Foto: Mídia Ninja |
Pelo jeito, a midiática intervenção militar no Rio de Janeiro – um show de pirotecnia para tentar tirar o usurpador Michel Temer do fundo do poço da rejeição – já começa a produzir seus efeitos. Como na ditadura, a censura parece que está de volta. No desfile das escolas campeãs neste sábado (17) no Sambódromo, um dos principais destaques do carnaval carioca foi sabotado. Ainda há controvérsias sobre o episódio sinistro, mas uma matéria do governista jornal O Globo não deixa muitas dúvidas:
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Uma das figuras mais comentadas do carnaval carioca, o vampiro-presidente da Paraíso do Tuiuti, vice-campeã do Grupo Especial, desfilou sem a faixa presidencial neste sábado. Segundo informações do barracão da escola, emissários da presidência da República pediram à Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) que impedisse a entrada do destaque. Questionado, o professor de História Léo Moraes, de 40 anos, disse que não tinha recebido essa informação, e que desfilaria com a faixa. Logo depois ele afirmou que perdeu o adereço no fim da apresentação de domingo. A reportagem do GLOBO, no entanto, viu o momento que o professor entregou a faixa para um funcionário da escola guardar dentro de um carro.
- Ele (o vampiro) representa um sistema. Isso que está acontecendo no Rio de Janeiro hoje, para qualquer um que tenha um conhecimento de história, é preocupante. A gente fica até com medo de se manifestar. Eu espero que isso não seja um grande retrocesso – disse o professor.
O carnavalesco Jack Vasconcelos disse que não teria como negar ou confirmar a informação:
- Para ser muito sincero eu passei o dia isolado. Acabei de chegar aqui. Não posso confirmar ou negar essa informação, pois seria leviano – disse.
Mais cedo, o diretor da escola Thiago Monteiro disse que Léo Moraes havia sofrido um mal-estar, mas que a participação dele no desfile estava garantida.
Muitos integrantes da escola lamentaram o fato de o personagem entrar na Avenida sem o adereço:
- Uma pena não terem peito de deixar ele usar a faixa presidencial.
Ao fim da apresentação, o professor de história recebeu a orientação de se descaracterizar rapidamente. Ainda mesmo na dispersão ele retirou a maquiagem e a roupa de vampiro. De acordo com fontes da escola, até duas horas antes do desfile a informação era de que professor não desfilaria, mas depois resolveram que ele entraria na Avenida, mas sem a faixa.
A Tuiuti caiu nas graças da internet e foi destaque até na imprensa internacional ao levar para a Avenida o enredo "Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?", com uma crítica social ao racismo e a exclusão social. Na parte final do desfile, a agremiação trouxe uma sátira política e criticou a Reforma Trabalhista e da Previdência. O GLOBO tentou entrar em contato com a assessoria de imprensa da Secretaria-Geral da Presidência da República, mas não obteve resposta.
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Apesar da aparente censura, o desfile da escola voltou a encantar os foliões e a agitar as redes sociais. Segundo o coletivo Mídia Ninja, “a Paraíso do Tuiuti foi recebida e se despediu do Sambódromo sob gritos de ‘é campeã’. Nas arquibancadas, havia cartazes contra a Globo, o golpe e a intervenção militar no Rio de Janeiro”. Na sua cobertura “jornalística”, a TV Globo novamente não escondeu o seu constrangimento com os “manifestoches” – os golpistas manipulados pela mídia que bateram panelas, vestiram camisetas da CBF e desfilaram nos patinhos amarelos da Fiesp. Já a TV Brasil – a emissora pública que também sofreu intervenção e hoje mais se parece com a TV Temer – transmitiu o desfile, mas sabotou várias das suas alas e fantasias mais críticas ao covil golpista.
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