Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:
A hipocrisia é a a irmã siamesa do moralismo.
Quando o irmão entra em cena, ela chega com a imensa prole: o santarrão, o “tolinho”, o distraído, o “espero que a Justiça cumpra seu papel” e outros tantos.
A partir disso é que se deve analisar o suposto conteúdo das declarações de Marcelo Odebrecht, evidentemente que vazadas e traduzida na versão dos advogados de Michel Temer presentes ao interrogatório.
As expressões pinçadas da fala de quatro horas, porém, nos dão a pista do papel que, depois de quase dois anos de cadeia, o herdeiro de Emílio Odebrecht se dispôs a fazer.
Melhor ainda se prestarmos atenção a um singelo parágrafo do que publicaram Bela Megale, Mario Cesar Carvalho e Walter Nunes, em junho passado na Folha, um mês após a subida de Michel Temer ao poder, tratando do que eles chamam de súbita “conversão” do empresário:
Marcelo era inicialmente contra a colaboração, mas dobrou-se às evidências apresentadas por seu pai, Emílio Odebrecht: ou delata ou o grupo quebra. As dívidas chegam a R$ 90 bilhões. Finalmente ele topou.
Ele topou, exatamente porque não é bobo e sabe como funcionam as cortes, inclusive e principalmente o velho adágio: “Rei Morto, Rei Posto”.
Ponha-se o estimado leitor e a atenta leitora no lugar do mais verde advogado e saberá, de imediato, a quem deve ser apontado o dedo e quem deve ser “aliviado”, em troca do “topar”.
Porque não há conversão, como num milagre de fé.
O que há são negociações para firmar um acordo que, como todo acordo, é feito para satisfazer interesses. As declarações de fé ficam pela pitada romântica que os folhetins devem ter, como aquela fala de outro “convertido”, Paulo Roberto Costa – a quem agora o MP quer anular a delação, por achar que ele seguiu escondendo dinheiro – ao dizer-se “enojado” com a sua própria roubalheira.
Haverá “danos colaterais” no governismo, é inevitável na avalanche de dinheiros que sempre rolou – e e muito preferencialmente para a a direita – nas campanhas políticas, nas caixas 1 e 2. ‘Mamãe” Hipocrisia, Michel Temer e todos os outros vão dizer que era tudo legal e contabilizado.
Mas o grosso da artilharia será voltado para atingir os governos de Dilma e Lula, mesmo que com histórias absolutamente inverossímeis como a tal de ter havido um acerto com o Refis de 2009 e que a contrapartida por ele tenha se dado só em 2014.
O Refis de 2009, para quem não se lembra, foi uma das medidas tomadas para permitir que as empresas abaladas pelo “tsunami” de 2008 e muita gente “boa” se beneficiou dele para isso e para outras coisas. A Globo, por exemplo, para acertar as contas daquela famosa sonegação dos direitos de transmissão da Copa de 2002, a do “processo desaparecido” na Receita. Na lei brasileira, mesmo que você tenha sonegado abertamente, extingue-se o processo se o sonegador paga a dívida, deixa de ser crime…
Por isso, ontem, antes do vazamento do depoimento de Marcelo Odebrecht, escrevi que o país não pode ficar parado à espera do que dizem bandidos.
Bilionários não são bobos. Políticos não são bobos, procuradores e juízes também não são. E menos, muito menos ainda, é a mídia.
A corte não é boba e nela bobos não há.
A hipocrisia é a a irmã siamesa do moralismo.
Quando o irmão entra em cena, ela chega com a imensa prole: o santarrão, o “tolinho”, o distraído, o “espero que a Justiça cumpra seu papel” e outros tantos.
A partir disso é que se deve analisar o suposto conteúdo das declarações de Marcelo Odebrecht, evidentemente que vazadas e traduzida na versão dos advogados de Michel Temer presentes ao interrogatório.
As expressões pinçadas da fala de quatro horas, porém, nos dão a pista do papel que, depois de quase dois anos de cadeia, o herdeiro de Emílio Odebrecht se dispôs a fazer.
Melhor ainda se prestarmos atenção a um singelo parágrafo do que publicaram Bela Megale, Mario Cesar Carvalho e Walter Nunes, em junho passado na Folha, um mês após a subida de Michel Temer ao poder, tratando do que eles chamam de súbita “conversão” do empresário:
Marcelo era inicialmente contra a colaboração, mas dobrou-se às evidências apresentadas por seu pai, Emílio Odebrecht: ou delata ou o grupo quebra. As dívidas chegam a R$ 90 bilhões. Finalmente ele topou.
Ele topou, exatamente porque não é bobo e sabe como funcionam as cortes, inclusive e principalmente o velho adágio: “Rei Morto, Rei Posto”.
Ponha-se o estimado leitor e a atenta leitora no lugar do mais verde advogado e saberá, de imediato, a quem deve ser apontado o dedo e quem deve ser “aliviado”, em troca do “topar”.
Porque não há conversão, como num milagre de fé.
O que há são negociações para firmar um acordo que, como todo acordo, é feito para satisfazer interesses. As declarações de fé ficam pela pitada romântica que os folhetins devem ter, como aquela fala de outro “convertido”, Paulo Roberto Costa – a quem agora o MP quer anular a delação, por achar que ele seguiu escondendo dinheiro – ao dizer-se “enojado” com a sua própria roubalheira.
Haverá “danos colaterais” no governismo, é inevitável na avalanche de dinheiros que sempre rolou – e e muito preferencialmente para a a direita – nas campanhas políticas, nas caixas 1 e 2. ‘Mamãe” Hipocrisia, Michel Temer e todos os outros vão dizer que era tudo legal e contabilizado.
Mas o grosso da artilharia será voltado para atingir os governos de Dilma e Lula, mesmo que com histórias absolutamente inverossímeis como a tal de ter havido um acerto com o Refis de 2009 e que a contrapartida por ele tenha se dado só em 2014.
O Refis de 2009, para quem não se lembra, foi uma das medidas tomadas para permitir que as empresas abaladas pelo “tsunami” de 2008 e muita gente “boa” se beneficiou dele para isso e para outras coisas. A Globo, por exemplo, para acertar as contas daquela famosa sonegação dos direitos de transmissão da Copa de 2002, a do “processo desaparecido” na Receita. Na lei brasileira, mesmo que você tenha sonegado abertamente, extingue-se o processo se o sonegador paga a dívida, deixa de ser crime…
Por isso, ontem, antes do vazamento do depoimento de Marcelo Odebrecht, escrevi que o país não pode ficar parado à espera do que dizem bandidos.
Bilionários não são bobos. Políticos não são bobos, procuradores e juízes também não são. E menos, muito menos ainda, é a mídia.
A corte não é boba e nela bobos não há.
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