Por Maurício Dias, na revista CartaCapital:
Segundo um preceito bíblico, não se pode servir a dois senhores. É uma regra adaptável à situação vivida neste momento pela presidenta Dilma Rousseff. Essa doutrina religiosa descreve o destino de quem adota a ambiguidade: ou vai odiar um e amar outro, ou se dedicar a um e desprezar o outro.
Esse é o dilema ao qual a presidenta está submetida a partir das anunciadas medidas econômicas. Ela terá de resolver as contradições impostas a ela. Há fortes reações ao “pacote”. O PT, os movimentos sociais, os sindicatos de trabalhadores e, naturalmente, a oposição.
Para os petistas, o ponto crucial é o de guarnecer os programas sociais e a inédita inclusão de alguns milhões saídos da miséria puxados para a categoria de cidadãos com direitos iguais aos de qualquer outra classe. Além disso, reagem ao ataque contra a base eleitoral do partido, a exemplo do que ocorreu com o corte no aumento salarial para os servidores.
A redução desses investimentos tende a crescer e, com isso, tornar imperceptível a linha divisória entre o segundo governo Dilma e uma administração conservadora qualquer. A questão social tem sido a marca diferencial dos petistas. É o que ainda dá a eles o carimbo de centro-esquerda.
Não por acaso, em recente viagem à Argentina, o ex-presidente Lula, ao falar da crise brasileira, encaixou o problema na moldura de “uma luta de classes”. Isso pode ser traduzido, resumidamente, no inarredável conflito entre a esquerda e a direita.
Obviamente, não havia ninguém da imprensa brasileira na Argentina. Mas um repórter da BBC estava lá. Segundo ele, Lula disse que “a inclusão levou setores da sociedade brasileira a repetir frases como ‘o aeroporto parece rodoviária’, ou ‘crédito estudantil é gasto’ ’’ .
As duas frases brotam da soma do preconceito com a ignorância. O ex-presidente não citou na ocasião o bem-sucedido programa contra a fome.
Curiosamente, porém, na terça-feira 15, esse programa foi coberto de elogios por José Roberto Marinho, um dos três herdeiros do império Globo de comunicação, uma empresa cuja identidade poderia ser: “A serviço da casa-grande desde 1925”.
Marinho foi apanhado pela inevitabilidade, na cerimônia de entrega do Prêmio Jovem Cientista, no Palácio do Planalto, com a presença da presidenta Dilma Rousseff.
Ao discursar, ele destacou a decisão de a ONU ter excluído o Brasil do mapa da fome: “Uma iniciativa que nos motiva a continuar avançando rumo a uma alimentação cada vez mais farta e saudável para toda a população”.
Alertou, com razão, que é preciso melhorar. No entanto, não fez nenhuma menção ao fato de o País ter reduzido em 82% a população em situação de subalimentação nos últimos 11 anos. Ou seja, tudo foi alcançado entre 2002 e 2013. Exatamente no ciclo dos governos petistas. O custo do ajuste pode apagar essa e outras conquistas. Do ponto de vista pragmático, poderá diminuir as chances do PT na disputa eleitoral de 2018.
Em tempo: salvo se, até lá, os oposicionistas não estiverem no poder e os petistas na oposição.
Esse é o dilema ao qual a presidenta está submetida a partir das anunciadas medidas econômicas. Ela terá de resolver as contradições impostas a ela. Há fortes reações ao “pacote”. O PT, os movimentos sociais, os sindicatos de trabalhadores e, naturalmente, a oposição.
Para os petistas, o ponto crucial é o de guarnecer os programas sociais e a inédita inclusão de alguns milhões saídos da miséria puxados para a categoria de cidadãos com direitos iguais aos de qualquer outra classe. Além disso, reagem ao ataque contra a base eleitoral do partido, a exemplo do que ocorreu com o corte no aumento salarial para os servidores.
A redução desses investimentos tende a crescer e, com isso, tornar imperceptível a linha divisória entre o segundo governo Dilma e uma administração conservadora qualquer. A questão social tem sido a marca diferencial dos petistas. É o que ainda dá a eles o carimbo de centro-esquerda.
Não por acaso, em recente viagem à Argentina, o ex-presidente Lula, ao falar da crise brasileira, encaixou o problema na moldura de “uma luta de classes”. Isso pode ser traduzido, resumidamente, no inarredável conflito entre a esquerda e a direita.
Obviamente, não havia ninguém da imprensa brasileira na Argentina. Mas um repórter da BBC estava lá. Segundo ele, Lula disse que “a inclusão levou setores da sociedade brasileira a repetir frases como ‘o aeroporto parece rodoviária’, ou ‘crédito estudantil é gasto’ ’’ .
As duas frases brotam da soma do preconceito com a ignorância. O ex-presidente não citou na ocasião o bem-sucedido programa contra a fome.
Curiosamente, porém, na terça-feira 15, esse programa foi coberto de elogios por José Roberto Marinho, um dos três herdeiros do império Globo de comunicação, uma empresa cuja identidade poderia ser: “A serviço da casa-grande desde 1925”.
Marinho foi apanhado pela inevitabilidade, na cerimônia de entrega do Prêmio Jovem Cientista, no Palácio do Planalto, com a presença da presidenta Dilma Rousseff.
Ao discursar, ele destacou a decisão de a ONU ter excluído o Brasil do mapa da fome: “Uma iniciativa que nos motiva a continuar avançando rumo a uma alimentação cada vez mais farta e saudável para toda a população”.
Alertou, com razão, que é preciso melhorar. No entanto, não fez nenhuma menção ao fato de o País ter reduzido em 82% a população em situação de subalimentação nos últimos 11 anos. Ou seja, tudo foi alcançado entre 2002 e 2013. Exatamente no ciclo dos governos petistas. O custo do ajuste pode apagar essa e outras conquistas. Do ponto de vista pragmático, poderá diminuir as chances do PT na disputa eleitoral de 2018.
Em tempo: salvo se, até lá, os oposicionistas não estiverem no poder e os petistas na oposição.
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