Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
A blindagem de Aécio Neves e seus tucanos não resistiu ao Carnaval.
Na Quarta-Feira de Cinzas, eles começaram a entrar na roda da Lava Jato e não deu mais para segurar a fantasia de pureza no enredo do reino encantado da corrupção. O carro alegórico da hipocrisia quebrou no meio do desfile.
De nada adiantou Rodrigo Janot decretar sigilo no depoimento do príncipe das empreiteiras, Marcelo Odebrecht, agora autoproclamado "bobo da corte" e "otário do governo", seus novos personagens.
Com tantos advogados de todas as partes no salão, não demorou para que as quatro horas das suas confissões à Justiça começassem a vazar seletivamente por todos os lados, de acordo com os interesses de cada um.
Bem que, no começo, os amigos midiáticos ainda tentaram preservar o presidente Michel Temer e seus aliados tucanos, cada vez mais poderosos no governo, jogando toda lama só para o lado do PT, mas desta vez não deu.
No meio da noite de quinta-feira, quando os telejornais estavam ainda no ar, entrou em cena BJ (como é conhecido Benedito Júnior, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura), um dos destaques do bloco dos delatores.
Sem muitos rodeios, ele cantou com todas as letras o samba do caixa dois tucano. Segundo ele, a empreiteira baiana entregou R$ 9 milhões "por fora" ao PSDB em 2014, a pedido do próprio Aécio Neves, que negou tudo, claro.
A bolada foi dividida, de acordo com o delator, entre tucanões de alta plumagem, incluindo o senador Antonio Anastasia, que ganhou papel de destaque no ano passado como relator do impeachment.
Em seu depoimento, na véspera, o herdeiro do império Odecrecht já tinha declarado o repasse de R$ 15 milhões a Aécio, mas por vias oficiais.
"Vias oficiais" é a expressão embutida nas notas divulgadas por políticos e partidos sempre que aparecem enrolados na Lava-Jato.
Ninguém nega mais que recebeu generosas doações da Odebrecht, um fantástico esquema de compra e venda suprapartidário e multinacional, que já chegou a 17 países, onde a empreiteira é processada.
O grande desafio agora é provar que foi tudo "por dentro", declarado direitinho à Justiça Eleitoral, como a lei permitia na época.
Esta é a tese que os advogados agora defendem em Brasília: o dinheiro das nossas doações era limpinho, legal e cheiroso; o dos outros, era sujo, ilegal e fedido.
Dizem que querem separar "o joio do trigo", para salvar a cara de quem recebeu por caixa dois, ou seja, todo mundo, de acordo com as delações já vazadas da empreiteira.
Beleza. Como saber, se o dinheiro não tem carimbo? Será que a Odebrecht teve o cuidado de separar a grana limpa e a grana suja na caixa forte do seu departamento de propinas?
Rasgadas as fantasias, descobre-se que, três após anos o início da Operação Lava Jato, não tinha santo nesta suruba político-empresarial-eleitoral, para usar uma expressão do ínclito senador Romero Jucá, do PMDB.
Em Curitiba, no mesmo dia das revelações feitas por BJ sobre o PSDB, o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares, da era do mensalão, era condenado pelo juiz Sergio Moro a mais cinco anos de prisão, agora pela Lava Jato. E os outros?
Onde estarão todos no próximo Carnaval? Quem vai sobreviver ao tsunami da megadelação odebrechtiana?
E vida que segue.
Na Quarta-Feira de Cinzas, eles começaram a entrar na roda da Lava Jato e não deu mais para segurar a fantasia de pureza no enredo do reino encantado da corrupção. O carro alegórico da hipocrisia quebrou no meio do desfile.
De nada adiantou Rodrigo Janot decretar sigilo no depoimento do príncipe das empreiteiras, Marcelo Odebrecht, agora autoproclamado "bobo da corte" e "otário do governo", seus novos personagens.
Com tantos advogados de todas as partes no salão, não demorou para que as quatro horas das suas confissões à Justiça começassem a vazar seletivamente por todos os lados, de acordo com os interesses de cada um.
Bem que, no começo, os amigos midiáticos ainda tentaram preservar o presidente Michel Temer e seus aliados tucanos, cada vez mais poderosos no governo, jogando toda lama só para o lado do PT, mas desta vez não deu.
No meio da noite de quinta-feira, quando os telejornais estavam ainda no ar, entrou em cena BJ (como é conhecido Benedito Júnior, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura), um dos destaques do bloco dos delatores.
Sem muitos rodeios, ele cantou com todas as letras o samba do caixa dois tucano. Segundo ele, a empreiteira baiana entregou R$ 9 milhões "por fora" ao PSDB em 2014, a pedido do próprio Aécio Neves, que negou tudo, claro.
A bolada foi dividida, de acordo com o delator, entre tucanões de alta plumagem, incluindo o senador Antonio Anastasia, que ganhou papel de destaque no ano passado como relator do impeachment.
Em seu depoimento, na véspera, o herdeiro do império Odecrecht já tinha declarado o repasse de R$ 15 milhões a Aécio, mas por vias oficiais.
"Vias oficiais" é a expressão embutida nas notas divulgadas por políticos e partidos sempre que aparecem enrolados na Lava-Jato.
Ninguém nega mais que recebeu generosas doações da Odebrecht, um fantástico esquema de compra e venda suprapartidário e multinacional, que já chegou a 17 países, onde a empreiteira é processada.
O grande desafio agora é provar que foi tudo "por dentro", declarado direitinho à Justiça Eleitoral, como a lei permitia na época.
Esta é a tese que os advogados agora defendem em Brasília: o dinheiro das nossas doações era limpinho, legal e cheiroso; o dos outros, era sujo, ilegal e fedido.
Dizem que querem separar "o joio do trigo", para salvar a cara de quem recebeu por caixa dois, ou seja, todo mundo, de acordo com as delações já vazadas da empreiteira.
Beleza. Como saber, se o dinheiro não tem carimbo? Será que a Odebrecht teve o cuidado de separar a grana limpa e a grana suja na caixa forte do seu departamento de propinas?
Rasgadas as fantasias, descobre-se que, três após anos o início da Operação Lava Jato, não tinha santo nesta suruba político-empresarial-eleitoral, para usar uma expressão do ínclito senador Romero Jucá, do PMDB.
Em Curitiba, no mesmo dia das revelações feitas por BJ sobre o PSDB, o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares, da era do mensalão, era condenado pelo juiz Sergio Moro a mais cinco anos de prisão, agora pela Lava Jato. E os outros?
Onde estarão todos no próximo Carnaval? Quem vai sobreviver ao tsunami da megadelação odebrechtiana?
E vida que segue.
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