Por Antonio Lassance, no sítio Carta Maior:
Um mal-estar tomou conta de Marina Silva nesta segunda-feira (dia 7) e a levou ao hospital. A informação oficial divulgada é que a "pré-vice-candidata" de Eduardo Campos sofreu uma reação alérgica a uma mistura de chocolate com aspargos, um cardápio tão surpreendente e indigesto quanto sua pregação “antichavista”.
Coincidência ou não, o fato é que o mal-estar veio na sequência dos efeitos colaterais do que era para ter sido um grande lance de Marina. Entre os seguidores da Rede, muita gente não entendeu como alguém pode ter protagonizado um movimento para virar coadjuvante. Pegou mal e o grau de estresse dentro da Rede cresceu.
Ao contrário do que Marina supunha, a jogada foi recebida como um golpe de mestre de Campos, e não dela. Quando a aceitou como vice, Campos tinha certeza de que ele sairia bem na foto, mas estava apreensivo com o anúncio a ser feito naquela tarde de sábado (dia 5, a exato um ano das eleições). Apesar de ter fechado um acordo com a ex-senadora em detalhes, o pessebista tinha vários receios sobre o discurso da futura companheira de chapa. Passado o momento, ficou simplesmente eufórico. Confidenciou que foi melhor do que imaginava.
Por sua vez, a sensação em parte expressiva de apoiadores da Rede é a de que Eduardo Campos ganhou exatamente o que Marina perdeu. Não deu certo nem mesmo o combinado jogo de esconde-esconde, para manter algum suspense sobre quem seria o candidato a presidente e quem seria o vice.
Nesse aspecto, justiça seja feita, Eduardo Campos cumpriu o combinado e fugiu do assunto. Ele continua e continuará dizendo que o PSB só vai decidir quem concorrerá à presidência quando 2014 chegar. Quem entregou o jogo foi a própria Marina. Seu discurso, sem a sutileza que seria necessária, sepultou de pronto todas as esperanças de que ela cogitasse a cabeça da chapa. O que era para ser, simplesmente, o anúncio de sua filiação virou o ato de lançamento da candidatura de Campos à presidência.
Entre os principais articuladores da Rede, a orientação é a de que, certa ou errada, a decisão está tomada; deve ser assumida como positiva e todos precisam vestir a cara com sorrisos. Mas o clima em pelo menos metade da cúpula da organização e, também, entre quadros intermediários nos estados e na base, é de um profundo baixo astral. Marina esperava que todos se surpreendessem positivamente, mas não são esses os sinais que estão vindo de seus interlocutores.
O mal-estar levou a que setores próximos a Marina vazassem a informação de que foi ela quem arquitetou o acordo, e não Campos. A emenda foi pior que o soneto. Em uma Rede que se pretende horizontal, com discussões sobre todo e qualquer assunto, a atitude unilateral, que mal convenceu sua direção, estremeceu relações. A partir de agora, o apelo é mais por solidariedade à líder do que por convicção sobre o caminho escolhido.
Marina também se decepcionou com a imprensa. Esperava uma legião mais aguerrida de defensores midiáticos e reações muito mais entusiasmadas. Elas vieram, em parte, mas foram sobretudo endereçadas ao seu novo companheiro, e não a ela. Justo a imprensa para quem Marina levantou a bola do antipetismo e do antichavismo. Porém, o resultado serviu para criar um estranhamento com setores do PSB e também com a ala petista que ainda cuidava de manter relações cordiais com a ex-senadora. Assim, ela queimou em vão mais um de seus cartuchos.
A mídia que tem relações orgânicas e históricas com o PSDB está assustada com a possibilidade de o PSB, e não Aécio, se firmar como o adversário mais competitivo em 2014. Eles não torcem pelo PSB. Torcem por segundo turno, contra Dilma, mas sua preferência ainda é por Aécio. Alguém, além de Marina, tem ainda alguma dúvida disso?
Um partido que traz consigo gente como Luiza Erundina, Roberto Amaral e, agora, Vladimir Palmeira não chega a inspirar muita confiança da mídia mais conservadora. A reação ao chavismo também não convence. Há pouco mais de seis meses, Eduardo Campos assinou a manifestação do PSB não apenas lamentando a morte de Hugo Chávez, mas dizendo que seu partido "associa-se ao heróico povo venezuelano, a quem abraça com amizade neste momento de angústia. Estamos confiantes de que a Venezuela saberá superar este transe preservando suas conquistas democráticas e sociais, aprofundando seu desenvolvimento e consolidando sua soberania". Conquistas? Democráticas? Sociais? Que antichavismo é esse, feito de ocasião?
A prioridade da Rede é, no curto prazo, gerar uma notícia positiva com a criação do partido. Faltam 50 mil assinaturas. A não ser que acabem por gostar da clandestinidade, seria a maneira imediata de virar a página do sábado - um dia para ser esquecido - e dizer que a Rede continua. Enquanto isso, boa parte da futura cúpula do partido de Marina estará trabalhando como dirigente nos diretórios do PSB. Algo bem estranho, como aspargos com chocolate.
