Por Jordana Pereira, no site da Fundação Perseu Abramo:
Das 35 metas para os cem dias de governo anunciadas pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, no último dia 23 de janeiro, duas dizem respeito à política de Segurança Pública. São elas, a meta 14 - decreto de facilitação da posse de armas; e a 15 - Projeto de Lei Anticrime. Em 15 de janeiro, Sérgio Moro e Bolsonaro assinaram um decreto que flexibiliza a posse de armas no país, alterando o Decreto de 2004 que regulamenta a Lei de 2003, o Estatuto do Desarmamento.
O que mudou?
Também conhecida como Bancada da Bala, a Frente foi uma iniciativa do deputado do DEM, Alberto Fraga (coronel da reserva da Polícia Militar, condenado por corrupção e flagrado em áudio reclamando de valor baixo da propina que recebia) aprovada em 2015 pelo então presidente da Câmara Eduardo Cunha (que dispensa apresentações). Hoje, a Frente possui 229 membros entre deputados eleitos e fora de exercício e tem como presidente o Capitão Augusto (PR-SP). A bancada é composta majoritariamente por deputados do PP (35 deputados), PSDB (33), MDB, PR e DEM (cada uma com 32 deputados). Esta configuração deverá mudar agora com a posse dos deputados federais eleitos em 2018.
Ainda, no que podemos chamar Pacote do Caos e Violência, Sérgio Moro, ministro da Justiça e de Segurança Pública, prepara um Projeto Anti Crime. Esta agenda parece que será disputada entre a já tradicional FPSP e um nova Frente pela Reforma Penal que começa a ser articulada pelo recém eleito Marcel Van Hattem (Novo-RS), com o apoio de Kim Kataguiri (DEM-SP) – que abdicou de concorrer à presidência da Casa para apoiar Van Hattem.
Só coisa boa, né? Só que não.
O Projeto Anti Crime prevê, entre outras coisas, uma mudança na Lei Penal, ampliando no país o chamado plea bargain, ou acordo penal, modalidade em que o acusado opta por um acordo em vez de responder a um processo. Hoje, a legislação brasileira permite a dispensa do processo penal por meio da utilização do acordo para crimes de menor potencial ofensivo.
O que é Plea Bargain
Modalidade de origem nos países de sistema common law (principal exemplo é o dos Estados Unidos) e se traduz em um acordo entre a acusação – normalmente Ministério Público – e o réu, através do qual o acusado se declara culpado das acusações, em troca de uma atenuação da pena. Nesta modalidade, caberia ao juiz, apenas a anuência do acordo.
Nos Estados Unidos, 95% dos casos são resolvidos antes de serem levados a julgamento com a utilização deste acordo penal. O sistema, porém, gera questionamento sobre condenação de inocentes e excessivo fortalecimento do MP que passaria a ter poderes judiciais e legislativos, em um caminho quase sem volta para o abismo de um já discriminatório e ineficiente (principalmente para os mais pobres e negros) Sistema de Justiça Criminal. “(…) a transação penal é feita sem provas contra os acusados. Utiliza-se um boletim de ocorrência, não há provas. A confissão por si só não pode levar alguém a cumprir pena, é preciso provas. Essa banalização dos acordos penais é muito perigoso”, comentou Rômulo Moreira, procurador de Justiça do Ministério Público do Estado da Bahia e professor de Direito Processual Penal para o site Justificando.
Ou seja, em situação de extrema vulnerabilidade, pobres, muitas vezes sem acesso a um processo justo e mal instruídos, tenderiam a fechar qualquer tipo de acordo, mesmo sendo inocentes. Conclusão: ainda mais encarceramento e alimentação de um sistema prisional cruel e desumano que só faz produzir mais mão de obra para o crime organizado, elevando, assim, ainda mais os índices de violência. Lembremos que os Estados Unidos têm a maior população carcerária do mundo, com dois milhões de pessoas presas, em sua maioria negras.
Especialistas chamam atenção para a necessidade de uma Reforma no Código e Processo Penal brasileiros, que datam da década de 1940, mas apontam também que esta proposta que se constrói, sem o amplo debate social necessário, só deverá agravar mais a situação da Segurança Pública do país.
De qualquer forma, na fila dos Projetos, este de Sérgio Moro não parece prioridade. Para o governo Bolsonaro a medida mais importante é a Reforma da Previdência. E, para a Bancada da Bala, conforme anunciaram, é a facilitação para o porte. Mais armas, mais encarceramento, menos proteção social: será que esperam mesmo diminuir os índices de violência?
Das 35 metas para os cem dias de governo anunciadas pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, no último dia 23 de janeiro, duas dizem respeito à política de Segurança Pública. São elas, a meta 14 - decreto de facilitação da posse de armas; e a 15 - Projeto de Lei Anticrime. Em 15 de janeiro, Sérgio Moro e Bolsonaro assinaram um decreto que flexibiliza a posse de armas no país, alterando o Decreto de 2004 que regulamenta a Lei de 2003, o Estatuto do Desarmamento.
O que mudou?
Antes, o cidadão, para ter uma arma, deveria apresentar seus motivos à Polícia Federal e a instituição julgava a necessidade do caso. Depois do Decreto de 2019, a posse foi facilitada. Hoje, podem ter até quatro armas sem justificativas mais contundentes: agentes públicos, inclusive os inativos, da área de segurança pública; militares inativos; residentes em área rural; residentes em áreas urbanas de unidades federativas que tinham, em 2016, taxas acima de dez homicídios por cem mil habitantes conforme os dados do Atlas da Violência 2018 – o que abrange todos os estados do Brasil; titulares ou responsáveis legais de estabelecimentos comerciais ou industriais; e colecionadores, atiradores e caçadores, devidamente registrados no Comando do Exército. O Decreto ainda deixa de exigir identificação como nome e RG para agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), e passa de cinco para dez anos o período exigido para renovação da permissão. O governo também estuda anistiar, por meio de Medida Provisória, pessoas que já têm armas e perderam o prazo de renovação – pessoas que hoje estariam cometendo crime de posse ilegal.
