Charge: Marcio Baraldi |
Na semana passada, dois indicadores econômicos confirmaram que a desigualdade cresce celeremente no Brasil do golpe do impeachment e da ascensão fascista de Jair Bolsonaro. Os dados sobre desemprego e informalidade revelaram o drama de milhões de brasileiros; já o balanço financeiro do Bradesco indicou que os abutres financeiros seguem com lucros recordes. Para piorar ainda mais o cenário, as estimativas de recuperação da economia mundial não são nada animadoras, como ficou patente no convescote da cloaca empresarial em Davos; e os sinais da economia nativa também são preocupantes, apesar das bravatas otimistas do ministro Paulo Guedes – o “Posto Ipiranga” do presidente-capetão e o queridinho da mídia rentista.
Segundo estudo do IBGE divulgado na quinta-feira (31), a taxa de desemprego fechou o último trimestre de 2018 em 11,6% – recuo de 0,2% em relação ao mesmo período de 2017. A população desocupada encerrou o triste ano com um contingente de 12,1 milhões de pessoas. A tímida melhora estatística ocorreu devido ao aumento da informalidade. Milhões de assalariados expulsos do mercado formal hoje trabalham sem carteira assinada, sem proteção das leis trabalhistas e com salários menores. Desde 2017 que a quantidade de informais supera o número de postos formais – fato inédito desde o início da série histórica do IBGE. No último trimestre de 2018, os postos com carteira assinada somaram 32,9 milhões de pessoas. Na outra ponta, os trabalhadores sem carteira assinada (11,5 milhões) e por conta própria (23,8 milhões) bateram novo recorde de desamparo.
Enquanto os trabalhadores estão à deriva, cada vez mais angustiados e sem perspectivas, os banqueiros seguem no paraíso. Também na quinta-feira, o Bradesco anunciou o aumento de 13,4% em seu lucro líquido recorrente em 2018, para R$ 21,564 bilhões, contra R$ 19,024 bilhões no ano anterior. A queda da taxa básica de juros, a Selic, não afetou a sua lucratividade, já que os juros reais seguem nas alturas e os abutres financeiros têm outros mecanismos para enriquecer. A carteira de crédito do banco, por exemplo, cresceu 7,8% em 12 meses e fechou o ano em R$ 531,6 bilhões. “O avanço ajudou a compensar a redução de receita com empréstimos, reflexo da queda da taxa de juros e da redução dos spreads”, afirmou Octavio de Lazari, presidente do Bradesco. “Com os spreads comprimidos, a única solução é crescer volume”, explicou o agiota financeiro.
Animação econômica segue no limbo
Apesar dessas manobras “lícitas” – e, principalmente, das ilícitas –, nem a cloaca burguesa está muito confiante no futuro. O bordel de Jair Bolsonaro não inspira segurança. Nem a desejada contrarreforma da Previdência, que tira dos aposentados para garantir caixa aos abutres financeiros, é tida como certa. Como apontou Vinicius Torres Freires, em artigo publicado na Folha na sexta-feira, o clima é de pessimismo. “A economia brasileira começa 2019 em um degrau mais baixo do que se esperava. Pode ser que a melhora das condições financeiras do final do ano (juros e dólar em baixa, Bolsa em alta) compense o final ruim de 2018. Por ora, o destino do primeiro trimestre deste ano novo parece ensanduichado entre o nível baixo de produção do trimestre passado e a espera de sinais fortes de que a reforma econômica vai começar”.
“Em termos de animação econômica, estaríamos, pois, no limbo. Não é uma boa perspectiva para um governo que precisa de muito apoio político para tocar mudanças duras no Congresso, reformas amargas ainda desconhecidas de boa parte do povo. Sim, é fato que, por vezes, o apoio (ou a rejeição) a um governante não depende imediatamente da situação econômica de momento, mas de expectativas e de confiança de que as coisas vão melhorar (foi assim no início de Lula 1, em 2004). Mas há pouca folga para fazer bobagem. Os economistas de Jair Bolsonaro não podem cometer disparates e passar vexames revoltantes tais como o da turma do governo que viaja no Balão Mágico (Direitos Humanos, Educação e Itamaraty)”.
E ainda há o cenário internacional, cada vez mais instável e assustador. A mesma Folha registrou em editorial o pessimismo que tomou conta da cloaca burguesa reunida em Davos, nos Alpes Suíços. “Em contraste com a visão construtiva quanto às perspectivas para a economia internacional no ano passado, desta vez o clima no Fórum Econômico Mundial foi de cautela e até pessimismo. A própria agenda do evento favoreceu abordagens pouco alvissareiras, pois trouxe temas como globalização e o impacto da revolução digital, com foco na tendência de aumento das desigualdades, no florescimento do populismo e nos riscos cada vez mais prementes ao meio ambiente”. O jornal – um entusiasta do livre mercado e do capitalismo – não esconde seus temores com a desaceleração da economia mundial – e, de quebra, com o desmonte da economia brasileira.
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