Um mal-estar tomou conta de Marina Silva nesta segunda-feira (dia 7) e a levou ao hospital. A informação oficial divulgada é que a "pré-vice-candidata" de Eduardo Campos sofreu uma reação alérgica a uma mistura de chocolate com aspargos, um cardápio tão surpreendente e indigesto quanto sua pregação “antichavista”.
Coincidência ou não, o fato é que o mal-estar veio na sequência dos efeitos colaterais do que era para ter sido um grande lance de Marina. Entre os seguidores da Rede, muita gente não entendeu como alguém pode ter protagonizado um movimento para virar coadjuvante. Pegou mal e o grau de estresse dentro da Rede cresceu.
Ao contrário do que Marina supunha, a jogada foi recebida como um golpe de mestre de Campos, e não dela. Quando a aceitou como vice, Campos tinha certeza de que ele sairia bem na foto, mas estava apreensivo com o anúncio a ser feito naquela tarde de sábado (dia 5, a exato um ano das eleições). Apesar de ter fechado um acordo com a ex-senadora em detalhes, o pessebista tinha vários receios sobre o discurso da futura companheira de chapa. Passado o momento, ficou simplesmente eufórico. Confidenciou que foi melhor do que imaginava.
Por sua vez, a sensação em parte expressiva de apoiadores da Rede é a de que Eduardo Campos ganhou exatamente o que Marina perdeu. Não deu certo nem mesmo o combinado jogo de esconde-esconde, para manter algum suspense sobre quem seria o candidato a presidente e quem seria o vice.
Nesse aspecto, justiça seja feita, Eduardo Campos cumpriu o combinado e fugiu do assunto. Ele continua e continuará dizendo que o PSB só vai decidir quem concorrerá à presidência quando 2014 chegar. Quem entregou o jogo foi a própria Marina. Seu discurso, sem a sutileza que seria necessária, sepultou de pronto todas as esperanças de que ela cogitasse a cabeça da chapa. O que era para ser, simplesmente, o anúncio de sua filiação virou o ato de lançamento da candidatura de Campos à presidência.
Entre os principais articuladores da Rede, a orientação é a de que, certa ou errada, a decisão está tomada; deve ser assumida como positiva e todos precisam vestir a cara com sorrisos. Mas o clima em pelo menos metade da cúpula da organização e, também, entre quadros intermediários nos estados e na base, é de um profundo baixo astral. Marina esperava que todos se surpreendessem positivamente, mas não são esses os sinais que estão vindo de seus interlocutores.
O mal-estar levou a que setores próximos a Marina vazassem a informação de que foi ela quem arquitetou o acordo, e não Campos. A emenda foi pior que o soneto. Em uma Rede que se pretende horizontal, com discussões sobre todo e qualquer assunto, a atitude unilateral, que mal convenceu sua direção, estremeceu relações. A partir de agora, o apelo é mais por solidariedade à líder do que por convicção sobre o caminho escolhido.
Marina também se decepcionou com a imprensa. Esperava uma legião mais aguerrida de defensores midiáticos e reações muito mais entusiasmadas. Elas vieram, em parte, mas foram sobretudo endereçadas ao seu novo companheiro, e não a ela. Justo a imprensa para quem Marina levantou a bola do antipetismo e do antichavismo. Porém, o resultado serviu para criar um estranhamento com setores do PSB e também com a ala petista que ainda cuidava de manter relações cordiais com a ex-senadora. Assim, ela queimou em vão mais um de seus cartuchos.
A mídia que tem relações orgânicas e históricas com o PSDB está assustada com a possibilidade de o PSB, e não Aécio, se firmar como o adversário mais competitivo em 2014. Eles não torcem pelo PSB. Torcem por segundo turno, contra Dilma, mas sua preferência ainda é por Aécio. Alguém, além de Marina, tem ainda alguma dúvida disso?
Um partido que traz consigo gente como Luiza Erundina, Roberto Amaral e, agora, Vladimir Palmeira não chega a inspirar muita confiança da mídia mais conservadora. A reação ao chavismo também não convence. Há pouco mais de seis meses, Eduardo Campos assinou a manifestação do PSB não apenas lamentando a morte de Hugo Chávez, mas dizendo que seu partido "associa-se ao heróico povo venezuelano, a quem abraça com amizade neste momento de angústia. Estamos confiantes de que a Venezuela saberá superar este transe preservando suas conquistas democráticas e sociais, aprofundando seu desenvolvimento e consolidando sua soberania". Conquistas? Democráticas? Sociais? Que antichavismo é esse, feito de ocasião?
A prioridade da Rede é, no curto prazo, gerar uma notícia positiva com a criação do partido. Faltam 50 mil assinaturas. A não ser que acabem por gostar da clandestinidade, seria a maneira imediata de virar a página do sábado - um dia para ser esquecido - e dizer que a Rede continua. Enquanto isso, boa parte da futura cúpula do partido de Marina estará trabalhando como dirigente nos diretórios do PSB. Algo bem estranho, como aspargos com chocolate.
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