Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:
Se até o Ministério do Trabalho será esquartejado, embora responda por tantas atividades relacionadas ao emprego, gerindo fundos como o FGTS e o FAT e fiscalizando delitos trabalhistas, não há dúvida de que Bolsonaro levará adiante o plano, anunciado no fechar das urnas, de acabar com a Empresa Brasil de Comunicação, a EBC.
Transpareceu no anúncio sobre o ministério o desejo de castigar as centrais sindicais que não apoiaram Bolsonaro.
A EBC também pode ser extinta pelo capricho revanchista de acabar com uma iniciativa do governo Lula.
Bolsonaro pouco sabe sobre a EBC, que como sempre faz, coordenará o pool de transmissão de sua posse para o Brasil e o mundo.
Se fechá-la, o governo terá que montar outra estrutura para acompanhar e difundir sons e imagens dos atos da Presidência. Emissoras privadas cobrem o que lhes interessa, mas todo governo disponibiliza, universalmente, registros das atividades do presidente e autoridades. Responde a EBC por muitas outras tarefas de comunicação governamental, da gestão da TV NBR (esta sim, televisão oficial, como disse Bolsonaro) à distribuição da publicidade legal obrigatória de órgãos federais, o que lhe rendeu quase R$ 50 milhões de receita própria em 2017.
Bolsonaro faltou à verdade dos números ao dizer que a empresa gasta R$ 1 bilhão/ano para não ter audiência.
O orçamento liberado no ano passado foi a metade disso, R$ 503 milhões. Para “comprar” fora todos os serviços que a EBC presta, o governo gastaria muito mais. Ela vai lhe fazer falta, se for extinta.
Mas a implicância, está claro, é com a TV Brasil, em menor grau com as emissoras de rádio e a Agência Brasil, que prestam serviços de comunicação pública, com independência editorial do governo de plantão.
Lula já se foi, está preso, mas na campanha Alckmin referia-se à TV pública como a TV do Lula.
A TV Brasil foi criada com 60 anos de atraso em relação às similares de outros países, para cumprir a previsão constitucional (artigo 223) da existência complementar entre canais estatais, públicos e privados.
Sua programação, mesmo hoje, após a desfiguração provocada por Temer, também por revanchismo, é diferenciada e complementar. O problema é que nunca pode ser nacionalmente distribuída, e isso impede a expansão da audiência.
Tivesse o governo Lula cassado algumas concessões analógicas para dá-las à EBC - pois em 2007 o espectro estava esgotado neste sistema de transmissão, e o digital inexistia -, a TV pública teria nascido com uma rede, e não apenas com os três canais iniciais (Rio, Brasília e São Luís). Ele optou por não criar conflitos.
A EBC tem muitos problemas que precisam ser resolvidos, mas ela é importante para o governo e muito mais para a sociedade, como alternativa à TV comercial.
Acabar com ela será um desperdício de recursos e um retrocesso democrático.
Nenhuma democracia do mundo abriu mão do seu sistema público, sem com isso restringir a expansão das redes privadas. Bolsonaro e os seus deviam estudar melhor o assunto.
Eleições no império
Sem maioria na Câmara, Donald Trump terá sua agenda interna bloqueada, poderá enfrentar CPIs e investigações e até um processo de impeachment, que não teria futuro porque os republicanos até ampliaram a maioria no Senado.
Ele deve agora, dizem os analistas, concentrar-se na política externa, área em que a Presidência americana tem vastos poderes, como o de utilizar a força militar, fazer e desfazer acordos e tratados. Vai tentar colher logo algum trunfo, como um acordo com a Coreia do Norte, enquanto dilapida o sistema liberal criado pelos Estados Unidos no pós-guerra.
Assim, a eleição americana promete tempo novo aos EUA mas não ao mundo. É justamente na política externa que Bolsonaro mais imita Trump, como na desastrosa promessa de transferir a embaixada brasileira em Israel para Jerusalém.
Sinal vermelho
Mirando o PT, Bolsonaro promete “abrir todos os sigilos” do BNDES. Deve ouvir o Moro. Muitos dados estão protegidos pelo sigilo bancário, cuja violação é crime e já derrubou um ministro da Fazenda.