A medida, no entanto, além de muito criticada por especialistas e órgãos nacionais e internacionais da área de Segurança Pública, também decepcionou militantes pelo armamento e a indústria armamentista que tinham uma expectativa de que Bolsonaro liberasse também o porte de arma, ou seja, a garantia de, além de ter em casa e/ou em estabelecimentos comerciais, poder transportar a arma pelos espaços públicos do campo e das cidades.
Por isso, a Frente Parlamentar de Segurança Pública (FPSP) se articula para colocar em plenário para aprovação o Projeto de Lei do deputado Rogério Peninha (MDB-SC), que revoga o Estatuto de Desarmamento e possibilita também o porte de arma aos cidadãos.
O que é a Frente Parlamentar de Segurança Pública
A medida, no entanto, além de muito criticada por especialistas e órgãos nacionais e internacionais da área de Segurança Pública, também decepcionou militantes pelo armamento e a indústria armamentista que tinham uma expectativa de que Bolsonaro liberasse também o porte de arma, ou seja, a garantia de, além de ter em casa e/ou em estabelecimentos comerciais, poder transportar a arma pelos espaços públicos do campo e das cidades.
Por isso, a Frente Parlamentar de Segurança Pública (FPSP) se articula para colocar em plenário para aprovação o Projeto de Lei do deputado Rogério Peninha (MDB-SC), que revoga o Estatuto de Desarmamento e possibilita também o porte de arma aos cidadãos.
O que é a Frente Parlamentar de Segurança Pública
Também conhecida como Bancada da Bala, a Frente foi uma iniciativa do deputado do DEM, Alberto Fraga (coronel da reserva da Polícia Militar, condenado por corrupção e flagrado em áudio reclamando de valor baixo da propina que recebia) aprovada em 2015 pelo então presidente da Câmara Eduardo Cunha (que dispensa apresentações). Hoje, a Frente possui 229 membros entre deputados eleitos e fora de exercício e tem como presidente o Capitão Augusto (PR-SP). A bancada é composta majoritariamente por deputados do PP (35 deputados), PSDB (33), MDB, PR e DEM (cada uma com 32 deputados). Esta configuração deverá mudar agora com a posse dos deputados federais eleitos em 2018.
Ainda, no que podemos chamar Pacote do Caos e Violência, Sérgio Moro, ministro da Justiça e de Segurança Pública, prepara um Projeto Anti Crime. Esta agenda parece que será disputada entre a já tradicional FPSP e um nova Frente pela Reforma Penal que começa a ser articulada pelo recém eleito Marcel Van Hattem (Novo-RS), com o apoio de Kim Kataguiri (DEM-SP) – que abdicou de concorrer à presidência da Casa para apoiar Van Hattem.
Só coisa boa, né? Só que não.
O Projeto Anti Crime prevê, entre outras coisas, uma mudança na Lei Penal, ampliando no país o chamado plea bargain, ou acordo penal, modalidade em que o acusado opta por um acordo em vez de responder a um processo. Hoje, a legislação brasileira permite a dispensa do processo penal por meio da utilização do acordo para crimes de menor potencial ofensivo.
O que é Plea Bargain
Modalidade de origem nos países de sistema common law (principal exemplo é o dos Estados Unidos) e se traduz em um acordo entre a acusação – normalmente Ministério Público – e o réu, através do qual o acusado se declara culpado das acusações, em troca de uma atenuação da pena. Nesta modalidade, caberia ao juiz, apenas a anuência do acordo.
Nos Estados Unidos, 95% dos casos são resolvidos antes de serem levados a julgamento com a utilização deste acordo penal. O sistema, porém, gera questionamento sobre condenação de inocentes e excessivo fortalecimento do MP que passaria a ter poderes judiciais e legislativos, em um caminho quase sem volta para o abismo de um já discriminatório e ineficiente (principalmente para os mais pobres e negros) Sistema de Justiça Criminal. “(…) a transação penal é feita sem provas contra os acusados. Utiliza-se um boletim de ocorrência, não há provas. A confissão por si só não pode levar alguém a cumprir pena, é preciso provas. Essa banalização dos acordos penais é muito perigoso”, comentou Rômulo Moreira, procurador de Justiça do Ministério Público do Estado da Bahia e professor de Direito Processual Penal para o site Justificando.
Ou seja, em situação de extrema vulnerabilidade, pobres, muitas vezes sem acesso a um processo justo e mal instruídos, tenderiam a fechar qualquer tipo de acordo, mesmo sendo inocentes. Conclusão: ainda mais encarceramento e alimentação de um sistema prisional cruel e desumano que só faz produzir mais mão de obra para o crime organizado, elevando, assim, ainda mais os índices de violência. Lembremos que os Estados Unidos têm a maior população carcerária do mundo, com dois milhões de pessoas presas, em sua maioria negras.
Especialistas chamam atenção para a necessidade de uma Reforma no Código e Processo Penal brasileiros, que datam da década de 1940, mas apontam também que esta proposta que se constrói, sem o amplo debate social necessário, só deverá agravar mais a situação da Segurança Pública do país.
De qualquer forma, na fila dos Projetos, este de Sérgio Moro não parece prioridade. Para o governo Bolsonaro a medida mais importante é a Reforma da Previdência. E, para a Bancada da Bala, conforme anunciaram, é a facilitação para o porte. Mais armas, mais encarceramento, menos proteção social: será que esperam mesmo diminuir os índices de violência?
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