A evolução dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado, a chamada CPI da Covid, vem revelando o tamanho da irresponsabilidade e das omissões do governo Bolsonaro. Os depoimentos já acumulam informações suficientes para comprovar que o cotidiano de caos no país poderia ser evitado com medidas indicadas pela ciência e pelos profissionais de saúde, em geral, adotadas pela maioria dos países. Em todos os casos, a omissão e o descaso são a essência de um governo comandado por uma ideologia que representa o que há de mais atrasado na contemporaneidade.
A negação do problema, que abrange todos os setores do Estado, expressa um ponto de vista que vai na contramão do progresso alcançado pelos esforços para fazer da ciência a base da civilização. O descaso, traduzido por falas obscuras e agressivas sobretudo do presidente Jair Bolsonaro, se revelou na prática pelos depoimentos na CPI mostrando que medidas como compra de vacinas e campanhas de esclarecimentos sobre a gravidade da pandemia foram negadas.
O Estado Democrático de Direito pressupõe o cumprimento da sua regulação, a Constituição – a lei máxima do país –, que no caso brasileiro prescreve exatamente o oposto do que faz o governo Bolsonaro. Pressupõe a defesa da vida como vértice de uma nação civilizada, o que implica um sistema de direitos que sustenta essa estrutura social. A Constituição, mesmo com limitações nesse aspecto, é resultado de uma longa jornada de lutas, que se se condensou no processo de enfretamento à ditadura militar.
Ao negar a gravidade da pandemia, o bolsonarismo afronta todos esses princípios. Sua omissão atesta que a ideologia de extrema direita que governa o Estado brasileiro é a negação de um legado civilizatório histórico que vem de lutas iluminadas por ideias que superaram ideologicamente o escravismo e a servidão e que são as fontes para o estabelecimento de sistemas democráticos baseados nos direitos humanos fundamentais. A conclusão é de que o combate no campo das ideias também é fundamental para enfrentar o bolsonarismo.
O obscurantismo ideológico da extrema direita se soma à crise econômica, resultado do projeto de entreguismo e de saque ao país por interesses rapaces, espécie de vaca sagrada do governo Bolsonaro. O resultado desse dogma parasitário chega de forma trágica no cotidiano das pessoas, principalmente as que mais precisam de proteção e de tratamento diante da pandemia. Com o cofre público trancado pela mão de ferro do ministro da Economia, Paulo Guedes, que atua mais como executivo do circuito financeiro do que como autoridade do Estado, o governo justifica todos as demais omissões. É tudo isso que a CPI da Covid vem revelando.
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