Se até o Ministério do Trabalho será esquartejado, embora responda por tantas atividades relacionadas ao emprego, gerindo fundos como o FGTS e o FAT e fiscalizando delitos trabalhistas, não há dúvida de que Bolsonaro levará adiante o plano, anunciado no fechar das urnas, de acabar com a Empresa Brasil de Comunicação, a EBC.
Transpareceu no anúncio sobre o ministério o desejo de castigar as centrais sindicais que não apoiaram Bolsonaro.
A EBC também pode ser extinta pelo capricho revanchista de acabar com uma iniciativa do governo Lula.
Bolsonaro pouco sabe sobre a EBC, que como sempre faz, coordenará o pool de transmissão de sua posse para o Brasil e o mundo.
Se fechá-la, o governo terá que montar outra estrutura para acompanhar e difundir sons e imagens dos atos da Presidência. Emissoras privadas cobrem o que lhes interessa, mas todo governo disponibiliza, universalmente, registros das atividades do presidente e autoridades. Responde a EBC por muitas outras tarefas de comunicação governamental, da gestão da TV NBR (esta sim, televisão oficial, como disse Bolsonaro) à distribuição da publicidade legal obrigatória de órgãos federais, o que lhe rendeu quase R$ 50 milhões de receita própria em 2017.
Bolsonaro faltou à verdade dos números ao dizer que a empresa gasta R$ 1 bilhão/ano para não ter audiência.
O orçamento liberado no ano passado foi a metade disso, R$ 503 milhões. Para “comprar” fora todos os serviços que a EBC presta, o governo gastaria muito mais. Ela vai lhe fazer falta, se for extinta.
Mas a implicância, está claro, é com a TV Brasil, em menor grau com as emissoras de rádio e a Agência Brasil, que prestam serviços de comunicação pública, com independência editorial do governo de plantão.
Lula já se foi, está preso, mas na campanha Alckmin referia-se à TV pública como a TV do Lula.
A TV Brasil foi criada com 60 anos de atraso em relação às similares de outros países, para cumprir a previsão constitucional (artigo 223) da existência complementar entre canais estatais, públicos e privados.
Sua programação, mesmo hoje, após a desfiguração provocada por Temer, também por revanchismo, é diferenciada e complementar. O problema é que nunca pode ser nacionalmente distribuída, e isso impede a expansão da audiência.
Tivesse o governo Lula cassado algumas concessões analógicas para dá-las à EBC - pois em 2007 o espectro estava esgotado neste sistema de transmissão, e o digital inexistia -, a TV pública teria nascido com uma rede, e não apenas com os três canais iniciais (Rio, Brasília e São Luís). Ele optou por não criar conflitos.
A EBC tem muitos problemas que precisam ser resolvidos, mas ela é importante para o governo e muito mais para a sociedade, como alternativa à TV comercial.
Acabar com ela será um desperdício de recursos e um retrocesso democrático.
Nenhuma democracia do mundo abriu mão do seu sistema público, sem com isso restringir a expansão das redes privadas. Bolsonaro e os seus deviam estudar melhor o assunto.
Eleições no império
Sem maioria na Câmara, Donald Trump terá sua agenda interna bloqueada, poderá enfrentar CPIs e investigações e até um processo de impeachment, que não teria futuro porque os republicanos até ampliaram a maioria no Senado.
Ele deve agora, dizem os analistas, concentrar-se na política externa, área em que a Presidência americana tem vastos poderes, como o de utilizar a força militar, fazer e desfazer acordos e tratados. Vai tentar colher logo algum trunfo, como um acordo com a Coreia do Norte, enquanto dilapida o sistema liberal criado pelos Estados Unidos no pós-guerra.
Assim, a eleição americana promete tempo novo aos EUA mas não ao mundo. É justamente na política externa que Bolsonaro mais imita Trump, como na desastrosa promessa de transferir a embaixada brasileira em Israel para Jerusalém.
Sinal vermelho
Mirando o PT, Bolsonaro promete “abrir todos os sigilos” do BNDES. Deve ouvir o Moro. Muitos dados estão protegidos pelo sigilo bancário, cuja violação é crime e já derrubou um ministro da Fazenda.
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