domingo, 26 de fevereiro de 2017

Temer, Yunes e o encontro dos bilionários

Por Luis Nassif, no Jornal GGN:

O dossiê distribuído pelo Anonymous, com informações sobre supostos negócios entre o presidente Michel Temer e o primeiro amigo José Yunes é composto por 30 documentos, entre PDFs e Words, basicamente registros na Junta Comercial e em paraísos fiscais.

Versam sobre uma infinidade de holdings e off-shores, algumas delas com os mesmos sócios, outras entrelaçando-se nas relações societárias, algumas soltas sem que, de cara, se possa montar alguma ligação maior.

Como é um quebra-cabeça extremamente complexo, vamos desbastando pelas bordas para ver onde chega. Pode não chegar a nenhum lugar, mas pode chegar a paragens interessantes.

As holdings que surgem da papelada são as seguintes:


Greystone, Shadowscape e Yuni Co são offshores instaladas em paraísos fiscais.

A holding principal é a Marau Administração de Bens e Participaçoes Ltda que contém sócios do clube dos bilionários brasileiros.

O objeto da sociedade é amplo: aquisição e alienação de bens imóveis, realização de estudos, planejamento, incorporações e participação em empreendimentos imobiliários em geral , administração de bens, participação em outras sociedades, com objeto relacionado a empreendimentos imobiliários ou empreendimentos em geral, na condição de cotista, acionista, consorciada ou de qualquer outra forma, bem como a realização de quaisquer outras operações que se relacionem, direta ou indiretamente, com seu objeto social. E ainda terá por objeto a exploração de atividade agrícola ou extrativa.

Entre os sócios participam (ou participaram as seguintes pessoas físicas e jurídicas:



Vamos a um perfil rápido deles:

Alba Maria Juaçaba Esteve Pinheiro e Andrea Capelo Pinheiro – pertencem à família cearense que controlou o banco BMC – que teve relativo sucesso no início dos anos 90.

Alberto Dominguez Von Ihering Azevedo – é um dos três sócios da fábrica de roupas esportivas Track & Field e mais uma dezena de empreendimentos industriais e imobiliários.

Jean-Marc Roberto Nogueira Baptista Etlin – presidente da CVC Partners e vice-presidente do Itaú- BBA.

Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho – o Tuta, dono da Jovem Pan.

José Roberto Marinho – um dos herdeiros das Organizações Globo.

Construter Participações Ltda – de Rodrigo e Michel Terpins, herdeiros das Lojas Mariza.

Christopher Andrew Mouravieff-Apostol – irmão do banqueiro Roger Wright, tragicamente falecido perto de Troncoso – caiu o seu avião matando 14 membros da sua família, todos os filhos e netos. Sua parte foi assumida pela mãe, que morava na Suiça. Depois de sua morte, pelo irmão Christopher. Roger participou do Banco Garantia, do Credit Suisse e, no final, tinha a Arsenal, de investimentos.

Agnes Leopardi Gonçalves – sócia de Lg Office Manager Servicos Administrativos Ltda – ME e da Sao Sebastiao Vii Az Administracao de Bens e Participacoes Ltda., empresa da família Yunes.

Lúcia de Carvalho Lins – não consegui maiores informações.

Marcos Mariz de Oliveira Yunes – filho de José Yunes e executivo de um sem-número de empresas. Pelo sobrenome, é parente do criminalista Antônio Mariz de Oliveira, também na lista dos amigos pessoais de Temer.

Luiz Terepins – ex-presidente da Eternit, tem empresas do setor têxtil e de construções e presidiu a Bienal de São Paulo.

YS Marau Projeto Imobiliário Ltda – Do Grupo José Yunes.

Shadowscape Corporation – aí começa a entrar na zona cinza. Praticamente todos os sócios da Maraú são também sócios da Shadowscape. Por seu lado, entre as empresas controladas pela Shadowscape estão a própria Marau e a São Sebastião V Administração de Bens. Era registrada nas Ilhas Virgens, paraiso fiscal, pela Greystoke Trus Co, escritório especializado em montar offshores. Na documentação, aparece como controlada pela Greystone First Nominees Limited (https://goo.gl/LVXG7Z) que, por sua vez, aparece como controladora de fundos de investimento em várias partes do mundo, em uma teia típica de processos de lavagem de dinheiro.



Por hoje, ficamos por aqui.

É possível que os investidores da Maraú tenham se reunido em torno de um investimento imobiliário específico. Ou não. Vamos ver como as demais investigações prosseguem.

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