente e com proteção social aos setores mais vulneráveis.

No entanto, não foi isso que aconteceu. E o resultado foi que o Brasil teve um dos piores resultados do mundo no enfrentamento à pandemia, além de lidar com o aumento da fome, da miséria e do desemprego, para ficar apenas em alguns indicadores.

Fome, miséria, desemprego

O desemprego, um dos dados mais concretos a mostrar a realidade do país, chegou a atingir 14,9% em março de 2021 e o rendimento médio dos brasileiros acumulou quedas sucessivas. “Em 2019, foi de R$ 2.471, um real a menos do que o do ano anterior. Em 2020, de R$ 2.386, e no ano seguinte de R$ 2.265, sempre a preços de 2021. Foi o menor valor da série histórica, iniciada em 2012”, apontou a DW.

E claro, quem mais sofreu com essa situação foi a população mais pobre. O estrato dos 5% da população que ganha menos teve uma variação negativa em seu rendimento de quase 34% em termos reais somente entre 2020 e 2021. No mesmo período, entre os 5% e os 10% dos que ganham menos, a queda foi de quase 32% e de 25% quando considerado o início da série histórica em 2012. Já entre os mais ricos ficou em torno de 3,4% entre 2020 e 2021 e no topo da pirâmide, a perda foi de 6,4% nesses mesmos anos.

Conforme apontou o jornalista Jamil Chade, do UOL, tendo como base dados da Organização Mundial do Trabalho (OIT), “em 2019, o número de desempregados no Brasil era de 12,5 milhões de pessoas. Em 2021, a taxa atingiu 14,3 milhões de pessoas e, em 2022, ele chegará a 14 milhões, uma queda apenas marginal”.

A soma desses e outros fatores fez com que, sob o governo de Jair Bolsonaro, a fome atingisse cerca de 33 milhões de pessoas, o que fez com que o país voltasse ao Mapa da Fome. Mas o presidente diz que isso não existe. No entanto, notícias de pessoas recorrendo a ossos e ao lixo para poder sobreviver se tornaram comuns. Além disso, um levantamento feito pela Universidade Federal de Minas Gerais mostrou que somente em 2022, de janeiro a maio, mais de 26 mil pessoas foram registradas em situação de rua no CadÚnico. A estimativa é de que haja 180 mil brasileiros vivendo nessas condições.

Outro dado sentido na pele do povo a cada ida ao mercado é a alta da inflação. De 2018 para cá, o índice dobrou no país. Até agosto deste ano, considerando o período de 12 meses, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve uma alta acumulada de 8,73%, enquanto no mesmo período de 2019 o aumento foi de 4,19%.

Estes são apenas alguns dos muitos dados que mostram a situação de penúria vivida pelos brasileiros sob o governo de Jair Bolsonaro. O presidente tenta fazer parecer que a realidade brasileira é diferente, mas a verdade é que há muito tempo o Brasil não enfrentava um quadro de tantas dificuldades, perdas e retrocessos como agora.

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